A verdade

– Mas o que você espera de mim?

(Que você pare de varrer todo esse seu amor pra debaixo do tapete, tentando convencer a si mesmo de que não vale a pena lutar por algo que te toque fundo demais. Que você aprenda a ouvir seu coração, ao menos uma vez na vida, e decida em nome dele ao invés de ouvir todo esse seu medo. Que você não tenha receio de mergulhar em uma história bonita só porque não existe um futuro perfeito neste momento. Não existe futuro pra nada, não há garantia pra amor nenhum. Espero de você um pouco de honestidade com você mesmo, que me fale duzentas vezes o que me dizem seus olhos e as letras das músicas que você me manda, se escondendo atrás desse monstro que você não sabe lidar. Espero que segure firme meu rosto e me beije no meio da rua, na frente de todo mundo. Que dance na chuva comigo. Que me beije o rosto e as mãos, sem se arrepender de mostrar amor. Que me olhe deitado na cama ao meu lado e emaranhe seus dedos nos meus cabelos. Que corra dois dedos pela minha coluna e me beije a nuca enquanto assistimos à alguma coisa na tv. Que me abrace depois do sexo e diga qualquer coisa dessas que você tanto evita. Que explique o que são essas tantas coisas que você gosta em mim e não discorre. Que você desista dessa sua ideia maluca de estudar no Chile, fuga tão certa de mim, desse amor que te invade e te assusta. Que você me espere na porta da minha casa e não me diga absolutamente nada que eu não consiga entender através de um beijo desses de portão. Que você nunca mais me deixe ir embora. Que nunca mais escolha o certo, só porque o errado é loucura demais. Que você seja um pouco egoísta sim, e me peça pra ficar com você, porque é por mim que seu estômago esfria, porque é por mim que você confunde as palavras, porque é em mim que você pensa quando o  coração acelera. Quero ser a primeira coisa que você pensa quando acorda, e a última antes de dormir. Quero atormentar a sua memória com as nossas melhores cenas, como você atormenta a minha. Quero que nunca me tire desse patamar de melhor amor, de melhor desejo, de melhor destino. Quero que nunca se esqueça do quanto sente falta da minha pele e do meu beijo. Quero que pare de desdenhar tudo o que eu te digo, pra ver se me supera mais rápido. Você sabe que não. Você sabe que sou o que você sempre quis, enrolada em um roteiro de Woody Allen. Você sabe que eu tenho tudo o que você vem desejando há muito tempo, e descobriu que é tudo verdade. Quero que pare de varrer tudo isso pra debaixo do tapete e que venha. E me tira o fôlego de novo. E me invade. E não luta. Não luta. Quero tudo isso, enquanto ainda te quero…)
… Nada. Sei que eu não posso esperar nada de você…

 

Silêncio. Ela engole seco o azedo das palavras mastigadas. O coração dele aperta. Guarda coisa demais lá dentro.

Trem

Você está morrendo em mim aos poucos, enquanto acende esse cigarro no canto da sala e finge não perceber.
Enquanto permanece alheia a essa obrigação que eu tenho de te matar aqui dentro pra não me machucar. Enquanto se obriga a anular sentimentos por não poder manifestá-los.
A vida segue um ciclo e o passado é imutável, babe. Só não tente destruir o presente por medo do futuro.
Deixa pra pensar no amanhã depois, menina, a gente já chegou na parte mais funda de tudo isso. Eu sou a sua parte leve, a risada sem compromisso, o coração batendo forte. Sou a sua parte errada e tão certa ao mesmo tempo. Sou teu ponto mais fraco, tua falta de ar, teu amigo, tua volta constante. Aproveita essa coisa bonita que a gente tem enquanto ela ainda existe. Não mate você dentro de mim à toa.
Não quero ser uma estação na sua vida, quero ser a parte divertida do teu trem.

Mania inventada

Você é uma mania inventada, aquele livro que nunca sai da minha cabeceira.
Uma página nova que corre em letras.
Um rabisco no canto direito, uma anotação no rodapé.
Você é o meu próximo capítulo e as páginas amareladas, marcadas pelos dedos de te ler demais. Você é o cheiro de biblioteca misturado ao cheiro de tinta impressa, você é o que gruda, o que fica, você é o que eu leio, o que me digere, você é aquela sensação de sempre querer mais, o nó na garganta de chegar perto do final, você é meu prefácio escondido na dedicatória.
Você é a edição que não esgosta nunca.
Você é o que está impresso aqui dentro e eu sequer tenho algum direito reservado sobre você.

A livraria

Trecho de um post escrito em 02 de Outubro de 2007. Esse é velho hehehe.

 

Então ela vivia assim, pecando e se punindo por nem ao menos ter pecado. Imaginando, todos os dias, o dia em que o cara da livraria fosse chamá-la para tomar um café, subir numa sala vazia, ou simplesmente pegá-la pelos braços no meio da conversa e beijá-la. Mas ela nunca daria o primeiro passo, a não ser tirar a aliança ao saber que iria encontrá-lo.
Tinha sonhos eróticos com ele, vivia com ele em pensamento e se martirizava todas as vezes em que seu marido dizia que a amava. Como poderia amar mulher tão inescrupulosa? E como ela poderia amar dois homens ao mesmo tempo? Parece que agora sabia definitivamente a diferença entre paixão e amor.
E à noite, na cama, seus pensamentos flutuavam sobre a realidade do marido e o mundinho a duas ruas da sua. Sobre o corpo conhecido e o inexplorado. Às vezes a única coisa que queria era que a livraria falisse e sumisse daquele bairro. Ou que comprassem um apartamento na zona norte e se mudassem de lá para sempre.
E então dormia de conchinha com seu marido. Adormecia todas as noites pensando que dormir de conchinha com o homem que iria dividir a vida com ela era simplesmente a melhor coisa do dia. E todos os seus tormentos desapareciam naquela hora e não faziam mais o menor sentido… Até que acordasse novamente no meio da noite.

Claustrofobia de limites

Eu tenho um senso de liberdade muito grande. Mas daquela liberdade com lealdade, não estou falando de libertinagem. Sou filha do mundo, nasci pra ficar descalça com o pé na terra, pra sentir o vento no rosto. Tenho claustrofobia de paredes, muros, limites.
Meu corpo pede adrenalina, endorfina, serotonina, ocitocina, todo esse batalhão de hormônios e enzimas que fazem a vida valer um pouco mais a pena.
Tenho mudado muitos meus parâmetros. Este ano tem sido o ano da avaliação. O que plantei, o que tenho colhido, o quanto isso condiz com quem eu sou, o quanto isso diverge da minha essência, o quanto as coisas têm valido a pena. E ainda não cheguei a muitas conclusões, embora tenha opiniões super racionais sobre mim mesma, sem romantismo nenhum. Foi um primeiro semestre de encontros, literalmente. Essencial, já que eu estava completamente perdida em mim mesma.
Hoje continuo perdida, não me entenda errado. Apenas descobri novos modos de me olhar, novos ângulos. Entendi que nada que me tire da minha essência é imprescindível na minha vida, muito pelo contrário. O que me desvia não me pertence.
Cansei de me perder nas estradas. Cansei de pegar as estradas dos outros, embora achasse serem minhas. Estou novamente, 7 anos depois, na mesma encruzilhada que encarei um dia. É hora de tomar o meu rumo, independente de qualquer distração. É hora de focar no que eu gosto, no que me importa, no que me faz ser quem sou. Hora de ser um pouco mais egoísta e menos altruísta. Por isso ando com essa sede quase insaciável de voltar ou começar a fazer as coisas que sempre quis. E que fique claro que isso não é uma crise dos trinta, já que meu pé está na casa dos trinta e dois. Também não é uma fase. É um quase desespero de ser quem eu sou de verdade: artista, coração, alma livre, corpo em movimento. Adrenalina.
É entrando na minha estrada que encontrarei as verdadeiras pessoas. Quem tiver os mesmos objetivos que eu, lá estará, caminhando ao meu lado.

Sobre o que passa

Queria tanto que você só me pedisse pra não ir, porque muito tempo talvez possa mudar tudo. Queria tanto que dissesse que sentiria minha falta e que pensaria em mim de vez em quando, à noite, quando olhasse para o teto, se perguntando onde eu estou agora. O que estaria fazendo. Se estou bem.
Queria que não fosse tão difícil dizer o que já disse tantas vezes antes, que não quer acabar com isso. Que sente saudade. Que me gosta.
E hoje eu já nem sei mais se tudo isso é verdade, porque o frio me traz a dúvida. E o seu frio me dói. Sei que não deveria, mas já passei muito do ponto de controlar algo que sinto em relação a você. E também não deveria ter passado.
Mas passa também tudo isso, um dia. E um dia, talvez, também não me importem a distância, o esfriamento. Um dia também talvez não me lembre mais de nada e não tenha o que desejar de volta. Um dia talvez tudo se acalme tanto ao ponto de simplesmente passar.
E era assim, assistindo a tudo isso  parado, que não queria que estivesse.
Mas preciso parar de inventar vocês pra mim.

Fortaleza

Eu não sou assim. Não sou de ostentar carências e inseguranças, muito menos gostaria que você conhecesse essa parte minha. Pra você, como para todo mundo, eu sou aquela pessoa cuja força não cessa nunca, aquela que cai um milhão de vezes e levanta sozinha, aquela que aprendeu a tomar murro na cara da vida e continua sorrindo, esperando por um dia melhor. Eu sou aquela que veste a armadura em tempo integral, que não se protege dos ferimentos, mas que arca com a tarefa de limpá-los, estancá-los e deixar que se curem sozinhos. Nunca precisei do apoio de ninguém para tomar as minhas decisões, nunca deixei ninguém me pegar no colo quando as lágrimas caíam. Tudo o que fiz na minha vida foi agir e suportar a reação.
Mas nem mesmo a gente, que é feito de aço, consegue arcar com essa barra de ser forte o tempo todo. Essa obrigação ridícula de ser feliz todos os dias. E isso não significa que não se seja feliz: melancolia, tristeza, vazio são atributos nobres de qualquer coração que pulse. Nobres, pois é preciso ser nobre para mostrá-los e raramente eu o faço.
Ser fortaleza geralmente é uma fuga. Não é a minha sempre, isso eu garanto. A minha fortaleza é feita de força mesmo. Os meus muros, de chatice. De carência, de insegurança, de insistência. Testo os limites de quem se importa comigo para ver se correspondem. Não sou do tipo de gente que se vira do avesso nessas horas, que some e volta renovado. Eu chamo. Eu grito um apelo surdo, uma voz estridente sem som para ver se alguém percebe. Eu vou atrás. Eu fico chata, eu fico muito chata. E nem eu mesma sei suportar a minha chatice.
Mas não pense que me orgulho desse lado obscuro da minha personalidade, não se iluda. Preferia mil vezes ser dessas pessoas ermitãs, que se  isolam do mundo para recolherem os cacos.
A verdade é que se eu me isolasse, me perderia ainda mais. A verdade é que não queria que conhecesse as minhas fraquezas, mas sou exposta demais para escondê-las. Me entenda como um coração humano que de vez em quando dói e não é por culpa de ninguém, senão de mim mesma.  E me cuida quando preciso.

 

 

Amores de estimação

Eu me perdi no meio do caminho e não posso voltar atrás, só sei que tenho que continuar andando. E que começar um caminho novo exige muito mais coragem do que terminar um antigo.
Deixei pedaços de mim presos em uma estrada torta de arame farpado. Agora chego ao meu corpo cru, nu, exposto em carne viva. E meus pedaços, você os conhece bem, já que são tão suficientes em você que dá para montar um quebra-cabeça de mim. Um quebra-coração de mim.
É que a intensidade e a loucura fazem parte da única inspiração que eu sou. Entende que não tem como gostar da inspiração e não querer a intensidade. Sou artista, sou adrenalina, sou o que te corta. Sou verdades cruas espalhadas em ás de espadas numa mesa. Não sei fingir, nunca dei sorte no jogo.
Não empurra assim, não faz pouco caso do que é tão raro e é seu. Que não sirva agora, a gente sabe, mas vai voltar um dia. Porque eu tenho aquele algo a mais que você sempre procurou na superficialidade alheia. Porque eu mexo lá no seu fundo. Ou talvez eu esteja delirando dentro de uma ilusão, amores de estimação muito bem alimentados. Talvez tudo isso seja ego. E o que vem do ego é egoísmo. Não desdenha, não finge que não existe, não finge que eu não sou nada. Não me deixe chegar perto do pensamento de que não merece um fiapo do que tenho aqui dentro.