Opa no vizinho

Começou lá pelo meio dia, com um “Besame Mucho”. A gente passou horas achando que quem tava soltando a Beyoncé era o FREAK, aquele senhor de meia idade meio louco que mora embaixo de mim, ouve Mariah Carey e Whitney Houston bombando e mata pessoas pra enterrar no jardim (o último é fruto da minha imaginação de Bobby, mas eu acredito).
Foi evoluindo pra uma musiquinha dessas de sabe-se lá o que, sabe. A gente assistiu Tropa de Elite inteira, mandou o FREAK desligar o som umas trinta e sete vezes e nem percebeu que o que o “Pede pra sair” encobria era uma autêntica festa grega.
Quando acabou o filme, fomos pra janela. De onde tá vindo isso, afinal? Ali, ó, uns três jardins pra lá (aqui casa se mede por jardim, leia “umas três casas por lá”).
Mano, de repente o treco virou uma empolgação Zorba. Todo mundo batendo palma, eu já pegando uns pratos pra jogar pela janela. Me empolguei, me empolguei, me empolguei. Gritei um OPA bem alto e eles também. É realmente uma fanfarra grega.
Tô super com pó de mico, querendo colocar um vestido longo-a-la-Claudia-Abreu, fazer um bolo com furo no meio e chegar lá quebrando prato. Se eu disser ZULIA e OPA, acho que eu me enturmo, né?

PRESTENÇÃO no OPA do final.
E é, eu sei que não dá pra ver cucuias. Não é à toa que tem raposa no meu jardim, né.

Domingos

Domingo. Acordo cedo na parte de cima do beliche, minha irmã só levanta da parte debaixo com leite quente com Nescau. Mamãe arruma uma mala pra gente ir pro clube, faz sol e é tão bom. Vamos de parati com adesivo do cachorrinho da TKTS no vidro de trás, ouvindo qualquer música na Transamérica. O dia está perfeito e um mergulho na piscina do clube parece extremamente convidativo, depois de uma partida de vôlei com o pessoal do nosso time.
Mamãe passa Sundown 30 no meu rosto, ainda sinto o gosto. Seu Zé, traz dois guaranás aqui, por favor! Sem abelhas, mãe. Ainda me lembro de molhar os pés no lava-pés da piscina pra tirar a sujeira, morria de nojo daquela água.
Hora de ir embora, vovó liga. Entramos no carro mais uma vez e mamãe dirige até a casa da vovó. Cheiro de frango assado, domingo é típico e tem macarrão. É a nossa lei, a nossa tradição.
Vovô espera sentado na garagem, com um copo de caipirinha na mão. “Aperitivo”, diz ele. E então deixa minha mãe guardar o carro lá dentro, e a gente resmunga um pouco, porque com dois carros na garagem não dá pra jogar futebol. Vovô me leva pra ver as rosas que brotaram da roseira, o alecrim que cresce livre na horta e os limões que começam a nascer do limoeiro. Subimos no quintal que fica lá em cima e vovô colhe umas pitangas pra mim, ele sabe que eu adoro.
Antes disso havia ido ao Seasa e, como sempre, tinha comprado manga pra mim, abacate pra minha irmã. Sempre assim.
Passo pela cozinha, vovó faz nhoque caseiro. A mesa está toda enfarinhada e várias minhoquinhas de massa deitadas horizontalmente. Atacamos um nhoque cru, porque só gosto de nhoque cru. E por isso tem spaghetti pra mim, só pra mim.
Eu e minha irmã abrimos o armário da cozinha e pegamos duas xícaras de pirex marrom. A garrafa térmica de café tá quentinha, a gente aperta algumas vezes e bebe até acabar.
A TV, na sala de televisão, passa alguma coisa como “A família Dinossauro”, e vovô assiste comendo amendoins e mandioca frita. “Aperitivo”, diz ele.
Vovó grita – e me lembro tanto deste grito: “Kariiiina, Mileeena, vêm almoçar”. E nos sentamos à mesa, com nhoque e frango assado. Com vinho tinto com guaraná pra nós duas, porque é assim que é, é a nossa tradição italiana. Com frutas de sobremesa.
Mas a gente é criança e não desiste de caçar um chocolate, e abre o armário de gostosuras do vovô, e tá sempre cheio, porque ele sabia que a gente viria. Bis.
Vovô e vovó sobem para uma cochilada depois do almoço. Mamãe lava louça, eu e Karina brigamos pra ver quem guarda, porque é melhor que enxugar. As panelas no armário de ferro, o que a gente não alcança deixa em cima da mesa.
Subimos no escritório do vovô, que tinha a escrivaninha dos anos 30, que hoje é minha e me lembra tanto ele. Tem muitos livros nossos ali. Pegamos alguns e descemos pra sala de TV, pra assistir qualquer coisa dessas da sessão da tarde.
Depois que vovô e vovó acordam, podemos andar de bicicleta no quarteirão. Mais tarde vovô vai fazer pizza e a gente volta pra casa. Tem que dormir cedo, amanhã tem escola, mamãe trabalha. “Deus ajuda quem cedo madruga”, vovó repetiria inúmeras vezes.


Que saudade que eu tenho disso.
Se eu pudesse, ao menos uma vez, ter outro domingo desses na minha vida. :S

Declaração

Um dia eu cheguei em casa e contei pra minha mãe que estava apaixonada por Clarice. E dizia, me lembro bem, mãe, impressionante o quanto ela me entende.
Porque eu sempre fui assim, sabe, de ter que sentir rasgar a pele e cutucar a carne. Não sou de meia palavra, de não-me-toque, de sutileza. Sou do tipo que pinga o sangue em gotas pra dizer que ama. Preciso sentir, preciso sentir, preciso sentir. E se pra sentir há de doer, que me doa por inteiro, que eu seja eternamente dolorida e sentida em mim, no mais fundo de mim.  Dolorida, colorida. É que eu acredito em pessoas cheias, em palavras atiradas no peito, em sentimentos escarrados. E Clarice, pra mim, me entendia.
Até o dia em que um outro cara surgiu na minha vida. Caio Fernando Abreu. E foi nele que me perdi completamente, porque se Clarice me entendia, Caio é eu. Caio é meu Id. Ele me entende, me lê, me expressa, fala de mim. Não há palavras que saiam de Caio que não possam envolver algum pedaço meu.
E tem mais um trilhão de autores. A gente cita Bukowski, Kerouac, a gente cita Saint-Exupéry e Nelson Rodrigues. Sempre tem alguém que já disse aquilo que a gente tá sentindo. Mas quando você acha um autor que te lê, mais do que você lê a ele, isso sim, meu amigo, isso sim é que é bonito.
Que me rasgue o peito, que me cutuque a ferida aberta sangrando em carne-viva, que me doa sempre lá no mais fundo de mim, Caio Fernando.

Ah, o verão

Verão aqui é assim: pseudo, semi, quase lá. Esse fim de semana, por exemplo, foi verão. E eu digo foi não pra ter licença poética, mas porque teoricamente é primavera, mas se faz um único dia de 30 graus e céu azul como hoje, é verão. É assim que funciona.
Quando faz dia assim deste lado do mundo é um fuzuê de dar inveja ao Brasil. Ou não, já que todo mundo empresta o nosso jeitinho e sai por aí vestido de verde e amarelo, camisa canarinho, estampas de ordem e progresso e havaianas. As janelas abertas, o barulho na rua, gente rindo, brincando, conversando, cheiro de churrasco em tudo quanto é esquina. E você abre a tua janela e jura que nunca viu tanto bicho junto que não fosse no zoológico: duzentos e vinte e cinco esquilos, ouriços, um trilhão de insetos (sendo que metade se subdivide em abelhas e joaninhas). Além disso você ouve infinitos pássaros que nunca ouviu na vida, vê patos voando (não há nada mais impagável que isso). É tudo e todos querendo aproveitar ao máximo, torcer o verão pra extrair toda a vitamina D em um dia só.
Não é a toa que você sai num dia assim e vê um milhão de camarõezinhos, gringos vermelhos pra tudo quanto é lado.
E eu, que não sou besta nem nada, faço a mesma coisa. Junto minha canga, meu Ipod, meu livro do Caio Fernando (é, isso nunca vai passar), meu protetor solar e lá vou eu, fazer como todos os camarõezinhos: tomar sol de shorts na grama.
E olha, vou te contar uma coisa: a gente agradece no final do dia e passa a semana inteira relembrando ele, porque aqui, meu amigo, dia de sol é artigo de luxo. Tem que chupar até ouvir o chiado do canudinho dizendo que acabou.

Um olá, classe

Finalmente um tempinho pra poder dar o ar da graça aqui. Acreditem, hoje é meu terceiro dia de folga desde que voltei de viagem. E isso já faz mais de duas semanas.
Eu já esperava, afinal sabia que minha gerente sairia de férias no dia que eu chegasse, mas não contava com uma vendedora ter perdido demissão. Ou seja, ficou por conta minha e de mais uma e só. Não podia nem pensar em ter dor de barriga. Trabalhei ridículas 52 horas por semana e já tô procurando outro emprego… cansei. Ando tão sem vida quanto no hotel e esse foi o motivo de eu ter saído de lá.
Acabei nem contando que passei meus trinta no Brasil, né? Foi demais! Cinco dias de festa consecutivos regados à algumas pílulas de Engov. Aaaaah, que saudades do Brasil. Como a gente vive lá, né? Talvez você que more aí não saiba quanta vida o Brasil tem, mas a gente sabe.
Hoje tá um sol lindo lá fora e eu vou andar de bike e tomar um sol no parque. Jorge Aragão já tá explodindo as caixas de som daqui de casa, o que significa que eu já tô total no clima verão. Agora o esquema é ser feliz intensamente, porque esses dias lindos passam logo!

De volta ao outro lado da bolinha

Pois é, voltei pro outro lado da bolinha, a tão bombástica “home, sweet home”. Meus dias no Brasil foram absolutamente incríveis, mas muito corridos. Duas semanas não dão mais pra nada, principalmente quando tenho que colocar todos os meus médicos e exames em dia.
Mas foi bom demais passar 24 horas todo dia com a minha mãe, meus amigos, Bilico, família. Ah, que delicia. O Brasil tem um brilho especial que só quem tá longe consegue ver. O verde, o azul do céu, o brilho do sol, a vida. Não é a toa que o mundo se apaixona pelo nosso pedacinho no planeta.
Eu cheguei ontem, ainda tô no fuso confuso e já vou vender goiaba (quase morri de rir com a minha amiga da facul que achou que eu vendia goiaba de verdade hahahaha).
O bom daqui é o amor, né. O resto tá tudo aí.
Por isso, aproveitem muito esse país lindo, cheio de gente feliz e que faz tanta falta pra quem tá longe!

Volto depois!
Beijos

Chegueeeei!!

Esse post tinha sumido, entao aih vai de novo:

Pra quem achou que um vulcaozinho fosse me prender do outro lado da bolinha, bom… quase.
Depois de uma passadinha basica por Paris, uma viagem linda pra Suica, a informacao de que um vulcao na Islandia tinha fechado os aeroportos ingleses soaram como sinos desesperados em mim numa quinta-feira a noite.
Sim, meu voo sairia de Zurich pra Londres e de Londres eu pegaria um TAM pro Brasil.
Tive que esperar o dia seguinte pra resolver, ja que essa eh a merda, nunca se resolve nada antes de ser devidamente cancelado. No meu ultimo dia em Zurich, acordei cedo e liguei na recepcao do hotel: voos todos cancelados. Sai pro aeroporto pra tentar ver de la o que fazer, mas acabei ligando no escritorio da TAM na Suica e, olha, existe um santo humano chamado Aline. Essa menina salvou minha vinda pro Brasil.
Tentou me remanejar pra Madri ou Milao, mas nao tinham voos internos da Suica. Tentou, tentou e achou o ultimo, saindo de Zurich pra Milao, e pegando o voo de Milao pra Sao Paulo. Eh, povo, fui parar na Italia, acreditem. Porque se sou eu, a coisa tem que ter historia, neh. Pra que uma viagem na vida da Milena sem emocao? Deus quando me fez ja botou uma etiquetinha de aeroporto em mim. Nao foi “heavy” nem “fragile”, hein. Foi “com emocao”. E ainda me pos numa cegonha de asa quebrada e de asadelta. Ta, parei. Enfim, fui parar em Milao e vim.
E assim, meu voo de Milao foi um dos ultimos, ja que o aeroporto de la fechou hoje tambem. Minha prima ainda ta presa em Zurich, mas eu to aqui oooooh. Respirando ar regular, morrendo de ondas de calor de 2o graus, com sono as oito da noite….
Bilico nunca foi tao feliz e saltitante na vida. Mamae ateh fez almoco. E eu to aqui, escrevendo do ex-quarto da minha irma, do lado do meu quartinho azul que me traz tantas e tantas lembrancas.
Ah, e obvio, ja ateh chorei com Lar Doce Lar. Hohoho.

Updates desde o fim de semana? Meus dias se resumem em alcool, balada, jejum e laboratorios medicos. Hoje resolvi ir pra praia, aproveitar o tempinho booom. Ate emociona dizer “vou pra praia”. Se avistar um ponto reluzente no litoral, eh meu corpinho branco.

Bisous.

Tô indo

E se alguém perguntar por mim
diz que fui por aí
levando o violão
debaixo do braço
em qualquer esquina eu paro
em qualquer botequim eu entro
e se houver motivo
é mais um samba qu’eu faço


e se quiserem saber se eu volto
diga que sim, mas só depois
que a saudade se afastar de mim…

Nara Leão


Vejo vocês em Paris, se der!
E abre a poooorta, meu Brasil, que eu tô chegando!

Beijos 😉