Finalmente…

… gente com um pouco de bom senso no Brasil.

Cliquem AQUI.

O Teatro Mágico

Alguém aí já ouviu “O Teatro Mágico”? Eu conhecia por nome, até que minha irmã me fez ouvir…. é tão bom!!! São músicas deliciosas, cheias de poesia, muito diferente do que se vê por aí! Eu estou apaixonada!

Uma das minhas músicas preferidas é “Cuida de mim”. Coloquei um video meio tosco do youtube pra vocês, mas ouçam a música. E se quiserem, naveguem pelas músicas deles… cada uma tem frases que você até pára de respirar.

Momento ocioso

Eu tô louca pra preencher meu ócio de criatividade. E estou esperando ansiosamente o marido tirar o violão espanhol do sótão da casa do pai pra eu testar uns acordes. Sempre tive vontade de tocar violão, é muito mais prático do que piano!! E eu posso levar onde quiser, fazer lual na praia (cof, cof… muda pra Austrália, amiga!), cantar MPB! Enfim, algo pra espantar os males… espero que ele traga logo pra casa!
Além disso tenho tentado escrever um pouco mais, mas minha imaginação anda meio bloqueada. Queria sentar na Starbucks e escrever um Harry Potter. Mas não consigo me desviar do fato de que quero um emprego logo, então no meio do caos imaginário a realidade vem e estraga tudo! Talvez por isso minha fase mais criativa tenha sido minha adolescência… falta de problemas, mente livre!!! Quem sabe mais alguns dias de tentativas rendam alguma coisa mais séria!
Sinto falta do meu carro. Das aulas de dança. Do Parque Villa Lobos. Falta de ter o que fazer, mesmo quando não se tem muito planejamento. Aqui a cidade é pequena, não tem muita opção, não dá pra ir no centro (entenda-se pela High Street unicamente) toda hora. Fora que tem chovido todo santo dia, em doses homeopáticas. Faz duas horas que tento sair de casa pra ir à academia. Quando pego a bolsa, pronto, água na janela. Meu guarda-chuva quebrou no último “chuvento”, não vou arriscar um “não sou de açúcar” depois da bela gripe… Chove cinco minutos, pára por dois, chove mais cinco, e por aí vai. Como uma boa e velha ilha…

Verão, que verão?

16 graus Celsius em Reading. 19 em São Paulo….

Aniversário do marido

Hoje é aniversário do gringo. 35 aninhos!!
E eu aqui com meus botões tentando bolar um jantar mega ultra pra nós dois, já que o dinheiro tá curto pra sair pra jantar…

Ontem ele fuçou meu livro do Jamie Oliver e escolheu nada menos do que uma macarronada com caranguejo. Pediu pra eu ir até o peixeiro comprar caranguejo vivo!!! Vê se eu posso, o cara acha que eu sou chef! Tá bom que eu vou voltar com neguinho se mexendo na sacola… e sendo eu, tá mais pra eu adotar um novo “pet” ou sair na rua gritando, com caranguejo pinçado na bunda. “Dá uma martelada na cabeça dele!” Hahahaha. Se eu martelar a cabeça dele eu martelo a carne. Tô mais pra comprar kani. Daqui a pouco ele me manda pro “Pesca Mortal”.

Happy Birthday husbandinhoooo!!! I love you more than anything else in this world! Wish you a long, joyfull, wealthy, happy prosper life, with me beside! Te amo muito! Feliz Aniversário!

O senhor de branco

Tinha mais de setenta anos, com certeza. Ou talvez oitenta e poucos. O que sei é que ficava muito bonito de branco.
Ele sentava-se todos os dias, por volta das quatro da tarde, no banco da praça que ficava na frente de sua casa. Trazia sempre um livro, um jornal e uma caixinha metálica, quase enferrujada.
Tinha muitas rugas pelo rosto, a pele morena, manchas senis nos braços e nas mãos enrugadas. Pouco cabelo, todos eles brancos, assim como o discreto bigode. Usava óculos, de armação larga, escondendo um pouco seus grandes olhos castanhos, meio turvos pela catarata. Tinha um nariz protuberante, um sorriso macio, voz forte e uma doce gargalhada.
No inverno ficava ainda mais charmoso. Usava boinas diferentes e suspensórios. Sempre tão elegante e tão simples.
Quando se sentava no banco da praça, o mundo parava. Aquele era seu único momento, livre de qualquer julgamento. Eu não sabia o que acontecia na sua vida, não sabia se tinha esposa, filhos, netos ou bisnetos. Também não me importava muito, já que eu gostava de observá-lo naquele espaço único de tempo, que se repetia como uma rotina perfeita. Quatro em ponto, só não vinha quando chovia torrencialmente.
Seus atos eram previsíveis para quem já o conhecia, ou o via de longe. Abria a caixinha metálica e tirava de lá palha de milho. Colocava cuidadosamente fumo de corda, enrolava a palha e amarrava com uma fitinha. Acendia uma das pontas e tragava com muito carinho. Abria o jornal e o lia rapidamente. Com mais cuidado e atenção lia o livro, o qual nunca consegui identificar de longe.
Passava lá algumas horas e às vezes se desconcentrava com um cachorro, um passarinho ou uma borboleta. Prestava uma atenção incrível em cenas como estas. Um dia o peguei olhando para o céu e sorrindo. Olhei também e vi nuvens cor de rosa que teimavam em fazer formas diferentes. Há tantos anos que eu não olhava para o céu às quatro da tarde!
Os cachorros pareciam uma grande paixão. Quando não se aproximavam por vontade, eram chamados por ele. E ele fazia tanta festa! Conversava com os animais, os afagava e morria de rir! Ainda tentava puxar uma conversa ou outra com seus donos, era majestoso com a palavra e os causos. Mas nem todo mundo o levava à sério.
Depois de tantos meses, resolvi um dia me aproximar. Cheguei perto devagarzinho e me sentei ao seu lado sem dizer nada. Ele me olhou e sorriu. Perguntou se eu queria um cigarro ou amendoim. Eu disse que não, e sorri de volta.
Foram tantas as tardes de conversa. Descobri que seu nome era José. Era filho de italianos que vieram à São Paulo há muitos anos. Descobri que era casado com uma senhora muito bonita, a qual ele chamava de “grega”, tinha quatro filhos e oito netos.
Ele me contou da infância na fazenda e dos momentos de guerra. Me ensinou a cuidar de rosas e a fazer polenta assada. Me falou de sua paixão por praia e por mandioca frita com caipirinha. Me contou que já fora frentista, mecânico e barbeiro. Disse que todo ano pescava no mar e ia à Igreja com sua esposa no aniversário de casamento.
Em tantas quatro da tarde ele me ensinou tanta coisa. Me contou tantas histórias que preenchiam seus oitenta e nove anos. Sim, oitenta e nove, descobri. Não parecia, pois tinha coração e alma de menino, e falava como um simples sábio.
Entre cigarros de palha, amendoins japoneses e café frio, conversamos por meses. E só depois de muito tempo que lhe perguntei que livro lia. Disse ser “O livro dos espíritos”, de Alan Kardec. Foi então que ele pegou na minha mão, com aquelas mãos calejadas de vida, e me disse com a sabedoria mais simples e humilde que já senti: “Um homem velho tem que cuidar do presente e da mente, menina, por isso o jornal. Tem de celebrar o passado com gosto, por isso o cigarro de palha. E tem que, acima de tudo, cuidar do futuro. Por isso leio Kardec.”
Nunca me esqueço desse senhor. Em nenhum dia da minha vida. Da última vez que o vi ele me disse pra não chorar porque tudo haveria de ficar bem.

* Para meu avô, com a maior saudade que alguém pode sentir nessa vida.

Um dia de Madonna

Eram dez da manhã de um típico dia de verão. Anita acordou cedo, como era de costume. Tinha muita coisa pra fazer naquele dia que parecia ser tão normal pra qualquer pessoa, menos para ela.
Fez café coado na hora e atacou um pedaço de cheesecake de padaria na geladeira. Hoje não seria o dia de cereal integral, iogurte e mamão. Era seu aniversário de trinta anos.
Meu Deus, como o tempo passou rápido. Tantas imagens vieram na sua mente, o aniversário de vinte parece que foi ontem! Lembra quando entrou na faculdade? Já passaram doze anos, Anita!! Doze anos! Engraçado que ela não sentia o peso da idade… ainda não via rugas, nem pés de galinha. Seus seios talvez estivessem um pouco mais caídos, mas era abençoada por fazer parte da geração silicone. Mais alguns meses fazendo hora extra no jornal renderiam gloriosos 300 mililitros de cada lado!
Se sentia diferente hoje. Como se um número, uma volta da Terra mudassem tudo. Sentia como se não devesse nada a ninguém. Por isso colocou seu vestido verde com um belo decote, coisa que nunca, em outra idade, usaria pra trabalhar. Se maquiou generosamente, mas ainda assim deixando um ar de naturalidade. Usou aquele batom framboesa que temia há tantos meses, afinal, nunca se sentia bem de lábios cor de rosa. E, claro, seu perfume da sorte, guardado só pra ocasiões especiais e noturnas.
Saiu de casa a caminho do trabalho, dirigindo seu Corsa azul pelas ruas da Vila Mariana. Um acidente na 23 de Maio deixou tudo parado, mas ela não se importaria se chegasse um pouco atrasada hoje. Ligou o rádio, nada de inspirador, colocou seu cd preferido. Madonna, The Immaculate Collection. Passou pra faixa 4 e aumentou o máximo que pode. Abriu o vidro do carro, porque queria que todo mundo ouvisse e entendesse a mensagem.  “Don´t go for second best baby, put your love to the test”!!!
Nesse dia ela nem ligou para os vendedores de bala que lhe olhavam com a maior cara de interrogação possível. Riu achando que todo mundo em volta provavelmente estaria pensando que teve uma noite de sexo incrível, enquanto a boa verdade eram seus 30 anos.
Cantou o mais alto que pode porque era tudo o que queria dizer naquele momento. Precisava tomar uma decisão hoje.
Anita tinha um relacionamento com um cara do trabalho, Beto, aquele cafajeste de todo departamento. Moreno, alto, bonito e sensual. Talvez ele fosse a solução dos seus problemas… por um tempo, mas agora já não tinha mais futuro. Não queria mais um cara que resolvesse seus problemas sexuais e não ligasse quando estivesse doente. “Sateen sheets are very romantic, what happens when you´re not in bed!!”, gritou com Madonna.
Assim que chegou à redação, chamou Beto pra um café. Ele percorreu os olhos por ela, com aquele vestido verde e aquele decote. Ela conhecia bem aquele olhar e era dele que estava farta. Beto ficou um pouco desconsolado com a nova notícia, mas não deu o braço a torcer por um relacionamento mais maduro.
Anita trabalhou feliz como nunca. Ganhou bolo da chefe, presentes e cartões. Almoçou com as amigas da faculdade e ligou pra todas as meninas solteiras promovendo uma noite regada à champagne ou tequila, se preferissem.
No final do dia passou na casa da mãe, na floricultura e na massagista, afinal era seu dia. Tirou o vestido infalível do armário, aquele cinza escuro tomara-que-caia. Tomou banho de banheira com velas e incenso, “what you need is a big strong hand to lift you to a higher ground!! Make you feel like a queen on a throne, make him love you till you can´t come down!!” Fez uma maquiagem poderosa e esperou a carona das meninas.
Acabaram a noite num pub australiano, ao som de uma ótima banda de garagem, cantando sucessos de pop rock antigos, da época em que todas elas saíam nas noites paulistanas à caça. Hoje só queriam dançar, cantar alto e brindar. Anita lavou a alma de tequila, de melhores amigas, de olhares vorazes, de gargalhadas. Sentiu o poder de um vestido tomara-que-caia em um corpo balzaquiano, o sabor da tequila em um paladar mair refinado, a delícia de ter história pra contar.
Namorado? Hoje não. Nem lipoaspiração, nem silicone, nem nada. Queria voltar aos tempos em que ainda não tinha certeza de nada. E esse tempo começava hoje. “You deserve the best in life, so if the time isn´t right then move on! Second best is never enough, you´ll do much better on your own” Alguém já tinha dito… a vida não começa aos trinta, mas que fica muito mais divertida, ah fica.

Adultescência

Às vezes eu sinto falta de acreditar mais nas coisas. Sabe quando você jurava por tudo o que era mais sagrado no mundo que quem deixava seu presente embaixo da árvore ERA o Papai Noel?? Esse tipo de coisa. Claro que não vou me pegar agora, nessa altura do campeonato, tentando acreditar em coelhinho da Páscoa. Mas sinto falta de ser mais boba.
Tenho uma amiga inglesa aqui que é dez anos mais nova que eu. Não é nenhuma menininha, mas é boba que só. Também não é burra, só é de uma ingenuidade que eu nunca vi na vida. Desligada que só ela… Eu mandei um torpedo dizendo “I´m on Tamiflu” e ela me respondeu “uau amiga, o que é isso? parece tão exótico!!” Eu me mato de rir, né… Vou fazer o que?
Mas eu bem que queria ter um pouco mais dessa ingenuidade, esse desligamento do mundo real. Desde que me mudei de mala e cuia pra Inglaterra, desde que resolvi botar a cara na mundo, virei uma pessoa séria, racional. Sou 100% cabeça… e coração, só quando convém.
E eu acho que eu costumava ser mais coração… As coisas faziam menos sentido, mas eram mais coloridas. E se não fizessem sentido também, quem é que se importava? O tempo passava devagar o suficiente para olhar as nuvens correndo no céu ou acompanhar uma trilha de formiga. Se eu quisesse muito alguma coisa, era bem fácil de resolver. Pedia pra fada do dente. Ou pro gnomo do jardim em troca de uma maçã. Ou pro próprio velhinho barbudo. Tudo tinha uma solução e – o que é melhor – essa solução nunca partia de mim. Alguém criava um problema e criava uma solução. E quando eu me dava conta tudo já tinha passado, como um assopro de machucado. Quando casar, passa. Passa nada.
Acho que a gente perde muito a magia da ingenuidade ao longo da vida. As coisas continuam sem fazer muito sentido, mas se eu fizer alguma coisa errada eu não vou de castigo, eu vou ser processada ou ir pra cadeia, ou qualquer coisa do gênero. Os preços a serem pagos são muito maiores e não tem ninguém pra resolver por você.  Você é adulto com A maiúsculo, igual àqueles chatos que iam na sua festinha e ficavam só conversando ao invés de brincarem.
E como se tudo isso já não bastasse, a gente ainda liga a tv e compra jornal pra ver notícia. Pra deixar a vida ainda mais pesada, porque a gente tem que se atualizar. Preferia ser que nem minha amiga e descobrir o que é Tamiflu só se precisasse dele… eu já sabia bem antes de começar a tomar! Tá certo que o conhecimento é importante, cultura geral e blá blá blá. Mas juro que quando o telejornal começa, ou quando chega uma conta pelo correio, eu tenho vontade é  de sair correndo pro balanço do jardim. Resolve pra mim, fada do dente.