Panorama

As coisas aqui desse lado do mar não andam muito bem. Essa semana foi anunciado que estamos prestes a entrar em um período de recessão. Épocazinha boa pra eu vir morar aqui hein? Nessa semana, milhares de trabalhadores da construção civil perderam emprego. E eu agradeço muito, porque faz três meses que o David saiu desse campo. Se ele estivesse ainda, provavelmente eu estaria perdendo muitas noites de sono.
A economia por aqui anda mal das pernas. Tudo tem aumentado de preço, principalmente devido a alta do petróleo, a gasolina aqui tá caríssima. E quando sobe a gasolina, sobe todo o resto. Comida, por exemplo. Eu já cheguei a viver aqui em época que comprava alface empacotado, já lavado, por 0,60 centavos. Hoje tá 1,29.
E tudo isso vira uma grande bola de neve. Emprego por exemplo. Faz mais de dois meses que tenho aplicado para vagas e nada. Fui em duas entrevistas só. E nem me deram resposta até hoje. Isso é muito incomum, porque geralmente as empresas costumavam dar respostas. Eu já tentei contatá-los e nada. Juro que achei que seria muito mais fácil conseguir emprego aqui, mas tô completamente chocada. Claro, tenho procurado na minha área, o que acaba sendo específico demais.
Enquanto isso eu vou procurando, mas estou quase me rendendo aos subempregos, vendedora, barista, whatever. Se eu tiver que dar um passo pra trás pra dar dois pra frente, assim é que vai ser.
Vamos ver e esperar o que acontece desse lado.

Explicando: A Inglaterra sempre teve uma economia estável. A maior moeda da Europa, a mais forte, a mais cara. O que está acontecendo aqui não é muito difícil de perceber. O país está quebrando. Na verdade, desde que a União Européia abriu para a Europa do Leste, a Inglaterra tem descido cada vez mais pro buraco. O que acontece é que a União Européia é um acordo, certo? Um acordo entre barreiras e moedas. A Inglaterra não mudou a moeda pra Euro, continuou com a Libra, que é mais ou meos 50% mais cara. De repente, os países pobres da Europa entram na lista da UE. O que você faria? Tentaria a vida na Itália pra ganhar em Euro, ou na Inglaterra pra ganhar em Libra? Pois é. Aqui está saturado de gente da Europa do Leste. Polônia, Bulgária, Romênia, Lituânia, Eslováquia, Eslovênia, Estônia. Tá todo mundo aqui. O mercado de construção civil é o que está mais saturado. Por isso começou a quebrar. O pior de tudo não é o fato dos caras virem pra cá e trabalharem somente. Aqui você pode pedir inúmeros benefícios do governo: casa, ajuda-aluguel, dinheiro pra quando está desempregado, bolsa-criança, bolsa-mãe-solteira, tudo o que você possa imaginar. E sendo da União Européia, trabalhando aqui, já te dá o direito (detalhe: eu não posso pedir benefício nenhum até completar 3 anos de casada, mesmo se eu tiver filhos – absurdo). Maaaaas, a mulher do polonês que ficou lá no interior da Polônia, pode. Ele trabalha aqui, e ela ganha benefício da Inglaterra lá. Tô falando por experiência própria, isso acontece com um polonês que trabalhava com o David. Bom, agora vocês imaginam. Esse país aqui já é a India misturada com o Paquistão, por causa do acordo de ex-colônia britânica (eles também podem vir, trazer a família inteira, ganhar casa e viver de benefício). Se o país já não tava dando conta dos indianos e paquistaneses, imaginem agora.
A Inglaterra tem que fazer alguma coisa, se não a situação vai ficar feia mesmo. E a única saída que eu vejo é adotar o Euro. Deixar de ser o alvo “money-making” da Europa, deixar o povo se espalhar pra todos os cantos, e não só aqui.

Festa pra terrorista

Tá, eu vou contar uma história pra vocês. Era Julho de 2005, uma quinta-feira e eu me lembro muito bem. Eu estava em Reading, tinha programado meu último dia antes de ir pro Brasil em Londres. Por algum motivo desistimos, eu e a minha amiga. O marido dela, no entanto, foi de trem, saiu daqui às 8 da manhã em direção a Cambridge, no dia 7.
Eu acordei pensando que tudo bem, em um mês voltaria pra cá de novo e iria a Londres mais vezes. Eram pouco mais de 9hs, iguei a TV da sala, a vovó doidinha estava sentada na poltrona falando sozinha. Quando me dei conta da notícia. Ataque terrorista em Londres. Três linhas de metrô, um ônibus. Emergência, ambulâncias, gente chorando na rua, linhas congestionadas. Parecia que estava voltando a um 11 de Setembro.
E justo naquele dia que eu queria tanto ter ido pra Londres. Dia 08 eu estaria no aeroporto. Fiquei chocada, apavorada. Mais de cinquenta mortos. Homens-bomba. Coisas que para nós, Brasileiros, deveriam ser muito distantes estavam ali, do meu lado, quase na minha rotina, quase na estação de trem que eu poderia estar. Nas linhas de metrô que eu passo toda hora.
Enfim, essa história vocês já sabem. Essa semana descobriram que a família de um dos homens bomba de 07 de Julho mora aqui na Inglaterra. E todo dia 07 de Julho eles se reúnem para fazer uma festa. Sim. Uma festa em homenagem ao “mártir” que explodiu e levou com ele mais um monte de gente. Tá chocado? Eu também.
O que seria adequado numa situação dessas? A família paquistanesa mora aqui, ganha benefícios do governo, deve ter casa de graça e mais um monte de coisas que se pode ter por aqui. Os ingleses querem que eles sejam extraditados e proibidos de entrar no país. É o que eu acho. Acho o cúmulo da petulância. Os caras vivem num país onde o talzinho cometeu um ataque terrorista e matou sabe-se lá quantas pessoas, deixando inúmeras paraplégicas e vivas, afetando uma infinidade de gente. E a família do cara faz uma festa todo dia 07 de Julho, enquanto os ingleses levam flores aos locais dos atentados e velam por seus mortos. O que os Estados Unidos fariam? Garanto que se pegassem um parente do Bin Laden fazendo baladinha pra mártir no dia 11 de Setembro ele estaria muito bem frito.
Eu acho um absurdo. E depois vem perguntar porque que esse país está tendo tanto índice de racismo…. Virou a casa da mãe Joana. Os caras chegam aqui, fazem o que querem, pedem o que querem do governo, tentam introduzir uma cultura completamente oposta num país que tem mais de mil anos de idade, trocam placas de rua para árabe, não falam inglês. Parece racismo? Sim, ele está estampado em cada esquina deste país. E a briga não é nova, mas parece que está numa panela de pressão, pronta para explodir a qualquer momento.
Eu acho que racismo é uma bosta, sim. Não generalizo, não julgo todos os paquistaneses e indianos, mesmo porque conheço muitos deles que estão aqui numa boa. Mas acho que existe uma linha tênue na “adaptação”. Se você sai do seu país é você quem tem que se adaptar, não o resto do mundo.

Vida real

IML confirma violência sexual em índia xavante

O Instituto Médico Legal (IML) da Polícia Civil do Distrito Federal constatou, por meio do exame de necropsia feito na índia xavante de 16 anos que morreu na quinta-feira, que ela foi vítima de violência sexual provocada por objeto contundente. Segundo o IML, o objeto perfurou o baço, o estômago e o diafragma da vítima, provocando infecção generalizada.

A índia morreu no Hospital Universitário de Brasília (HUB). A ocorrência foi registrada na 2ª Delegacia Policial da Asa Norte. De acordo com a Funasa, a jovem teve meningite na infância e apresentava lesão neurológica. Ela não conseguia falar e se locomovia por meio de cadeira de rodas.

A vítima, que fazia tratamento no Hospital Sarah Kubitschek, era da aldeia São Pedro, no município de Campinápolis (MT). Desde maio, ela, morava na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casi) do Distrito Federal, próximo ao Gama.

Fonte: TERRA

 

Nossa, isso me lembrou muito “Fale com ela”, do Almodóvar…

Morre Yves Saint Laurent

Morre um dos grandes – e ainda remanescentes – ícones da moda mundial.
Sem Yves, sem Dior, sem Channel, sem Versace… o mundo fica um pouco mais pobre. 

Mundo cruel

Sabe, aqui desse lado do mundo as pessoas tem uma ideia vaga sobre o Brasil. E uma das mais contantes eh, claro, a violencia. Eh obvio que eu concordo com o fato do Brasil ser um pais violento, mas acho puro cinismo quando os europeus focalizam isso como um dos grandes atributos do Brasil. Tambem nao da para culpa-los integralmente. Esses dias fui numa loja de dvds comprar alguns e os unicos brasileiros existentes eram “Cidade de Deus”, “Cidade dos Homens” e “Carandiru”. Eh por isso que, mesmo achando esses filmes incriveis, eu nao aprovo o tipo de imagem divulgada do nosso pais para o resto do mundo.
E infelizmente eh essa a imagem que eles tem. Os europeus quase nao sabem sobre o Brasil, mas tenho certeza de que sabem um pouco mais do que americanos. Mas nao sabem muito. Ja escutei perguntas sobre o que acontecia no meio das florestas do Brasil, porque a maioria acha que cidades sao soh Sao Paulo, Rio de Janeiro, Brasilia e Minas Gerais. Obvio, gente que nunca foi ao Brasil. Eles acham que o resto eh floresta. Que a Amazonia se estende sobre Fortaleza, Recife, Salvador, Porto Alegre… eh de dar enjoo. Eu ja tive que abrir o Google e mostrar Sao Paulo para algumas pessoas, e adoro a cara deles de idiota quando veem uma selva de pedra… e acho que eh soh aih que amo Sao Paulo por ser uma selva infinita de predios! Esses dias me perguntaram se no Brasil a gente ouve musica pop, em ingles, ou soh fado e samba. Fado?????? Bom, pelo menos eles sabem que fomos colonizados por Portugal….
Mas nao era isso que eu queria falar… queria comentar sobre crimes. Eu sempre falo aqui que sim, o Brasil eh violento. E a violencia do Brasil eh completamente diferente da violencia da Europa. Eu nao sei dizer qual eu acho menos assustadora, mas posso garantir que a daqui me assusta, e muito. A nossa violencia, brasileira, eu comparo como uma panela no fogo em constante ebulicao… Ela esta ali, do seu lado, acontece todos os dias, em qualquer esquina. Assaltos, roubos, sequestros relampago, tiroteios, crime organizado – acima de tudo. A violencia europeia eh diferente. Eh cercada dos famosos serial-killers e psychos que a gente ve nos filmes. Quando acontece alguma coisa aqui eh extremamente chocante e assustador.
Por exemplo, ha um tempo um cara foi preso por ter estuprado uma menina morta. Sim, a menina estava morta, o cara foi la e estuprou o corpo. Outro dia um cara foi esfaqueado por dois adolescentes que jogaram um objeto no carro dele. Ele reclamou, e os meninos o esfaquearam. Uma vez, da outra vez que eu estava aqui, uma mulher estava chegando em casa com seu bebe no carrinho. Parou o carrinho e abriu a porta de casa, quando virou pra pegar o carrinho, um homem estava segurando seu bebe de dois anos com uma faca no pescoco dele. O cara simplesmente soltou o nene e esfaqueou a mulher, que acabou paralitica. Ha um ano mais ou menos, um cara saiu da prisao de Manchester e entrou em um onibus em Londres. Um casal sentou na sua frente e ele comecou a jogar batata frita na menina. O menino se irritou e levantou pra falar com ele… o cara levantou tambem e esfaqueou o menino ateh a morte. Eh esse o tipo de violencia que acontece aqui… como a que esta nos jornais essa semana, o pai austriaco que prendeu a filha por 24 anos no porao, abusou sexualmente dela desde os 11 anos e teve 7 filhos com ela. E pior, pegou tres deles pra viver com ele e com a mulher, dizendo que haviam sido abandonados. Enquanto os outros permaneceram a vida toda num porao sem janelas e sem meio de sair.
E quando eu digo que as coisas aqui sao mais assustadoras eh por isso. Os crimes aqui parecem ser muito aleatorios e extremamente violentos. O tipo de crime que a gente ve nos filmes, elaborados, doentis, mentalmente perturbados…

Sao Paulo tremeu

Eu acordei as nove da manha aqui, o que seriam 5h em Sao Paulo. Abri o Yahoo e dei de cara com a noticia “Sao Paulo tremeu a noite – 5.2 na escala Richter”. Eu me vi voltando ao dia 07 de Julho de 2005, quando tive que ligar super cedo pra minha mae em Sao Paulo pra dizer – antes que ela acordasse e visse na TV – que eu nao tinha ido pra Londres naquele dia, como era planejado.

Hoje esperei ateh meio dia, oito da manha em Sao Paulo. Minha irma atendeu o telefone e disse que foi a coisa mais bizarra que ela ja viu na vida. Disse que a escrivaninha onde ela estava no laptop comecou a tremer. Meu cachorro, em cima da cama dela, levantou. Ela colocou a mao na cama e a cama tambem tremia. Um casaco pendurado na porta balancava num leve movimento de pendulo. O lustre da sala tambem. Passou tao rapido quanto veio… mas tremeu. E isso, numa cidade do tamanho de Sao Paulo, eh assustador.

19.03

Dia 19 de Marco, dia de Sao Jose. Me lembra meus avos, me lembra a Igreja dos Jardins onde eu assistia as missas desde pequena, me lembra 5 anos do primeiro ataque ao Iraque. E hoje tive uma noticia muito feliz…. feliz de um jeito que as criancas iraquianas nao podem ser. Feliz, que contradiz as minhas lagrimas de ontem assistindo a um documentario “O Iraque hoje”, lagrimas que corriam por ver uma menina de 7 anos que ha 5 nao sai de casa. Que ha 5 nao abre a porta da rua, porque a inseguranca eh monstruosa. Como uma crianca pode passar a infancia trancada em casa? Como destruiram um pais a troco de nada? O pais esta destruido. O pais nao tem mais leis, nao tem mais governantes. Eles dizem que enquanto o Saddam governava ainda havia hospital, ainda havia trabalho, escola. Havia energia nas casas e gas no fogao. Havia comida no fogao. E o que fizemos com o Iraque? O que os EUA, a Inglaterra e todos os paises condizentes tem a dizer agora? Queria que o Bush visse a menininha… queria que Tony Blair sentisse o vazio que saia de seus olhos, dizendo que nao sabia porque mas nao era feliz…. 54% da populacao iraquiana perdeu um conhecido na guerra. Mais da metade do pais. E se tem explosao em Bagda ainda? Eh soh abrir os jornais. As bombas explodem, a guerra civil continua, o caos recomeca…. e se alguem se machucar, que Deus o ajude. Porque nao ha remedio. Nao ha medico. Nao ha nada.
E de quem eh a culpa? Eu contrariaria Jesus neste momento e diria “nao os perdoe Pai…. eles sabem o que fazem”…. Mas quem sou eu para julgar?
Que Sao Jose continue cuidando de nos. Que alguem comece a cuidar do Iraque….

O que foi isso???????

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