Adaptação é uma palavra simples, mas que de simplicidade não traz absolutamente nada. Com ela vem um medo gigantesco do novo, a angústia do desapego, a frustração de não chegar assim tão rápido no resultado. Já dizia Nando Reis, não vou me adaptar. É como uma barreira psicológica, basta pensar em se adaptar para ir contra.
Pode ser o medo da mudança, o medo de começar do zero, o medo de refazer uma vida inteira pela frente. Vinte e oito anos parece-me não tão cedo mais para tudo isso. Já não tenho a gana dos meus dezoito, já não sei se ainda é tempo de usar aquele velho jargão “se não der certo, a gente recomeça”.
Dez meses se passaram desde o momento em que minha vida toda mudou. O momento em que eu fechei um livro para abrir outro, uma página nova, um recomeço, tudo novo. E bem que me perguntaram ainda em terras de Cabral, “você vai começar a vida do zero?” Foi aí que caiu a ficha.
E eu, que nunca tive medo do novo, sempre preferi arriscar, tanto fui a favor do incerto pelo certo, porque o incerto poderia ser melhor, amarelei.
E naquele aeroporto de Guarulhos eu achei que ficaria todo o meu passado, toda a página virada.
Mas a vida não é bem assim. A gente não “deleta” o que passou. A gente tem memória, e eu tenho memória de elefante. A gente é saudosista, e eu sou a pessoa mais saudosista que já conheci na vida. E é óbvio que toda aquela carga, toda a energia, a pressão, vieram todas nas minhas malas.
E quando eu cheguei aqui, sozinha, com somente um grande amor na mochila, as coisas não foram tão fáceis quanto pareciam nos meus sonhos.
Pra falar a verdade, não foram nada fáceis. Talvez eu nunca tenha contado pra vocês das nossas dificuldades financeiras, do perrengue que é construir crédito num país novo, da aventura de se colocar no mapa como uma pessoa que existe de verdade. Pensa que é só chegar no país e querer um cartão de crédito? Seu nome nunca existiu por aqui, leva-se anos para construir crédito financeiro e pensar em começar alguma coisa. Empréstimo de banco, cartão de débito, conta corrente, documentação, aluguel, emprego, nada é fácil para um cidadão do mundo que começou a existir agora.
Os três primeiros meses deste lado foram os mais difíceis da minha vida. Entre chorar todos os dias e aproveitar o recém casamento, sempre há a primeira opção. Sempre existem as dificuldades e o fantasma da solidão. Todos os dias inteiros, sozinha. Sem ninguém pra conversar.
Mas dizem que o tempo cura tudo e, realmente, o tempo traz a adaptação. A gente é forçado a se adaptar porque já passou tempo suficiente pra isso. E é hora de crescer e encarar as coisas de verdade. É hora de virar adulto.
E pela primeira vez aqui, eu me sinto quase que me adaptando. Tento mais me desgarrar do passado, do Brasil, das coisas que ficaram e planejar mais o futuro. Dói, e isso não quer dizer que o passado signifique menos pra mim hoje. Só diz que é hora de mudar, mais uma vez. Pensar pra frente. Levantar, sacodir a poeira e dar a volta por cima. Entender de vez que essa foi a opção e não dá pra ter tudo ao mesmo tempo.
Se eu tenho quase trinta anos pra recomeçar, sim, eu tenho. Se dá medo começar do zero e não ser mais tão jovem, sim dá, e muito. Mas entre Nando Reis e Lenny Kravitz, hoje eu fico com o segundo. “I´m old enough to see behind me, but young enough to feel my soul*”…
* “Eu sou velho o suficiente para olhar pra trás, mas jovem o bastante para sentir minha alma”
Sabe, tudo que voce escreveu é exatamente o que tenho sentido nesses ultimos dias. Penso que isso se deve ao fato de nossa vida ser tão parecida.
A gente recomeça, mas sempre vai existir um “antes” na frente de tudo.
Sempre tem uma saudade, um medo, o desconhecido… e penso que “adaptar-se” està bem longe da sensação de conforto que um dia tivemos.
Beijosss
Oi Mi
Lindo desabafo…eu imagino o quão seja difícil mudar….principalmente quando a mudança é tão brusca quanto a sua. O que posso fazer por vc é torcer para que a cada dia vc sinta que aí é o seu cantinho e que tudo o que vc fez (e está fazendo) pelo seu amor, vale a pena.
Beijinhos e uma ótima semana
Delma
Eu acabei de escrever sobre o mesmo assunto… vida nova, recomeco.
E dificil, mas foi nossa propria escolha.
bjs
Olá..
Gosto muito do seu blog.
Pra mim você escreve perfeitamente.
Não perca seu tempo.. escreva um livro.. com isso você levara sua literatura pra muita gente e com certeza seria uma coisa uqe irá te fazer muito bem.
Parabéns pelos textos
Sucesso
não
engraçado…quem fez isso, sente falta do que ficou…
quem não tem, sente falta do que nunca fez e tem vontade de fazer…
Mi, identificação total, com cada vírgula. Não fui tão longe, mas a sensação foi a mesma. Que bom que passa, né? Estou aqui faz 5 anos e posso dizer (já faz um tempinho) que minha vida é por aqui. Beijos,