Moça da cidade

Moça de cidade grande está acostumada com trânsito, com boates, restaurantes, bares, cultura a mil por hora, teatros, cinemas, shopping centers. Moça de cidade grande vê verde na árvore da esquina, no máximo no parque – um pouquinho maior, vê vida além da humana em forma de passarinho, pernilongo e mosca. Tem tudo o que quer, anda de carro pra cima e pra baixo, faz dinheiro, academia. Como diria Seu Jorge “vai no cabelereiro, no esteticista, malha o dia inteiro, vida de artista”. Bem por aí.
Eis que surgiu a idéia de se mudar para o interior. Achou lindo, a moça da cidade. Achou que fosse ser feliz assando bolo numa terça-feira à tarde, fazendo compota de cranberries silvestres. Achou que ia ser memorável, sim – memorável, morar em terra de Rainha e ver ganso real voando no céu.
Na verdade agora a moça da cidade mora no interior, em uma cidade nem tão pequena, mas incomparável com a grandeza da cidade grande de onde veio. Diz que ainda é lindo morar em terra de Príncipe loiro. Diz que tem raposa no jardim, que dá comida pra esquilo, que vê até pato voando e jura que ele vai cair e morrer. A moça vê verde a perder de vista, tem aranha entrando em casa, acorda com o canto de passarinhos às cinco da manhã.
Moça da cidade achou que seria incrível morar com neve, mas queria neve só de um dia. Achou maravilhoso um dia que tivesse dezesseis horas de sol, mas reclamou da claridade às quatro da manhã. O canto de passarinho já virava uma putaria, e ela levantava às cinco pra espantar os corvos. Ela continua em casa, o dia inteiro, no interior da terra da tal da Rainha que não fede nem cheira. Não faz bolos porque engorda. Não faz compota porque nunca viu as porcarias das cranberries. Vai no mercado a pé porque não tem carro, caminha como uma condenada e carrega cinquenta e três sacolas. Pesadas. Não vai na esteticista nem no cabelereiro porque acha o olho da cara. Não faz a mão nem o pé há três meses. Já acha as raposas umas vadias e os esquilos uns pentelhos. Os homens são bichas, as mulheres são putas. O Príncipe loiro? É bicha. O Primeiro ministro? É bicha. O apresentador da tv? É bicha. Aquela menina ali? É puta. Xinga a ilha da Rainha, a porra da ilha que só chove. Tem certeza que o povo fez alguma merda muito grande pra merecer essa bosta de tempo. Neve? Pra puta que pariu a neve.
E porque não volta pra cidade grande? Porque o amor é cego e burro. Porque tem um príncipe melhor que o loiro, disfarçado de classe média, jogado no sofá. E por ele, ela atura até o viado do pato voando.

Papa-Capim

Como é bom saber que ainda existem índios isolados, longe da cultura ocidental, índios que não falam português, não usam calças, não têm televisões. E não me venham com apartheid cultural. É muito mais uma questão de preservação das tradições e da cultura indígena. Quer coisa mais ridícula do que índio vestindo camiseta de deputado??? Prefiro que continuem assim, perdidos na Amazônia para sempre. Como deveriam estar há mais de 500 anos…

Leia (em inglês): First photos of uncontacted tribe

Sem cidadania

Hoje o Ashley disse que eu tenho sotaque de Trinidade e Tobago… cara, eu não sei nem que tipo de pessoa mora lá!! Mas pelo menos a língua oficial é inglês (wikipedia, baby), então meu inglês tá podendo… com um sotaquezinho indefinido, mas tá podendo.

Aqui meu sotaque virou loteria. Quando alguém diz alguma coisa tipo “your accent” eu já aposto comigo mesma que país vai ser. O mais engraçado é que eu confundo as pessoas. Porque meu inglês é fluente, mas meu sotaque é britânico, só que obviamente não é perfeito. Fica complicado pro povo, porque a pequena criatura aqui fala inglês com sotaque britânico indefinido. Já chutaram África do Sul, Nova Zelândia (e eu não falo good daaaai!!!!), Jamaica (acho que tô ouvindo muito Bob), agora Trinidade e Tobago… Tudo colônia Britânica… E aí, quando eu falo francês a professora diz que eu falo francês com sotaque britânico. Tô me achando muito globalizada.

E com vocês: O arroz!!!

Bom, vocês sabem que eu e o arroz branco nunca nos entendemos. Minha comida é – modéstia à parte – muuuuito boa, mas quando tem um arroz pra acompanhar… ele também fica muito bom, mas como já disse, vem no esquema “unidos venceremos”.
Aqui eu tentei achar o arroz parabolizado, mas não encontrei de jeito nenhum. E justo hoje marido resolveu pedir estrogonofe de frango para o jantar. Eu só tenho arroz integral em casa, e ele não come nem amarrado… Então fui na “venda” (tipo interioooorrrr dos anos 60) e comprei um arroz que dizia “easy cook”. Aleluia, aleluiaaaaa!!!! O arroz tem uma bagaça que não deixa ele grudar!!!! Tá, não parece muito natural isso, mas na verdade, o que está escrito no pacote é que ele recebe um jato de vapor ainda cru, e isso fixa o amido. Bom, sei lá, só sei que não grudou de jeito nenhum!!! O sabor dele ainda não é igual ao que a gente faz no Brasil, mas tá muuuuuuuito mais perto do que meu “bloco de carnaval”!!!!! Por enquanto vai esse mesmo com o estrogonofe!!! 🙂

Medo

Tô arrepiada…

Leia: Mulher ressuscita 17 horas depois de ataque cardíaco

Tico e Teco

Tô falando pro David que de duas uma… ou um dia eu vou entrar na cozinha e um deles vai estar lá dentro, ou um dia eu vou ouvir um knock-knock na janela e eles vão dizer “gimme some nuuuuuts”.
O problema é que o Chip – o que tá olhando pra gente – sabe que a fonte de alimentos do jardim vem daqui. Ele procura no jardim lá embaixo e olha pra nossa cara como se dissesse “não tô achando”… Já falei que vou treinar ele pra obedecer comandos do tipo “to the left”, “to the right”.
Então, como o senhorzinho aí (ou senhorinha, porque não dá pra saber) tem certeza de que aqui é o estoque de hazelnuts, um dia ele vai bater na janela.
O Dale ainda não se tocou, olha só a pose do bacana… gordo de avelã. O Chip é uma figura… quem vê a reação dele quando a gente joga hazelnut ou semente de abóbora daqui de cima, não acredita no que os olhos vêem. Ele parece um macaquinho, pulando de um lado pro outro e olhando pra cima, como se agradecesse aos céus a chuva de comida!!
Tá, vocês devem estar se perguntando “como que essa mini-criatura sabe qual é um, qual é o outro????”. Simples. O Dale é gordo e maior (o que me leva a crer que o Chip é A Chip), ele tem a beira do rabo mais branca e a cara vermelha. O Chip não. O Chip é hiperativo, parece que tomou efedrina, é mais cinza e não tem a cara tão vermelha quanto o Dale. E eles tem rotas diferentes para o nosso telhado. O Chip vem por essa árvore aí, perto do quarto… O Dale sobe a calha do outro lado do telhado (à direita), perto da cozinha. Simples.

Detalhe: essa foto É da minha janela. O telhadinho é o telhadinho DEBAIXO da janela. Tô falando…

Gimme a little bit more…

– E aí, tudo bem?

– Tudo… tirando o que tá ruim, tá bom.

Ç~^´`!!!!!!!

Pausa para euforia pós-teclado-arrumado.

Português, bem vindo à mama, meu filhote!!!!!!!!!!!!!!