Céu

Sabe, eu nunca te contei, eu penso demais. Eu filosófo, eu crio cenários, minha imaginação talvez seja minha melhor amiga e pior inimiga. Quando eu era criança, me deitava no sofá amarelo sob a janela para ouvir Clair de Lune, de Debussy. Eu pensava na vida olhando para o céu e tentando ver além das estrelas. E quando me pego num momento completamente desesperado, ainda faço isso, principalmente em noites de lua cheia.
Às vezes estamos tão alienados com os nossos problemas que nos esquecemos de parar, de olhar em volta, de olhar pra cima. E entenda o céu como você quiser, mas ele está ali. Seria muito mesquinho se fossemos apenas isso: Terra.
Essa semana tem sido uma das mais difíceis pra mim, são todos os problemas do meu mundo ao mesmo tempo, e não está fácil lidar com esse furacão.
Ontem à noite, peguei meu telescópio e resolvi olhar o céu gelado dessa Inglaterra. Nessa cidade tão diferente de São Paulo, onde as estrelas realmente brilham. Observei alguma estrela que brilhava um pouco mais, infelizmente não entendo nada de astronomia. E ela, naquele momento, se explodia em fogo, em cores, em luz. Fiquei pensando no quanto acontece com essa estrela enquanto estamos aqui, preocupados com os nossos minúsculos problemas. E quantas pessoas será que percebem o que se passa além da cerca de seus jardins?
Essa noite esqueci de fechar a cortina do quarto e acordei com o sol no meu rosto. Como se me aquecesse a alma por dentro e dissesse que tudo ficará bem. Senti uma luz quente pulsando dentro de mim, deve ser o que chamam de força.
E neste exato momento, enquanto escrevo essas palavras pra te contar da minha vida, meu marido me liga pra dizer que acabou de ver uma estrela cadente. Eu fui para a janela e não vi nada, apenas milhares delas. Cada qual com sua tempestade estrelar mais magnífica que a outra. Como verdadeiros milagres onipresentes, olhando por nós e nos fazendo lembrar do quanto somos pequenos.
Preciso parar para olhar o céu. Preciso entender que a vida é muito maior que tudo isso.

Rapidinha

Pois então, pedi demissão, saí na quinta-feira e passei na loja na frente da ex-goiabeira, onde as meninas viraram minhas amigas. É uma loja de lingerie italiana chamada Intimissimi, onde eu afundava meu salário nas sales da vida, e eu adoro as meninas de lá. Passei pra fofocar um pouco, jogar conversa fora, contar que estava saindo do emprego “novo”.
Sexta de manhã, uma delas me liga. A gerente saiu e eles me queriam pra uma entrevista, tipo, AGORA. Fui e cá estou, com emprego novo. Pois é. Saí de um na quinta, na sexta arrumei outro! Começo lá amanhã!
O salário não é nada incrível, mas pelo menos não vou sonhar com target pessoal (não existe), não vou ter gente me enchendo o saco, e já conheço e adoro todas as meninas que trabalham lá. Acho que vai ser bem mais gostoso! Fora que vou ter desconto e ganhar freebies da loja de lingerie que eu mais compro no mundo.
Amanhã conto mais!

Pois é

Tanta coisa pra contar e eu sem o menor saco pra ficar teclando. Enfim, pedi demissão do emprego novo. Saio quinta-feira. Deu o que tinha que dar, não vim pra cá pra ser infeliz, não. Bola pra frente, sacodir a poeira e procurar outro emprego. Depois conto com calma. =-*

Homesick

Eu ando muito homesick ultimamente. É uma saudade ridícula do Brasil misturada com essa perdição onde me encontro. Pois é, Saturno voltou e eu continuo sem saber o que fazer da minha vida.
O foda é que quando tenho uns minutos meus, no meio de toda essa loucura que é essa vida aqui, eu só consigo sentir uma coisa: saudades de casa. Mas é uma saudade besta, porque é saudade de um passado. Sinto falta da minha casa, com a minha mãe, minha irmã, meu cachorro e a Néia. E isso já mudou faz tempo, esse foi o cenário que eu deixei. A Néia já não trabalha mais lá, minha irmã saiu de casa e está prestes a se casar, minha mãe e o Billy continuam por lá, sozinhos. E isso me esmaga o coração.
Sei lá, pode ser que no fundo eu seja um pouco imatura e esteja lutando contra a tal da adultice, talvez queira mais o conforto e o refúgio de tudo isso.
Aprendi a viver sozinha, sabe. Aprendi por fora, porque por dentro ainda me mata. Não sou assim, nunca fui, sempre fui a mais “família” de casa, sempre adorei os almoços cheios de tios, os Natais juntos, os domingos na vovó. Sempre fui a companheira da minha mãe e ela, a minha. Morro de saudades de coisas banais, como fazer bolo com a minha irmã num domingo chato, ou andar no Villa Lobos com a mamãe, reclamando que o Billy para em tudo quanto é canto.
Ainda não sei o que quero da minha vida, se pretendo ficar aqui, se pretendo voltar pro Brasil. E tenho uma leve sensação de que nunca decidirei isso, porque sou daquele tipo de gente que tenta até o último segundo, que espreme até a última gota. Se um dia eu voltar, quero ter a certeza de que dei o melhor de mim aqui.
E além de tudo isso, o casamento. Que é o que me segura, que é o que está bem, que me faz feliz.
É, gente, nunca achei que tudo isso fosse ser fácil. Muitos de vocês dizem que me admiram, que admiram a minha força e coragem por lutar sempre… Eu confesso que sabia que não seria fácil, mas nunca achei que fosse ser assim. Descobri que sou muito, mas muito mais forte do que imaginava. E se tive uma recaída essa semana, foi porque pesou demais, recaídas não são a minha praia.
Por isso, você aí, que tá namorando um cara que mora em outro país, e pensa em se casar com ele, anota uma coisa: ninguém vive de amor e de cabana. Minha avó falava isso, minha mãe ainda me  fala. E se estiver pensando em fazer essa loucura toda, vem falar comigo primeiro. Porque vale a pena, sim. Mas nem tudo compensa o vazio que fica dentro do peito. Trocar uma multidão de gente que te ama por apenas uma é uma missão nobre e idiota. Como já disse uma vez, uma pessoa só não preenche um coração inteiro. E nem deveria.

And if you know…
How do you get up from an all time low?

Beaver…oops

Pois é, eu comecei na Beaverbrooks faz 10 dias. E vou te contar uma coisa, quase pedi demissão no quinto dia.
Na verdade eu comecei numa semana final de liquidação, completamente louca, sem ter ninguém pra me ensinar nada e tendo que tentar resolver tudo o que eu nunca vi na vida sozinha. Além disso, como se não bastasse, a minha gerente é de Liverpool (o único sotaque britânico que eu não entendo lhufas) e acabamos nos estranhando, porque eu não entendo o que ela fala e e ela acha que eu não sei do que ela tá falando. Tive que conversar com ela a respeito e ela me disse que vai falar mais devagar, mas meu problema não é esse, vou precisar me acostumar com o sotaque dela e isso leva tempo. Por causa de todo esse auê, ela acabou ficando meio puta comigo enquanto eu não entendia o que ela dizia e começou a me hostilizar.
No domingo, quando ela me comparou com a Nicola, eu surtei. Odeio comparações. Ela disse que a Nicola tá pegando tudo mais rápido que eu. Claro, a Nicola já trabalhou com ouro e diamantes, começou na loja num domingo, onde todo mundo pode mostrar coisas pra ela, enquanto eu não tenho background nenhum em jóia de verdade e não tive um tutor sequer durante a primeira semana comigo. Além disso, é meio óbvio que uma pessoa inglesa vá pegar as coisas mais facilmente, existem palavras relacionadas com jóias que eu nunca nem ouvi na vida. É minha segunda língua, não a primeira. Acho meio óbvio o fato de eu ter sido promovida pra subgerente na Magnolia e a Nicola não, né. Acho que não preciso explicar isso e eles devem sacar que tem um sentido.
Enfim, além de tudo, fui colocada como responsável pelos relógios, coisa que a princípio, adorei, mas não tô curtindo mais. São vinte marcas de relógios, cada uma com uns seis subgrupos e, até agora, eu só entendo de TAG HEUER. No meu terceiro dia, a gerente virou pra mim e disse “coloca isso lá com os Tangos”. Mano, se ninguém me disser o que é um Tango, eu vou é sair dançando, entende! Minha primeira semana inteira foi assim, pressupondo que eu sabia de tudo.
Os relógios dão muito trabalho, têm que estar na posição certa, os stands são móveis, cada hora que você encosta em um, cai outro. Tem que estar limpos, os preços certos, e você tem que saber que o Raymond Weil Tango é diferente do Noemia. Fora que você fica num corredorzinho na lateral da loja e leva o dia todo pra arrumar, ou seja, não vende. Daí minha gerente disse que eu preciso de “gerenciamento de tempo”. Quase mandei ela tomar no cu, porque, minha amiga, eu tenho mais qualificações e uma experiência profissional muito mais importante que a sua.
Enfim, conversei com ela e com a supervisora no domingo, disse que não estava gostando, que estava me sentindo extremamente pressionada, enquanto achava que deveria estar sendo treinada. Elas me pediram pra não sair, pra dar mais algumas semanas, que todo mundo odeia quando começa. Disseram que tem gente que vai almoçar e não volta (eu totalmente entendo, porque essa era a minha vontade). Eu tive um pouco de medo com essa afirmação, afinal, não quero trabalhar num lugar que eu odeie. Mas disseram que é muita coisa pra aprender mesmo, que vão ficar mais comigo e quando eu começar a entender tudo, vai ficar mais fácil.
A verdade é que eu venho de um lugar onde eu estava no controle de tudo, sabia de tudo e todo mundo recorria à mim pra qualquer coisa. Daí chego num ambiente onde não sei absolutamente nada, e acabo cobrando muito de mim mesma.
Deixei mais alguns dias passarem e ontem tive meu melhor dia lá. Só não sei se foi porque detonei meu target de 1000 libras pra 1700, ou se foi porque minha gerente estava de folga.
Eu espero que tudo se resolva, afinal, a empresa é ótima, me paga um salário extremamente bom pra varejo e me dá 33 dias úteis de férias. Vamos ver como tudo fica, só não quero mais um “hotel” na minha vida…

Problemas de escuta

– Babe, acho que tô ficando surda.
– Vai no médico,  fala pra ele limpar seu ouvido.
– Oi? Vou lá e digo o que? “Bom dia, dá pra desentupir minhas orelhas?”
– É, diz “Bom dia, tô ficando surda, dá pra limpar meu ouvido?” Aproveita pra avisar que você é louca. Hahaha.

Ele sempre arruma um jeito de colocar a minha loucura no meio das conversas.

Outro dia:

– Babe, quando a gente namorava você achava que eu era louca?
– Sim.
– E agora, depois de casados, ainda acha?
– Agora eu tenho certeza. Hahaha.

Carência

Um certo tipo de carência. Uma vontade de me deitar no sofá por longas horas enquanto assisto a uma maratona de um seriado qualquer. Uma necessidade de calor de corpo, em cima de mim, na minha frente, onde quer que seja.
Queria chegar em casa toda tarde e ter alguém esperando como se não me visse há um ano. Queria respirar seu ar, sentir seu cheiro, cuidar. Preciso desse amor incondicional como fonte de vida, pois meu coração está mal acostumado. Ou bem acostumado. Preciso um amigo pra vida toda, um companheiro pro que der e vier, a minha cara metade.

Preciso de uma lambida. Estou carente de cachorro.

Brasil, mostra a tua cara

No dia 15 de novembro de 1989, o Brasil votou pela primeira vez para presidente da República após o fim da ditadura. Eu tinha 9 anos e a única coisa política que me lembro dessa década é que um dia o pão custava uma coisa, no outro custava outra. Um dia era um tipo de moeda, no outro era outra. E eu me atrapalhava demais com tudo isso, mas não passava de uma pequena alteração no meu planejamento mensal de compra de figurinhas.
Mas pro Brasil, pra geração X, baby boomers e todas as outras, isso era muito mais. Foi no mesmo ano da queda do muro de Berlim, onde tantos ideais voavam soltos. Foi o fim dos extremos, o começo do que se achava ser muito melhor.
Em 1982 apareceu um candidato analfabeto, do interior de Pernambuco, metalúrgico sindicalista. Ele concorreu ao cargo de Governador de São Paulo. Desde então, Luís Inácio Lula da Silva foi um lutador. Um “Che” Brasileiro, alguém que tinha ideais muito claros de socialismo, alguém que acreditava na democracia, na igualdade social e em uma nação como um todo.
No dia 15 de Novembro de 1989, o Brasil votou pela primeira vez para presidente da República, depois da ditadura. E os candidatos eram Lula e Fernando Collor de Mello. Collor ganhou uma eleição, até hoje considerada “favorável”, com inúmeros pontos que levaram à sua vitória.
Em 1992, Lula e  PT foram um dos principais responsáveis pelas investigações da CPI que revelou uma série de denúncias de corrupção, e levou Collor a sofrer o impeachment e ser destituído da Presidência da República. Sim, foi nessa época que os jovens de 1992 foram pras ruas. Podem até dizer que isso não interferiu em nada o processo, mas os jovens fizeram barulho. Quem não se lembra de Lindberg Farias? A comoção popular, as passeatas dos caras-pintadas, foi muito menos invasiva do que as que aconteciam durante a ditadura, mas olha, a gente fez alguma coisa. A minha geração se mexeu, se indignou. Os jovens de 1992 preferiram levantar a bunda da cadeira e não se conformar.
Collor renunciou ao cargo, Lula e o PT continuaram na oposição e se tornam críticos do plano econômico assumido por Itamar Franco, substituto de Collor, o Plano Real, que é este que você conhece. Pois é, eu o vi nascer e me lembro muito bem de quando a nossa moeda foi equiparada ao Dólar.
Lula sempre foi um personagem consistente na História do nosso país, e desde que começou a se eleger à Presidência, deixou muito claro seu lado radical comunista e todos os ideais marxistas.
Vinte anos depois, Lula se tornou presidente do Brasil, sendo reeleito e comandando um mandato de oito anos. Mas muita coisa mudou de lá pra cá, não espere mais esse Lula sindicalista, comunista, cheio de ideais políticos e lógica, não espere mais um “Che” consistente.
Hoje – acredite – Lula e Collor são aliados políticos pra as novas eleições. Lula disse à Folha de São Paulo, “Minha relação com o Collor é a de um presidente com um senador da base (…) Não tenho razão para carregar mágoa ou ressentimento. Quando o cidadão tem mágoa, só ele sofre. Quando se chega à Presidência, a responsabilidade nas suas costas é de tal envergadura que você não tem o direito de ser pequeno”. Ser pequeno, Lula? Desde quando ter consistência política é ser pequeno?
A minha intenção aqui é apresentar pra você, jovem de hoje, quem foi o nosso Presidente, e que tipo de caráter ele costumava ter.
O que me indigna é a falta de ideais políticos de hoje em dia. Cadê toda aquela lorota revolucionária, cadê toda a constância? O Brasil não é só um dos países mais corruptos do mundo, é também um país que não leva Política a sério, um país sem ideais, mergulhado em hipocrisia. O Brasil é um grande lobby, onde as coisas só acontecem quando convém para alguém. O famoso jeitinho Brasileiro. E sabe por que é assim? Porque a maioria das pessoas se conforma, porque ainda tem gente que senta a bunda na cadeira em dia de eleição pra assistir TV, ou fazer churrasco, porque ainda tem ser humano que anula o voto, que vota em branco! Porque Brasileiro não dá valor aos seus direitos,  Brasileiro faz democracia nas coxas.
Está na hora de nos inconformarmos um pouco mais. Geração Y, não aceite hipocrisia política. Não cruze os braços. Acho inadmissível uma política sem ideais, sem linearidade, sem verdade, sem constância, sem lógica. Lembrem-se disso no dia de eleger o nosso próximo Presidente.  Brasil, mostra a tua cara, por favor.


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