Sabe, eu passei um bom tempo tentando cuidar de você. Tentando ler teus dias como pequenos poemas tristes que eu revisava para encontrar palavras mais bonitas. Eu queria te enfeitar. Eu te dei tudo o que eu tinha, minha dedicação não hesitou por um segundo sequer.
Sinto falta do brilho nos teus olhos e daquela tua alegria espontânea, e isso não é egoísmo meu. Acho que o mundo perde um bocado de cor sem eles.
Eu sempre vi tanta coisa bonita em você, menina. Talvez muito mais do que você mesma tenha enxergado entre as suas frases derrotistas que insistem em ecoar pelas esquinas. Eu te disse para consertar teus pedaços com os meus inteiros.
Estou aqui, olha, sentado na mesma mesa que você, olhando dentro dos teus olhos que, ora são um pedido de ajuda, ora pequenas faíscas de tudo o que a gente viveu. Tento me apegar às faíscas, afinal, eu ainda gosto de você. Mas elas são arredias, quase indomáveis. Ao menor sinal de entrega, teus olhos desviam dos meus novamente e eu entendo que não é mais o momento.
Eu quis tanto te ajudar e achei que talvez um pouco do meu amor te aliviasse. Quanta ingenuidade minha. Teu coração é pedra e eu não aguento mais tentar. Sei que em breve machucarei minha fluidez ao insistir em corroer teus muros.
A verdade é que eu tentei colar teus cacos com partes minhas e acabei colando alguns em mim. A gente se engana achando que não espera nada, a gente sempre espera. Eu esperava um pouco desse amor seu que eu sempre tive. Um pouco da dedicação, do desejo, de elogios, do cuidado também. Um pouco que me fizesse sentir que tudo bem, você não pode me dar mais nada agora, mas lá no fundo a gente não morreu, lá dentro, eu ainda sou quem eu sempre fui para você.
Eu sei que eu não deveria me machucar e, honestamente, não coloco um pingo de culpa nessa minha auto estima tão conturbada. Não sou eu, é você. Essa briga é tua, essa batalha é tua. Mas a importância que eu te dou na minha vida vai acabar me ferindo.
Talvez seja hora mesmo de te tirar do coração. Olhando para trás, seus nãos comigo foram muito mais constantes que os sins. Eu achava que eu andava em inteiros, mas talvez também esteja em pedaços, tentando remendar em mim um amor que não existe mais.