Filho branco

Ai que saudades do meu bebê! Dava tudo pra estar no meio da Vila Madalena, com ele deitado na minha barriga!!!!!!

Reading verde e amarela

E não é que Reading está com seus primeiros ônibus movidos a biodiesel??? Eles são verdinhos e tem escrito “I´m powered by sugar waste!”. Um passou do meu lado hoje, quase dei um beijo nele e cantei “isso aqui ôôôôô, é um pouquinho de Brasil iá iááááá”.

As aventuras da primeira consulta médica

Então, ontem fui na minha super consulta com a enfermeira. Minha primeira consulta no sistema público de saúde inglês, vulgo “porcaria de NHS”.
Foi assim, eu cheguei na clínica – que mais tinha cara de escola primária (e a velha mania inglesa de carpetes até onde a gente não imagina – e esperei. Dei meu nome, sentei numa cadeira e esperei a mulher me chamar.
Veio a tal da enfermeira, falou meu nome (“Melina”, pra variar… ô povinho que não sabe falar meu nome) e eu a segui até uma sala. Sentei numa cadeira numa sala bagunçada com uma maca. Ela mediu minha pressão, perguntou o que podia ajudar e eu falei da pílula. Me fez umas perguntas, preencheu no computador, falava uns “yeah” enquanto eu falava que me irritaram bastante. Imprimiu uma “prescription” (receita médica) e me deu. Foi aí que a ser humana me perguntou quando foi meu último papanicolau. Eu quase respondi “dias antes de vir pra cá, que eu não sou besta”. Mas disse Janeiro só. E ela falou “ah, aqui a gente faz de três em três anos”. O queeeeeee???? Eu tive um ataque de tosse. Como assim, de três em três anos?????????? Tipo, em três anos você tá imune de qualquer doença ginecológica ou sexualmente transmissível??? Minha filha, se alguém pegar AIDS, em 3 anos não dá pra fazer muita coisa!! Fora a quantidade de gente que vai ser contaminada nesses 3 anos!! Respirei fundo e disse “bom, com certeza vou fazer antes disso no Brasil”, rezando pra minha mãe não ter cancelado meu Unimedizinho….
Eu resolvi falar da dor que estou na virilha desde quinta passada, enfiada em casa porque dói quando eu ando… ela continuou com seus “yeah, yeah, yeah” irritantes e disse “espera mais uns dias, se não melhorar aí você marca uma consulta com o médico”. Assim é que funciona saúde pública, minha querida… espera pra ver se passa, assopra!!
Saí da clínica com a minha prescription e uma leve sensação de “tô frita com essa porcaria de NHS”.

Mas o David tinha me falado que geralmente cada prescription custa em torno de 7 libras na farmácia, independente do remédio. Olhei a minha e tinha lá “Yasmin (bendita seja!!!!) 126 tabletes”. Pensei, essa mulher deve ter batido a cabeça, 126 tabletes???? Cheguei na farmácia já pensando se iam multiplicar esses 126 tabletes por 7 ou se iam me perguntar se não era melhor fazer ligadura… de repente, a doce indiana da farmácia diz “six months of contraceptives? ok… they are free”. O queeeee???? Como assim, doce indiana???? Eu pago uns putos duns 50 reais pra cada caixinha de 21 no meu país, aqui eu tenho 126 pílulas de graça???? Quase dei um beijo na doce indiana e me senti uma energúmena por ter trazido 5 meses de estoque de Yasmin. Multiplica por 50…

Mas ok, o anticoncepcional aqui é grátis, mas é só ele. A minha empregada, querida Margareth, pega uma infinidade de diferentes remédios de graça no posto de saúde. E faz papanicolau uma vez por ano. De onde é que tiraram que o SUS é uma bosta??? Pode até não ser perfeito… mas posso falar?? Aqui também tá beeeem longe do ideal. E é o dito “primeiro mundo” hein???

Lonely

Tô com uma estranha sensação de estar escrevendo para as paredes… cadê meus leitores?????

Manhãs vazias…

Essa noite sonhei que estava no Brasil…. com a minha mãe, minha irmã, meu cachorro. Lembro da minha prima, de umas três amigas em lugares diferentes. Lembro que tinha ido ao Brasil para rever todo mundo e estava planejando uma reunião com os amigos, decidia entre bar e baladinha.
Aí eu acordei, a cama estava vazia, o David já tinha ido trabalhar. Eu olhei em volta e aquele quarto não era meu quarto azul. Eu não levantaria para ir ao quarto da minha mãe, eu levantaria para andar sozinha pela casa tentando encontrar algum conforto. Eu não entraria na cozinha, abraçaria meu cachorro, comeria mamão no café da manhã e suco de laranja que a Néia tinha acabado de fazer. Eu entraria na minha pequena sala, ligaria a tv em Gilmore Girls como todas as manhãs só pra quebrar o silêncio ardido. Eu entraria na minha cozinha vazia e sem vida, e faria porridge de aveia, que nada se compara a um bom café com leite, pão com manteiga e mamão.
E a manhã passaria naquele vazio de estar em um lugar onde não é o seu, mas se tem que aceitar, se tem que mastigar o lugar bastante e engolir de uma vez só para ver se digere… de uma vez por todas… quando será que eu vou me adaptar?

Dez a zero

Meu, acabou de acontecer uma das coisas mais estranhas que já aconteceu comigo. Eu perdi um dente de alho. Como assim??? Não sei também, o dente de alho sumiu, evaporou, virou purpurina.
Resolvi fazer um risoto agora pro almoço. Peguei dois dentes de alho gordos, alho orgânico, o dente por si só é gigante. Descasquei os dois na tábua. Enquanto cortei um em pedacinhos, o outro caiu no chão, eu vi. Mas como tava segurando o outro dente, pensei em terminar, e pegar o que caiu depois.
Pois bem. Terminei. Olhei pro chão e cadê o outro?????? Desapareceu. Fiquei meia hora procurando o dente de alho gordo, que seria mega visível no chão da minha cozinha. Mudei de posição pra mudar o ângulo, até fiz uma “reconstituição” com outro dente de alho pra ver aonde ele cairia. Nada. Procurei no meu cabelo, dentro da minha blusa, dentro da luva térmica, até dentro da geladeira fechada e do forno. Tá, ele não deveria cair dentro da geladeira fechada ou do forno, mas vindo de mim não seria impossível que o dente de alho aparecesse no Brasil.
Não tá em lugar nenhum. O risoto já tá pronto, eu já comi e ainda não achei. Eu simplesmente PERDI um dente de alho!!!!!
Vou ter que esperar o David, contar a estória mirabolante e ver se ele acha o dito cujo.
Começo a acreditar no livro que eu li quando era criança “O reino perdido do Beleléu”….

Se eu achar eu volto pra contar.

Use filtro solar

Eu não sei se ainda existe alguém nesse mundo que nunca tenha assistido a esse video. Mas se tiver, tem que assistir. É uma dessas coisas que a gente tem que ver pelo menos uma vez na vida, ele mexe com os seus mais profundos sentimentos, muita gente chega a cair em prantos durante o processo. Eu sempre choro quando assisto. Se existe algum “manual” para a vida, deveria ser este. Se existem bons conselhos, aqui estão. Sempre falei dele nos meus outros blogs, mas hoje assisti de novo…

Pra quem não conhece, apresento “Sunscreen”. Eu fui apresentada a ele em 1999, numa aula da faculdade. E desde então, sempre que me lembro gosto de assistir… são sete minutos que podem mudar todo o seu ponto de vista em relação a vida que você está vivendo agora.

A verdade sobre o filme é que o texto foi escrito em 1997 por uma jornalista americana chamada Mary Schmich, e tinha o nome de  “Advice, like youth, probably just wasted on the young”. Foi publicado na na sua coluna, no Chicago Tribune. Logo a coluna virou uma “lenda” e o texto se espalhou pelos Estados Unidos. Decidiram agregar uma música ao texto, e Mary escolheu “Everybody is Free”. De uma hora pra outra todas as cerimônias de formatura nos Estados Unidos tinham um orador lendo o texto de Mary e “Everybody is free” de fundo musical.

Depois disso, um diretor de filmes australiano, Baz Luhrmann, resolveu mixar o texto narrado com música e o chamou de “Wear Sunscreen – class of 99”. Não existia ainda um video.
Em 1999, a agência de publicidade Brasileira DM9DDB de Nizan Guanaes reuniu imagens através de dois criativos,  Erh Ray e José Henrique Borghi. Surgiu então, “Sunscreen”, uma mixagem de texto, música e imagens que pode despertar emoções que você nunca sentiu na vida.

Agora, assista, coloque em fullscreen, desligue a TV, e se entregue…

Pra quem quiser o link do youtube é http://www.youtube.com/watch?v=ol2fN0bZCso

Toda vez tem uma frase que me toca mais… e a que tem mais martelado a minha cabeça é essa:

Understand that friends come and go, but with a precious few you should hold on. Work hard to bridge the gaps in geography and lifestyle, because the older you get, the more you need the people who knew you when you were young.”

(Entenda que amigos vêm e vão, mas você deve segurar alguns poucos e preciosos. Trabalhe duro para preencher as lacunas na geografia e no estilo de vida, porque quanto mais você envelhecer, mais vai precisar daqueles que te conheceram quando você era jovem)

Panorama

As coisas aqui desse lado do mar não andam muito bem. Essa semana foi anunciado que estamos prestes a entrar em um período de recessão. Épocazinha boa pra eu vir morar aqui hein? Nessa semana, milhares de trabalhadores da construção civil perderam emprego. E eu agradeço muito, porque faz três meses que o David saiu desse campo. Se ele estivesse ainda, provavelmente eu estaria perdendo muitas noites de sono.
A economia por aqui anda mal das pernas. Tudo tem aumentado de preço, principalmente devido a alta do petróleo, a gasolina aqui tá caríssima. E quando sobe a gasolina, sobe todo o resto. Comida, por exemplo. Eu já cheguei a viver aqui em época que comprava alface empacotado, já lavado, por 0,60 centavos. Hoje tá 1,29.
E tudo isso vira uma grande bola de neve. Emprego por exemplo. Faz mais de dois meses que tenho aplicado para vagas e nada. Fui em duas entrevistas só. E nem me deram resposta até hoje. Isso é muito incomum, porque geralmente as empresas costumavam dar respostas. Eu já tentei contatá-los e nada. Juro que achei que seria muito mais fácil conseguir emprego aqui, mas tô completamente chocada. Claro, tenho procurado na minha área, o que acaba sendo específico demais.
Enquanto isso eu vou procurando, mas estou quase me rendendo aos subempregos, vendedora, barista, whatever. Se eu tiver que dar um passo pra trás pra dar dois pra frente, assim é que vai ser.
Vamos ver e esperar o que acontece desse lado.

Explicando: A Inglaterra sempre teve uma economia estável. A maior moeda da Europa, a mais forte, a mais cara. O que está acontecendo aqui não é muito difícil de perceber. O país está quebrando. Na verdade, desde que a União Européia abriu para a Europa do Leste, a Inglaterra tem descido cada vez mais pro buraco. O que acontece é que a União Européia é um acordo, certo? Um acordo entre barreiras e moedas. A Inglaterra não mudou a moeda pra Euro, continuou com a Libra, que é mais ou meos 50% mais cara. De repente, os países pobres da Europa entram na lista da UE. O que você faria? Tentaria a vida na Itália pra ganhar em Euro, ou na Inglaterra pra ganhar em Libra? Pois é. Aqui está saturado de gente da Europa do Leste. Polônia, Bulgária, Romênia, Lituânia, Eslováquia, Eslovênia, Estônia. Tá todo mundo aqui. O mercado de construção civil é o que está mais saturado. Por isso começou a quebrar. O pior de tudo não é o fato dos caras virem pra cá e trabalharem somente. Aqui você pode pedir inúmeros benefícios do governo: casa, ajuda-aluguel, dinheiro pra quando está desempregado, bolsa-criança, bolsa-mãe-solteira, tudo o que você possa imaginar. E sendo da União Européia, trabalhando aqui, já te dá o direito (detalhe: eu não posso pedir benefício nenhum até completar 3 anos de casada, mesmo se eu tiver filhos – absurdo). Maaaaas, a mulher do polonês que ficou lá no interior da Polônia, pode. Ele trabalha aqui, e ela ganha benefício da Inglaterra lá. Tô falando por experiência própria, isso acontece com um polonês que trabalhava com o David. Bom, agora vocês imaginam. Esse país aqui já é a India misturada com o Paquistão, por causa do acordo de ex-colônia britânica (eles também podem vir, trazer a família inteira, ganhar casa e viver de benefício). Se o país já não tava dando conta dos indianos e paquistaneses, imaginem agora.
A Inglaterra tem que fazer alguma coisa, se não a situação vai ficar feia mesmo. E a única saída que eu vejo é adotar o Euro. Deixar de ser o alvo “money-making” da Europa, deixar o povo se espalhar pra todos os cantos, e não só aqui.