Essa semana fez apenas seis meses que eu voltei do Brasil, na minha última viagem. E é impressionante o quanto isso parece mais com um ano e meio do que apenas seis meses.
Quando começo a chegar nessa margem, meu coração aperta. Um dia de domingo assim me dá uma nostalgia de um passado que não volta mais e uma saudade de fazer coisas corriqueiras que estaria fazendo na Vila Madalena agora.
A nostalgia fica nos almoços de domingo, na casa dos meus avós. Era estritamente tradicional. Chegávamos lá por volta das 11:30 e domingo era dia de macarronada e frango assado. Sem tirar nem por. Muito raramente havia uma variação, mas era muito raramente.
Às vezes eu encontrava minha mãe lá, ia com o meu carro depois de sair do clube.
Tudo começava com os aperitivos do vovô, que variava entre mandioca frita, polenta, amendoins e erva-doce temperada. E ele acompanhava com um shot de cachaça com limão.
Nessa fase eles já estavam velhinhos, vovó nem cozinhava mais. Quem fazia o molho de tomates era a Graça, a moça que cuidava da casa e da vovó. E era uma delícia, feito de tomates frescos extra maduros da feira. O frango assado a gente geralmente levava. E a sobremesa, como sempre foi na casa dos meus avós desde que me conheço por gente, era fruta. Vovó não passava um domingo sem comer melancia depois do almoço. E vovô geralmente terminava com uma manga.
Pra acompanhar, muito vinho e pão italiano. E guaraná, pra dar uma abrasileirada na cena italianona.
Depois do almoço íamos eu, minha irmã e minha mãe para a sala de televisão. Vovô e vovó subiam para dormir um pouquinho.
Esperávamos eles acordarem, assistindo alguma coisa boba como “Sandy e Junior”, “Família Dinossauro” ou algo do gênero, enquanto a Graça passava um café fresquinho, coado no coador de pano que a vovó tinha há anos. O cheiro embriagava.
Eles acordavam e tomávamos café com Bis. Putz, como isso era bom. Como eu tenho saudade disso.
Domingos como o de hoje, com chuva incessante, me dão vontade de arrancar coisas de dentro de mim e fazer com que elas voltem a ser como antes.
Domingo em casa era dia de caminhar no Villa-Lobos ou no Ibirapuera com a mamãe e o Billy. Depois que vovô e vovó morreram, eu fiquei responsável pelo molho de tomates. E garanto que o meu é quase tão bom. Tanto que minha irmã me fez congelá-lo antes de ir embora.
Sinto falta de caminhar no parque com a mamãe, de estar com ela toda hora. De trocarmos a macarronada pelo café da manhã da padaria Santa Etienne. De passearmos pela Vila com o Billy, com direito a cafézinho e brigadeiro do Amor aos Pedaços. Sinto muita falta de num dia assim, ir com a mamãe no shopping ou simplesmente no sapateiro.
Sinto falta de ir com a minha irmã no japonês da esquina, no Sangallo (que nem existe mais), na feira da Vila que sempre acontece num dia de calor insuportável. Sinto falta de ouvir o trio da Vila Madalena passando, olhar pra ela e sem dizer uma palavra, se trocar e descer pra seguir o samba. Sinto falta da gente de pijama o dia todo, deitadas no sofá, o Billy deitado na minha barriga com o fucinho encostado no meu rosto. Minha irmã implorando pra pedirmos pizza do Bráz.
Acho que estou precisando urgentemente de outra ida ao Brasil. Vai ser tudo tão diferente, minha irmã nem está mais morando em casa. Mas tenho certeza que mesmo sendo diferente, vai ser exatamente do mesmo jeito. Eu, mamãe, Ká e Billy. O que a gente chama de “Momento Família”.

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