Feliz 2009!!!

Como foram de Natal? O meu foi estranho, obrigada.
Meu primeiro Natal longe de casa, já comecei a ficar manhosa uma semana antes. Nunca, em vinte e oito anos, passei o Natal longe da minha família. Além disso, tive que trabalhar.
No dia 24 tive early shift, acordei às 5:30, trabalhei. Sai de lá, ainda tive que resolver um monte de coisas pra poder ir na casa de uma amiga brasileira com vários brasileiros. Foi diferente. Como eu disse, minha primeira experiência natalina em qualquer outro lugar do mundo que não fosse a casa da minha tia.

Dia seguinte, 25, trabalhei de novo. Passei na casa do meu sogro, não deu tempo de almoçar. Poxa vida, nem um peruzinho? Fui trabalhar chorando. Mas, como eu sou a brasileira desconsolada do hotel, a cozinha fez um prato lindo pro meu jantar, peru, legumes, batatas e sobremesa! Delicioso!

Hoje é véspera de Ano Novo e eu assumi que sou muito estragada mesmo. Tô acostumada com festa, com fogos na praia, com gente vestida de branco… Aqui tá um frio tão frio que não passou do positivo. Tá menos alguma coisa o dia inteiro. E como o David ficou meio desconfortável no natal, não quis levá-lo pra casa de ninguém dessa vez. Então passaremos o Reveillon aqui. Sem festa, só nós dois. Tô fazendo um bacalhau assado com batatas, comprei flores, velas, champagne. Tem cachaça e limão pra caipirinha,  cheesecake…  Um bom dvd e muito amor.
Vou fazer as coisas de sempre, deixar a casa arrumadinha, tomar banho de sal grosso, colocar dinheiro embaixo do colchão. Essas coisas que só brasileiro sabe fazer!!

E sábado estaremos rumo a Cornwall, a costa inglesa, a parte mais bonita da Inglaterra, para duas noites num hotel que é um castelo do século dezoito na beira do mar. Espero que seja incrível!
Enquanto isso, deixo meus votos de um 2009 MARAVILHOSO pra cada um de vocês. Com muita PROSPERIDADE, SUCESSO, DINHEIRO, muito, mas muito AMOR, AMIGOS DE VERDADE e SONHOS REALIZADOS. Mas, de repente fico com aquela velha frase que a gente escuta todo ano por aí: SAÚDE E PAZ, o resto a gente corre atrás!!!!

FELIIIIIIIIIZ
muito, muito FELIZ 2009!!!!!!!!!!!!!


De tudo ficaram três coisas:
a certeza de que estava sempre começando,
a certeza de que era preciso continuar
e a certeza de que seria interrompido antes de terminar.


Fazer da interrupção um caminho novo,
fazer da queda, um passo de dança,
do medo, uma escada,
do sonho, uma ponte,
da procura, um encontro.

(Fernando Pessoa)

Tecnologia moderna

Tenho um novo amor na minha vida, por isso sumi. Chamam de iPod touch, mas eu to quase chamando de benhe.
To postando por ela, mas tenho catado muitos milhos. Por esse motivo voltarei ao computador em breve pra contar do natal e dos meus planos pro fim de semana. Por enquanto continuo amando essa revolucao do toque. Ui…..

Posted from my Ipod 🙂

Rapidinha de Natal

Passando no meio dessa correria louca, trabalhando hoje, amanhã e depois, só pra desejar um MEGA NATAL!!!!

Que vocês tenham uma noite linda, cheia de amor e amizade. E que o coração cheio de esperança traga muita energia positiva pra 2009!

FELIZ NATAL!!! Com muita rabanada e farofa!!!!!!

Beijos

Falta de Margarete

Eu acordei tarde, era dia de folga.
Fui até a cozinha, meu café da manhã ainda estava esperando por mim. Tomei café fresquinho com leite, pão francês com manteiga e um pedaço de papaia.
Me arrumei, sem me preocupar com nada, a roupa cheirava a amaciante. Peguei minha bolsa, desci de elevador até a garagem, entrei no meu carro. Dirigi até a academia, fiquei por lá umas duas horas.
Voltei pra casa, o feijão estava na mesa me esperando. Almocei e saí da cozinha com a mesma mão vazia com que entrei. Minha cama estava arrumada, a casa inteira limpinha e organizada. Cheiro de desinfetante no banheiro.
Tive todo o tempo do mundo pra fazer o que me desse na telha, assistir tv, ler um livro, passear com o meu cachorro.
Resolvi fazer um bolo, mas não me preocupei em lavar a louça ou limpar a pia depois.

Isso tudo foi há pouco mais de um ano atrás. A cena de hoje é bem diferente.
Eu acordei tarde, é dia de folga.
A cama continua desarrumada, eu coloquei um pão na torradeira e tomei um toddynho de leite de soja pra não sujar mais louça.
A pia tá quase que uma obra de arte, de tanta coisa se pendurando.
Eu me arrumo pra ir pra academia, à pé, num calor de dois graus celsius. A sala tá virada do avesso, a roupa que eu lavei no fim de semana ainda está esperando ser passada, e o feijão? Tá de molho na panela, esperando meu comando. Mas acabou o alho, e eu vou ter que sair a pé pra comprar.

Pois é. As coisas no Brasil que a gente take for granted. Não dá tanta atenção quando tem. No Brasil tudo se autoresolvia…. ou melhor, quase tudo era resolvido para mim, por um outro alguém. Vou criar um fã clube das empregadas domésticas! Quanta falta faz a Margarete na minha vida!!!

Senhorinhas no ponto de ônibus

Às vezes eu me sinto a própria mosca ouvindo conversa alheia. Hoje estava no ponto de ônibus esperando o dito cujo pra ir pro trabalho.
Havia duas senhorinhas por lá, cada qual com seus cento e vinte anos, esperando o ônibus também. Uma parecia meio louca, usava um chapéu, saia, e estava de mochila. A outra, sentadinha, de boina vermelha e bengala.
Vira a do chapéu pra da boina vermelha e pergunta que horas são. A senhorinha diz “espera só um minuto que eu tenho um relógio que fala”. Eu pensei, nossa, que povo evoluído….
Aí a senhorinha da boina vermelha aperta um botão e o relógio diz com um sotaque irlandês “eleven, o-eight (11:08)”. As duas se abaixam e inclinam os respectivos ouvidos sobre o relógio da uma (essa cena foi impagável). As duas com os ouvidos grudados no relógio, que estava no braço da de boina vermelha.
A de chapéu diz “ah, eleven o´clock”. A outra diz “não, eleven fourteen”. “Vamos ouvir de novo”. Apertam o botão, grudam o ouvido no relógio, que diz “eleven o-nine”, que nada mais é que 11:09. “Ah, eleven two nine”. “Acho que disse eleven to nine”. Tive que intervir: “minha senhora, são onze e nove”. “Aaaaaaaah” disseram as duas.
Deviam inventar um relógio que desenhe….

Complementando:

Pra formar a patota, chega uma outra velhinha de duzentos e trinta anos, de casaco roxo e bengala combinando – roxa de bolinha rosa. Juro. Começa uma conversa de que o ônibus número nove não vai pro centro, vai pra Caversham. Eu, defensora dos oprimidos, intervenho de novo. “Não, senhorinhas loucas. Pra Caversham é no caminho de volta. Daqui, vai pro centro da cidade”. Vira a do chapéu e diz “que cidade???”. Eu tive vontade de responder Veneza, mas fiquei quieta. Como que esse povo anda na rua sozinho?????

Um dia…

… frio, um bom lugar pra ler um livro…

Um dia triste, toda fragilidade incide….

Devaneio

Sinto o sabor do mamão no meu café da manhã, suco de maracujá. Posso morder um caju fresco e não há nada nesse mundo que possa comparar.  
Meus pés anseiam pela areia branca e fina, meus lábios pedem o salgado da água do mar. O sal que fica no corpo, a brisa que só é de lá. Abro a minha canga, já é hora de ficar e não pensar em nada. É hora de sentir o sol na pele.
Peço a Deus um barulhinho de panela de pressão no vizinho, cozinhando o feijão do dia. Páro um minuto querendo sentir o cheiro do alho e da cebola fritando. Um caldo de cana, uma água de côco.
Ouço os passarinhos, os bem-te-vis, que saudades dos bem-te-vis. Abro a janela e tem uma cidade inteira me esperando, de dia e de noite. 
Quase que escuto os peões na obra ouvindo um pagodinho, quase que escuto as crianças brincando e os cachorros latindo. E de longe, há sempre um rádio tocando um samba. Se der sorte, passará um trio na minha rua agora. E eu escuto o samba chegando.
Eu me entrego, canto, grito, danço. Saio atrás dele. E no meio do caminho, me rendo a um chopp gelado ou um café de verdade. O samba daqui não é o samba de lá.
O vento morno do verão, o ar entrando pelo meu vestido. A pele queimada de sol, os pés pedindo havaianas. As unhas feitas, o cabelo solto. Inspiro e expiro brasilidade.
Me pego dirigindo meu carro, do lado direito da rua. Escuto Ivete no rádio, assisto Faustão aos domingos. Tem  feijoada no quilo de quarta-feira. Mas hoje é dia de ir a feira e pedir pastel e guaraná. E hoje será de palmito.
E chego em casa pra assistir a novela, pra falar besteira em português, pra não pensar se terei mamão no café da manhã do dia seguinte.
É saudade, é apego, é conforto. É um pedaço de mim que ainda grita.

“Filho de sol poente que quando teima em passear, desce de sal nos olhos, da falta que sente do mar”.
(Maria Rita, “A despedida”)

Confidências

Adaptação é uma palavra simples, mas que de simplicidade não traz absolutamente nada. Com ela vem um medo gigantesco do novo, a angústia do desapego, a frustração de não chegar assim tão rápido no resultado. Já dizia Nando Reis, não vou me adaptar. É como uma barreira psicológica, basta pensar em se adaptar para ir contra.
Pode ser o medo da mudança, o medo de começar do zero, o medo de  refazer uma vida inteira pela frente. Vinte e oito anos parece-me não tão cedo mais para tudo isso. Já não tenho a gana dos meus dezoito, já não sei se ainda é tempo de usar aquele velho jargão “se não der certo, a gente recomeça”.
Dez meses se passaram desde o momento em que minha vida toda mudou. O momento em que eu fechei um livro para abrir outro, uma página nova, um recomeço, tudo novo. E bem que me perguntaram ainda em terras de Cabral, “você vai começar a vida do zero?” Foi aí que caiu a ficha.
E eu, que nunca tive medo do novo, sempre preferi arriscar, tanto fui a favor do incerto pelo certo, porque o incerto poderia ser melhor, amarelei.
E naquele aeroporto de Guarulhos eu achei que ficaria todo o meu passado, toda a página virada.
Mas a vida não é bem assim. A gente não “deleta” o que passou. A gente tem memória, e eu tenho memória de elefante. A gente é saudosista, e eu sou a pessoa mais saudosista que já conheci na vida. E é óbvio que toda aquela carga, toda a energia, a pressão, vieram todas nas minhas malas.
E quando eu cheguei aqui, sozinha, com somente um grande amor na mochila, as coisas não foram tão fáceis quanto pareciam nos meus sonhos.
Pra falar a verdade, não foram nada fáceis. Talvez eu nunca tenha contado pra vocês das nossas dificuldades financeiras, do perrengue que é construir crédito num país novo, da aventura de se colocar no mapa como uma pessoa que existe de verdade. Pensa que é só chegar no país e querer um cartão de crédito? Seu nome nunca existiu por aqui, leva-se anos para construir crédito financeiro e pensar em começar alguma coisa. Empréstimo de banco, cartão de débito, conta corrente, documentação, aluguel, emprego, nada é fácil para um cidadão do mundo que começou a existir agora.
Os três primeiros meses deste lado foram os mais difíceis da minha vida. Entre chorar todos os dias e aproveitar o recém casamento, sempre há a primeira opção. Sempre existem as dificuldades e o fantasma da solidão. Todos os dias inteiros, sozinha. Sem ninguém pra conversar.
Mas dizem que o tempo cura tudo e, realmente, o tempo traz a adaptação. A gente é forçado a se adaptar porque já passou tempo suficiente pra isso. E é hora de crescer e encarar as coisas de verdade. É hora de virar adulto.
E pela primeira vez aqui, eu me sinto quase que me adaptando. Tento mais me desgarrar do passado, do Brasil, das coisas que ficaram e planejar mais o futuro. Dói, e isso não quer dizer que o passado signifique menos pra mim hoje. Só diz que é hora de mudar, mais uma vez. Pensar pra frente. Levantar, sacodir a poeira e dar a volta por cima. Entender de vez que essa foi a opção e não dá pra ter tudo ao mesmo tempo.
Se eu tenho quase trinta anos pra recomeçar, sim, eu tenho. Se dá medo começar do zero e não ser mais tão jovem, sim dá, e muito. Mas entre Nando Reis e Lenny Kravitz, hoje eu fico com o segundo. “I´m old enough to see behind me, but young enough to feel my soul*”…

 

road 

* “Eu sou velho o suficiente para olhar pra trás, mas jovem o bastante  para sentir minha alma”