Talvez ela fosse exatamente como eu. Ou não. Talvez dividíssemos apenas uma coisa em comum. Ou não.
***
Ela era bonitinha, interessantinha e todas essas outras coisas que todas nós podemos ser. Mas diziam que tinha um auto-controle invejável. E, para ele, isso a diferenciava de todo mundo; inclusive de mim, que sou louca, ciumenta, confusa e não controlo nem mesmo meu cabelo.***
E ouso dizer que estou bem assim, tô numa boa assim. Me conheço melhor que qualquer outra pessoa no mundo e, hoje em dia, isso é uma vantagem para poucos. Toda essa loucura minha é meu não-muro, meu não-limite, meu não-rótulo. Não sei lidar com o medíocre, não sei me atar.
Não tenho meio-termo, diz-que-diz, não-me-toques. Comigo é simples assim: ou vicia ou bebe leite.
Mês: novembro 2010
Joana-Inn
Depois de passar a tarde com uma joaninha dentro da minha sala, às 22h ele diz:
– Ih, olha, mais uma! Estão no abajur as duas, vem ver.
– Oooooun, a gente tá criando um travelodge de joaninha no abajur!!!
– É, olha, aquela ali tá se espreguiçando pra dormir.
– Avisa que não é bed & breakfast, babe…
E os dois passaram um tempão observando as joaninhas. Queria ter mini-cobertores nessas horas.
Passarinho
Encontrei um banco vazio no meio do parque e me sentei. Havia uma menininha lendo um livro ao meu lado, enquanto todas as outras crianças corriam para brincar. Eu, então, resolvi perguntar:
– Por que você não vai brincar com as outras crianças também?
– Ainda não terminei de ler meu livro… Por que você não vai brincar com os outros adultos?
– É que adultos são pessoas. E pessoas decepcionam.
E então a menina fechou o livro, colocou sua pequena mão sobre a minha perna e disse olhando fundo nos meus olhos:
– Não é verdade que as pessoas te decepcionam. É que você é quem espera demais delas. Você não aprendeu a ser passarinho.
E antes que eu voltasse a perguntar indignada alguma outra coisa, ela continuou:
– Você tem que deixar as pessoas serem passarinhos, cultivar uma casinha com bastante alpiste dentro de você e deixar que elas venham. Mas tem que saber deixar que elas voem também. E não adianta nada deixar os outros serem passarinhos se você não se permitir ser um também. Tem que aprender a voar, a ir e vir.
Ela deixou o livro sobre o banco e saiu correndo para brincar com as outras crianças. E o que eu posso dizer da menina é que talvez tenha sido o ser humano mais sábio que já sentou ao meu lado.
Ela tinha mania
Ela tinha mania de idealizar. Mas pior do que isso era sua imaginação, isso sim a levava para um abismo que não existe. Era como estar sob efeito de ópio, e talvez seja essa a sensação que a faz viciar em tudo o que idealiza e imagina. Lá dentro, todo mundo queria o que ela quisesse que quisessem.
O problema é que o que pulsava o sangue acontecia dentro da cabeça dela. A vida era dentro da cabeça dela. Você era dentro da cabeça dela.
E ela tem saudade do que nunca aconteceu, só que não sabe muito bem o que fazer com saudades.
Pedacinho
É que tenho um pedacinho muito especial para alguém, e queria que fosse um pedação, mas não pode, e esse alguém não quer, talvez por medo de tanta responsabilidade – essa de cuidar de corações machucados, e eu não sei fazer vontade de pedacinhos virarem pedacinhos ainda menores, porque tenho essa mania de grandeza e escuta aqui dentro do meu peito, você, não sei mais voltar atrás.
Pra bom entendedor
Ontem, depois de uns VINTE minutos:
– Put more pressure, babe…
– You´re having a fucking laugh!?? Do you think my tongue does weight lifting?
HAHAHA, ainda dou risada sozinha disso. #cheeky
A tarde é vermelha
A tarde é vermelha. E o frio rasga a pele.
Quase todos os dias olho para o céu deste lugar e tenho um segundo de lucidez dentro da loucura, dentro da rotina. Meu Deus, estou do outro lado do mundo, olha. Olha como a grama é verde e o sol não esquenta. Olha o esquilo subindo a árvore, o falcão sobrevoando seu jardim. Olha as folhas secas em tons de fogo por todos os lados, anunciando a partida do outono. Olha os galhos secos que dão boas vindas à fase mais difícil do hemisfério norte. Meu Deus, estou do outro lado do mundo. E a tarde é vermelha. As cores são diferentes. O frio me rasga o rosto. E eu sorrio. Sorrio porque nem sempre me dou conta de onde estou. Home is not where you were born, but where you belong.
A loucura da lucidez da rotina. A rotina da lucidez da loucura. Creio que caminhamos demais olhando para a terra. E nos esquecemos do quanto o céu pode nos mostrar onde estamos.
Love is real
O amor é real.
É essa folha de papel de seda com a qual embrulhei meu coração
E guardei dentro desta caixa para te dar.
Olha, cuida bem do meu coração
Porque te entrego sabendo que pode quebrar
E não quero ter de cuidar da dor, além do amor.***
O amor é real.
Está bem aí na sua frente
E querer fugir dele é como fugir da morte
Não faz o menor sentido.***
O maior problema do amor
É que ele precisa das pessoas
E geralmente elas não sabem o que fazer com ele.
***Love is real.
I see it when I look into your eyes
And see me.