Eu sei que a vida não foi gentil contigo. Eu sei que você teve o coração destruído algumas vezes. Também sei que há pouco a vida te mastigou vagarosamente os ossos, os nervos e tudo o que você tem por dentro e te cuspiu cheio de dores, medos e sofrimento. Eu sei. Eu segurei a tua mão nos últimos 365 dias, eu sempre estive ali. Eu fiz bolo de chocolate e te levei flores, eu tentei tanto te fazer sorrir, eu quis amenizar um pouco, ainda que em toda a minha insignificância, todos esses dias ruins. Você sabe. Eu segurei tua mão pelos últimos 2000 dias.
Eu te levanto sempre que você cai, a gente sabe. E é tão natural que você vem quando precisa. Quando batem os medos, quando tem insegurança, quando há solidão. Você vem quando precisa e eu não titubeio um minuto porque te quero feliz e tenho amor sempre sobrando. E então você vem quando precisa, mas quando não precisa, você vai. E eu tento me convencer de que as pessoas são assim mesmo, de que talvez eu tenha um ímã filantrópico que atraia as pessoas para que elas se curem em mim e depois se vão.
Mas, às vezes, não precisa ser como é. Às vezes, machuca um pouco, não muito, mas machuca. Machucam a indiferença, a falta de carinho e as respostas atravessadas.
Eu sei que, dia após dia, um milhão de pessoas interessantes cruzam teu caminho. E o meu também. Eu sei que é tão fácil se encantar pelo novo quanto se desencantar pelo velho. Eu sei que muitas vezes você não pensa em mim. Talvez você até se esqueça do calor da minha mão. Mas a gente sabe que a gente sempre volta. Por algum motivo, a gente sempre volta. E eu não quero nunca suspeitar que seja por necessidade, porque necessidade não é amor.
Quando não houver mais tanto amor, quando teus olhos forem ofuscados pelas qualidades dos outros e as minhas ficarem bem escurecidas, quando os meus defeitos começarem a gritar, me deixe ao menos na prateleira dos melhores amigos. Lembre-se de todas as vezes em que segurei a tua mão, do quanto tentei te fazer sorrir e do tanto que insisti para que se sentisse amado. Quando tudo em mim se apagar, quero que se lembre de que eu sempre estive aqui.