O amor é um armário cheio de formas diferentes de se gostar. Tem dias em que a gente troca, tem formas que nos viciam, tem aquelas que sabemos que não nos caem bem. A forma que vicia é a mais perigosa.
Um dia você vai gostar de alguém ao ponto de virar o mundo de ponta cabeça por essa pessoa. Alguém que te tire o chão, te faça perder o ar, que te machuque com bobagem, que doa uma ausência constante dentro de você. Porque você gosta demais, mesmo sabendo que não deveria se doar tanto assim? Talvez não. Talvez você esteja apaixonado pelo verbo, não pelo sujeito.
Existe uma linha tênue entre a paixão e o vício, quase uma obsessão, mas prefiro chamar de vício. E, geralmente, a gente não sabe exatamente quando cruza essa linha e deixa as borboletas no estômago para trás. O que te fazia bem acabou faz tempo, olha agora: só restou a falta de carinho, uma constante insistência sua em uma história que não tem mais linha. Só restou você, fazendo boca-a-boca em uma história de amor que passou.
Você se viciou no que aquela pessoa te proporcionou, naquilo que te fez sentir. Você mistificou e encantou um cenário comum. Você fez fogueira de uma faísca. Você alimentou, inventou, você se iludiu. E não, não sou capaz de colocar a culpa somente em ti, ninguém alimenta vícios de pessoas sozinho. A verdade é que você se viciou nos sentimentos e nas sensações, e não na pessoa que te proporcionou isso.
Então pare de dizer que ama, pare de achar que ama, porque talvez nem seja isso. Talvez seja apenas o seu ego mimado, implorando por pão e água. Talvez seja uma fase pela qual você precisava passar. E passou.
Sempre chega a hora em que é preciso vestir a maturidade emocional e decidir recuar, aprender a distinguir em que ponto a sua vida parou por causa de alguém. Quanto de energia você desprende em quem não está na mesma estrada? O quanto você se preocupa com quem não se importa com você? É muito óbvio, você se deixou levar mais do que o outro. A outra pessoa está ali, tranquila, o coração dela não dói como o seu. A tua ausência não é presente para ela. A tua vida não lhe interessa. Se interessasse, ela faria questão de te dar pequenos gestos de carinho ao longo do dia. Aprende: se você for importante para alguém, esse alguém lhe mostrará isso. E, se não mostra, é porque você não importa.
Chega de remar contra a maré, de querer escrever desesperadamente a continuação de uma história no rodapé da página. Chega de implorar o amor, o carinho e a atenção de quem não o faz por merecer. Olha em volta, quanta gente querendo te fazer sorrir de graça. Quanta gente que se interessa por você, de verdade.
Amor é mérito, querendo ou não. Consentido ou não. Ame quem merece o que você sente. E chega de insistir no que ficou para trás. Aprende a cuidar da sua vida, daqueles outros que se importam, aprende a desviciar. Nenhum vício é saudável e nenhum vício dura para sempre.
Arranca essa pessoa da sua veia, esse seu ego mimado pedindo comida, e se cuida. Cuida de você, porque está todo mundo cuidando de si.
Se ao invés de vício, isso for amor, não se preocupe, você saberá. Pelo outro, não por essa sua cabeça louca que inventa tudo.
Amor é a morte do ego. Não há como ter os dois, ego e amor. (Osho)