Verão aqui é assim: pseudo, semi, quase lá. Esse fim de semana, por exemplo, foi verão. E eu digo foi não pra ter licença poética, mas porque teoricamente é primavera, mas se faz um único dia de 30 graus e céu azul como hoje, é verão. É assim que funciona.
Quando faz dia assim deste lado do mundo é um fuzuê de dar inveja ao Brasil. Ou não, já que todo mundo empresta o nosso jeitinho e sai por aí vestido de verde e amarelo, camisa canarinho, estampas de ordem e progresso e havaianas. As janelas abertas, o barulho na rua, gente rindo, brincando, conversando, cheiro de churrasco em tudo quanto é esquina. E você abre a tua janela e jura que nunca viu tanto bicho junto que não fosse no zoológico: duzentos e vinte e cinco esquilos, ouriços, um trilhão de insetos (sendo que metade se subdivide em abelhas e joaninhas). Além disso você ouve infinitos pássaros que nunca ouviu na vida, vê patos voando (não há nada mais impagável que isso). É tudo e todos querendo aproveitar ao máximo, torcer o verão pra extrair toda a vitamina D em um dia só.
Não é a toa que você sai num dia assim e vê um milhão de camarõezinhos, gringos vermelhos pra tudo quanto é lado.
E eu, que não sou besta nem nada, faço a mesma coisa. Junto minha canga, meu Ipod, meu livro do Caio Fernando (é, isso nunca vai passar), meu protetor solar e lá vou eu, fazer como todos os camarõezinhos: tomar sol de shorts na grama.
E olha, vou te contar uma coisa: a gente agradece no final do dia e passa a semana inteira relembrando ele, porque aqui, meu amigo, dia de sol é artigo de luxo. Tem que chupar até ouvir o chiado do canudinho dizendo que acabou.
Mês: maio 2010
Que será, será
Sentir, sem didática pra saber o que fazer com o que sentir.
A vida deveria vir com manual de instruções. Com diagramas, gráficos e explicações plausíveis, com testes e respostas.
Enquanto isso toca alguma coisa na televisão, Doris Day, cara. Que será, será. The future is not ours to see.
A vida fala por si.
Dois
Sabe que quando você saiu por aquela porta eu até achei que fosse amor. Mas não, você não é nada mais do que uma fantasia que a minha imaginação criou pra mim, um você perfeito, sem defeitos, que só vem e não vai nunca. E agora preciso aprender a arrancar de mim duas pessoas, você e a minha fantasia.
À noite
Era tarde da noite e algum barulho lá fora nos acordou bem de leve, como uma dessas folhas que entram pela janela e pousam calmamente sobre a nossa cama. Você tinha um desses sonos profundos que você tem, e ainda assim, me puxou pelo braço e beijou minha mão. Então acordou um pouquinho mais e eu me lembro de doze beijos entre as mãos e o rosto, até que perdi a conta, você sabe, eu adormeço tão facilmente. Mas você não desistiu e me puxou contra o seu corpo e cheirou a esquina do meu pescoço, aquele cheiro que é só nosso, e você faz tanto isso. Eu acho tão lindo, tão animal, tão puro, como se um bicho cheirasse o outro pra ter certeza de que ali, naquele momento esquecido pelo tempo, eu sou a tua casa, o teu conforto, o teu mundo.
Um olá, classe
Finalmente um tempinho pra poder dar o ar da graça aqui. Acreditem, hoje é meu terceiro dia de folga desde que voltei de viagem. E isso já faz mais de duas semanas.
Eu já esperava, afinal sabia que minha gerente sairia de férias no dia que eu chegasse, mas não contava com uma vendedora ter perdido demissão. Ou seja, ficou por conta minha e de mais uma e só. Não podia nem pensar em ter dor de barriga. Trabalhei ridículas 52 horas por semana e já tô procurando outro emprego… cansei. Ando tão sem vida quanto no hotel e esse foi o motivo de eu ter saído de lá.
Acabei nem contando que passei meus trinta no Brasil, né? Foi demais! Cinco dias de festa consecutivos regados à algumas pílulas de Engov. Aaaaah, que saudades do Brasil. Como a gente vive lá, né? Talvez você que more aí não saiba quanta vida o Brasil tem, mas a gente sabe.
Hoje tá um sol lindo lá fora e eu vou andar de bike e tomar um sol no parque. Jorge Aragão já tá explodindo as caixas de som daqui de casa, o que significa que eu já tô total no clima verão. Agora o esquema é ser feliz intensamente, porque esses dias lindos passam logo!
Labirinto
Andei olhando por aí, sabe… esse verde todo, esse céu azul. Caminhei na esperança de te encontrar em alguma esquina, quem sabe você tenha vindo, não, você não viria, essa esperança toda tola. A esperança é a última que morre porque a ilusão a segura pelo braço. Cara, como a gente ilude a própria esperança. Eu tinha certeza de que você não viria e ainda assim eu te procurava em olhares dispersos, espalhados em lugares que talvez você nunca estivesse. Mas eu resistia, firme como uma dessas árvores que precisam ser serradas por dias e dias e homens e homens e nem pelo último fiapo desaba. Há de vir e empurrar com algo grande.
E assim eu fiquei por muito tempo. Te desenhava ali, onde imaginava que pudesse estar – se estivesse. E não estava. Nem eu mesmo estava. Era tudo ilusão, você e eu jamais daríamos certo, eu sempre disse, você é ariano e eu não tenho saco.
O negócio é que acabei me perdendo feio, fui entrando nesse labirinto sem fim cheio de planta carnívora e nem pensei em jogar migalhas de pão pelo caminho. Foi como uma cegueira breve, uma dessas luzes brancas com sentimentos de droga. Acabei me perdendo de mim quando me encontrei em você.
Nada
De tudo fica um pouco. Um olhar perdido na foto, palavras rabiscadas no bloco de notas perto do telefone, naquele dia que te liguei. O sorriso que sorri o coração, a quentura da alma, o fogo da pele, o gelo da calma, o querer, o dever, o poder, o querer e querer e querer. A fantasia, tudo o que a gente criou e não passou de criação. Paixão é ilusão. Amor é realidade.
Do nada também fica um pouco.
De volta ao outro lado da bolinha
Pois é, voltei pro outro lado da bolinha, a tão bombástica “home, sweet home”. Meus dias no Brasil foram absolutamente incríveis, mas muito corridos. Duas semanas não dão mais pra nada, principalmente quando tenho que colocar todos os meus médicos e exames em dia.
Mas foi bom demais passar 24 horas todo dia com a minha mãe, meus amigos, Bilico, família. Ah, que delicia. O Brasil tem um brilho especial que só quem tá longe consegue ver. O verde, o azul do céu, o brilho do sol, a vida. Não é a toa que o mundo se apaixona pelo nosso pedacinho no planeta.
Eu cheguei ontem, ainda tô no fuso confuso e já vou vender goiaba (quase morri de rir com a minha amiga da facul que achou que eu vendia goiaba de verdade hahahaha).
O bom daqui é o amor, né. O resto tá tudo aí.
Por isso, aproveitem muito esse país lindo, cheio de gente feliz e que faz tanta falta pra quem tá longe!
Volto depois!
Beijos
