Pois é, eu comecei na Beaverbrooks faz 10 dias. E vou te contar uma coisa, quase pedi demissão no quinto dia.
Na verdade eu comecei numa semana final de liquidação, completamente louca, sem ter ninguém pra me ensinar nada e tendo que tentar resolver tudo o que eu nunca vi na vida sozinha. Além disso, como se não bastasse, a minha gerente é de Liverpool (o único sotaque britânico que eu não entendo lhufas) e acabamos nos estranhando, porque eu não entendo o que ela fala e e ela acha que eu não sei do que ela tá falando. Tive que conversar com ela a respeito e ela me disse que vai falar mais devagar, mas meu problema não é esse, vou precisar me acostumar com o sotaque dela e isso leva tempo. Por causa de todo esse auê, ela acabou ficando meio puta comigo enquanto eu não entendia o que ela dizia e começou a me hostilizar.
No domingo, quando ela me comparou com a Nicola, eu surtei. Odeio comparações. Ela disse que a Nicola tá pegando tudo mais rápido que eu. Claro, a Nicola já trabalhou com ouro e diamantes, começou na loja num domingo, onde todo mundo pode mostrar coisas pra ela, enquanto eu não tenho background nenhum em jóia de verdade e não tive um tutor sequer durante a primeira semana comigo. Além disso, é meio óbvio que uma pessoa inglesa vá pegar as coisas mais facilmente, existem palavras relacionadas com jóias que eu nunca nem ouvi na vida. É minha segunda língua, não a primeira. Acho meio óbvio o fato de eu ter sido promovida pra subgerente na Magnolia e a Nicola não, né. Acho que não preciso explicar isso e eles devem sacar que tem um sentido.
Enfim, além de tudo, fui colocada como responsável pelos relógios, coisa que a princípio, adorei, mas não tô curtindo mais. São vinte marcas de relógios, cada uma com uns seis subgrupos e, até agora, eu só entendo de TAG HEUER. No meu terceiro dia, a gerente virou pra mim e disse “coloca isso lá com os Tangos”. Mano, se ninguém me disser o que é um Tango, eu vou é sair dançando, entende! Minha primeira semana inteira foi assim, pressupondo que eu sabia de tudo.
Os relógios dão muito trabalho, têm que estar na posição certa, os stands são móveis, cada hora que você encosta em um, cai outro. Tem que estar limpos, os preços certos, e você tem que saber que o Raymond Weil Tango é diferente do Noemia. Fora que você fica num corredorzinho na lateral da loja e leva o dia todo pra arrumar, ou seja, não vende. Daí minha gerente disse que eu preciso de “gerenciamento de tempo”. Quase mandei ela tomar no cu, porque, minha amiga, eu tenho mais qualificações e uma experiência profissional muito mais importante que a sua.
Enfim, conversei com ela e com a supervisora no domingo, disse que não estava gostando, que estava me sentindo extremamente pressionada, enquanto achava que deveria estar sendo treinada. Elas me pediram pra não sair, pra dar mais algumas semanas, que todo mundo odeia quando começa. Disseram que tem gente que vai almoçar e não volta (eu totalmente entendo, porque essa era a minha vontade). Eu tive um pouco de medo com essa afirmação, afinal, não quero trabalhar num lugar que eu odeie. Mas disseram que é muita coisa pra aprender mesmo, que vão ficar mais comigo e quando eu começar a entender tudo, vai ficar mais fácil.
A verdade é que eu venho de um lugar onde eu estava no controle de tudo, sabia de tudo e todo mundo recorria à mim pra qualquer coisa. Daí chego num ambiente onde não sei absolutamente nada, e acabo cobrando muito de mim mesma.
Deixei mais alguns dias passarem e ontem tive meu melhor dia lá. Só não sei se foi porque detonei meu target de 1000 libras pra 1700, ou se foi porque minha gerente estava de folga.
Eu espero que tudo se resolva, afinal, a empresa é ótima, me paga um salário extremamente bom pra varejo e me dá 33 dias úteis de férias. Vamos ver como tudo fica, só não quero mais um “hotel” na minha vida…
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