E esse teu perfume barato impregnado nos meus pulmões. Foda-se você e teu sorriso torto, aquele que você só sorri pra mim quando consegue decifrar minhas vontades. Fodam-se teus olhos, esses dois géiseres que me engolem a cada erupção de vapor, essas duas crateras, por onde eu me escorrego deliberadamente, mesmo sabendo que jamais alcançarei a superfície de novo. Foda-se essa meia dúzia de clichê barato que você decorou pra manter gente trouxa como eu por perto, porque é disso que você precisa, de pequenas porções de burrice intercaladas com doses cavalares de amor pra te manterem são. É do meu desejo que você gosta, não é de mim. Foda-se o gosto da tua pele na minha língua, o encaixe do nosso beijo e os orgasmos, foda-se todas as vezes que me senti amada por você de verdade, foda-se a vontade de ir sempre além e não saber controlar o que cresce, porque você cresce em mim, você sempre brota e quando eu resolvo te cortar, você já me cortou bem antes. Foda-se essa dor aqui no fundo do meu peito, a nossa despedida, o sentido que o mundo tem dentro do teu abraço, foda-se a falta que você faz nos meus dias. Foda-se a tua ausência ardida arranhando minhas costelas por dentro, foda-se esse vazio no peito, essa mão procurando teus dedos, fodam-se meus lábios chorando os teus, meus olhos não se reconhecendo, foda-se o quanto meu ventre grita desesperado pelo calor do teu hálito, foda-se a marca do peso da tua mão afundada na minha coxa e o buraco que você deixou no meu travesseiro, fodam-se as viagens à Parati, os botecos, as costelinhas que você fazia aos domingos, foda-se o cheiro do teu café, a tua mensagem perguntando se cheguei bem, fodam-se todos os eu te amo sussurrados no pé do ouvido e as séries não terminadas, os livros não lidos, os shows desacompanhados, as gargalhadas na cama, fodam-se todos os discos que ouvimos juntos (não os escutarei nunca mais), foda-se essa necessidade ridícula da tua constância e essa mania de te ver em outras pernas, em outros olhares.
Foda-se você e essa memória imbecil que me tortura a cada segundo só pra lembrar o quanto não existimos mais. Foda-se essa inevitabilidade mesquinha de te odiar um pouco só pra conseguir te esquecer.