Boletim de goiabinha

E acabei quase largando esse canto aqui, hein! Tá, não exagera, Milena. Antes você não tinha o que fazer, por isso escrevia quinhentos posts por dia. Agora, além de twitter, tem goiaba. Pois bem, falemos das goiabas.

O trabalho melhorou muito esse mês, principalmente depois que a mulher louca saiu. E também porque a pressão tá bem menor, já que é Natal e a gente tá vendendo como água.
No ranking da Inglaterra, a loja de Reading – que estava em sétimo – passou pra segundo lugar. Batemos até Londres.
E quem é co-responsável por isso? Sim, sim, palmas para mim!
Sou a top seller da loja, ganho a primeira comissão este mês. Em cinco semanas fui top seller todo santo dia. Além disso, fiz a maior venda do mês na Inglaterra toda. Taquei goiaba em um casal que apertou o pin para 398 libras. Acreditem, eu até tremi na hora de digitar.
Ganhei vinho da minha gerente e com comissãozinha meu Natal vai ser mais decente, vai.
Esses dias tenho vendido muito pra homem. Impressionante, não perco um cliente macho. Todos saem de lá com um colarzinho, pulseirinha, anelzinho, o set todo – porque quanto mais peça casada eu vendo, melhor pra mim.
Ontem, assim que cheguei na loja, veio um cidadão homem. Parou na minha frente, quase não falou nada e eu desembestei a mostrar os colares de opala. Como ele só me olhava e não falava nada, achei que ele não falasse inglês, era bem negro, parecia africano. Mas aí, as pouquíssimas coisas que ele falou vieram com um inglês muito do bom. Comecei a achar que ele era meio “especial”. Eu mostrava uma coisa, ele dizia ok, mostrava outra, ele dizia ok, mais uma, ok. Virei pra ele e disse “são 72 libras”. Ok. Peguei a maquininha de cartão de crédito e repeti. “72 libras”. Ok. Pensei “se ele é meio patso não vai saber a senha do cartão”. O cartão aprovou. O cara foi embora e eu fiquei com uma sensação meio Bispo Edir Macedo, mas eu não fiz nada demais, eu só fui boa de lábia. Acho.
As meninas que trabalharam comigo ontem estavam chocadas. “Foi a venda mais fácil que eu já vi”. Foi a venda mais estranha que eu já vi.
Chegou outro sujeito macho. Vai lá, Milena, homem agora é só com você.
– Tá procurando alguma coisa em especial?
– Não, só tô olhando.
Deu dez minutos e mais um saiu com outro set perfeitinho pra mim.
Chegou outro. Mesmo papo, só tô dando uma olhada. Comecei a falar, mais uma vez os olhinhos fixos e um monte de “ok”, pin number e mais um set vendido. 113 libras.
Minha gerente disse que eles entram em transe, então agora sou a vendedora oficial da loja para sujeitos machos. Pra mim, eles estão é tentando entender o meu sotaque.

E dá-lhe goiabinha pro Natal!

* Goiaba, goiabinha e jujuba = semi-jóia.

Por que Paris?

– Por que você adora tanto Paris?
– Você quer motivos?
– Sim.
– Enumerados?
– Sim.
– Por sua conta o risco.

1. Porque Paris é, sem dúvidas, uma das cidades mais lindas do mundo.
2. Ver a torre Eiffel, em qualquer cantinho do olho, de dia e à noite é indescritível.
3. Só Paris tem Saint-Germain Des Prés, o bairro mais descolado, bacana e intrigante que existe.
4. Dá pra comprar todos os cosméticos,  maquiagem e perfumes que você sempre quis por um preço razoável.
5. É lá que fica o Centre Pompidou. E o restaurante do último andar tem uma das melhores vistas da cidade.
6. Só lá se pode assistir ao pôr do sol de Montmartre, num fim de semana à tarde (experiência impagável).
7. Avenue Montaigne é lá.
8. É na Catedral de Notredamme que você verá as rosáceas mais bonitas que já viu (e uma das arquiteturas, também).
9. As pessoas são chiques, elegantes, lindas de morrer e não fedem.
10. Só em Paris dá pra caminhar pelos Jardin des Tuileries e o Jardin du Luxembourg, que ficam especialmente maravilhosos no Outono.
11. Museu D´Orsay. Dispensa comentários.
12. Em Paris você pode tomar um café no Café de Flore ou no Les Deux Magots, onde gente como Sartre, Simone de Beauvoir, Picasso, entre outros, discutiram o nascimento do Existencialismo, Dadaismo, Surrealismo e tantos outros movimentos.
13. Paris tem a Place de La Concorde, que termina na Igreja de Madeleine (maravilhosa) e ostenta o Hotel du Crillon.
14. Só lá você poderá ir de verdade às ruazinhas de Marais. E descobrirá que se fosse pobre de Marais (pobre de “marré”), seria um pobre muito feliz.
15. Tem o rio Sena cortando lindamente a cidade.
16. O Louvre. Dispensa comentários. De novo.
17. O dia em que vir a Université Sorbonne, decorada com o Pantheon de fundo, vai querer ter nascido francês pra estudar lá.
18. Paris tem Sephoras pra ebulir qualquer estrogênio consumista.
19. Caminhar pela longa e reta Champs-Élysées, com o Arco do Triunfo sempre imponente ao fundo é uma delícia.
20. Colocar os pés na Praça da Bastilha, marco da revolução francesa, é só lá.
21. Só em Paris tem a Place Vendôme, com o famoso Hotel Ritz (vale a pena entrar) e a lindinha Place des Vosges, onde tem a casa de Victor Hugo (também vale a pena entrar).
22. Só Paris tem a verdadeira Igreja da Nossa Senhora da Medalha.
22. Só em Paris você come macarons de pistache (é o melhor) da melhor doceria do mundo, Ladurée.
23. Só Paris tem a padaria mais famosa do mundo, com seus pães divinos e carésimos: Pôlaine.
24. Só em Saint-Germain tem a La Hune, livraria mais bacana que já vi.
25. Só Saint-Germain tem a St. Lucia, melhor cantina italiana que já fui (irônico, né, mas é verdade).
26. É lá que tem Galeries Lafayette, Colette, Printemps, Monoprix, Le Bon Marché.
37. Ou Cartier, Chanel, Hermés, Jean Paul Gaultier, Louis Vuitton, Dior, Baccarat, Christian Louboutin, etc, etc, etc.
39. Só lá dá pra andar de Bateaux Mouches no rio Sena.
40. Paris tem o Opéra mais bonito, as esquinas mais bonitas, a arquitetura mais envolvente, o povo mais elegante.
41. Só Paris exala o melhor da cultura, moda, gastronomia… e tudo junto, numa coisa só.

E a cada dez minutos eu soltava outro motivo enumerado. Ainda tem um monte, poderia passar o dia falando. Eu amo Paris.

A gente não perde o prazer de cantar

“Quem não gosta de samba, bom sujeito não é.. é ruim da cabeça ou doente do pé”. Mesmo que você não curta samba, há de reconhecer a carga cultural que ele traz.
Hoje, 2 de Dezembro, é o dia Nacional do Samba.  Surgiu em 1940 para homenagear um de seus maiores nomes, Ary Barroso.  E como este blog não se chama “Samba de Gringo” a tôa, fica aí a minha homenagem para essa raíz forte da terra que eu mais amo neste mundo.
O Samba cresceu em mim com os LPs do vovô, Ary Barroso, Demônios da Garoa, Elizeth Cardoso. Enquanto eu assistia MTV na adolescência, ele dizia que “não escutava nada que não entendesse”.
– Samba como se tivesse um pano de chão nos pés, essa menina. – dizia ele, quando eu e minhas perninhas de cinco anos tentavam sambar.
Vovô era carnavalesco de alma. Saía atrás de bandinha, pulava carnaval, comprava confete e serpentina. Era malandro. E a gente saiu igualzinho.
Este documentário sobre Ary Barroso vale super a pena, tem até declarações do Tom Jobim! Tá em duas partes. Assistam.

Olhar secreto

Se você pensa em mim? Tenho certeza que não. Se se lembra de mim, tenho certeza que sim. Pouca gente me olhava com esses olhos famintos que você tem. Menos gente ainda me tocava com essas mãos leves cheias de desejo, mesmo que fosse num gesto sem intenção nenhuma.
Você se lembra daquela festa onde a gente se encontrou? Eu me lembro muito bem. Você bêbada, me olhou com aquele olhar que só você sabe. O seu olhar secreto, que quase ninguém conhece. Me olhou meio de lado, com a cabeça alta, olhos de álcool e cheios de fome. E eu te ensinei a dançar qualquer coisa que não se dançasse, naquela pista escura e barulhenta, só para fazer um motivo. E o nosso segredo era o calor dos nossos corpos e os arrepios quando nos encostávamos. Como pequenos choques elétricos de aviso dizendo que nenhum de nós podia.
Ainda vejo teu sorriso quando fecho os olhos, aquele olhar secreto está gravado. Às vezes você me atormenta nos meus sonhos, onde eu posso ser livre.
Há um tempo atrás seria muito fácil te esquecer, agora a gente se encontra assim, perdidos em mídias sociais.  Fecho os olhos e tua foto aparece na minha cabeça como frame de um passado que mal existiu. Linda, sempre linda. Como uma mensagem subliminar martelando o fundo das minhas lembranças, se fincando em terra para os sonhos proibidos.
Talvez a gente se esbarre de novo, numa simulada amizade que a gente finge ter. Talvez eu te leve pra dançar só para ter a desculpa de te pegar nos braços e sentir-te perto. E talvez seja assim mesmo a nossa história. Suficiente.