Claustrofobia de limites

Eu tenho um senso de liberdade muito grande. Mas daquela liberdade com lealdade, não estou falando de libertinagem. Sou filha do mundo, nasci pra ficar descalça com o pé na terra, pra sentir o vento no rosto. Tenho claustrofobia de paredes, muros, limites.
Meu corpo pede adrenalina, endorfina, serotonina, ocitocina, todo esse batalhão de hormônios e enzimas que fazem a vida valer um pouco mais a pena.
Tenho mudado muitos meus parâmetros. Este ano tem sido o ano da avaliação. O que plantei, o que tenho colhido, o quanto isso condiz com quem eu sou, o quanto isso diverge da minha essência, o quanto as coisas têm valido a pena. E ainda não cheguei a muitas conclusões, embora tenha opiniões super racionais sobre mim mesma, sem romantismo nenhum. Foi um primeiro semestre de encontros, literalmente. Essencial, já que eu estava completamente perdida em mim mesma.
Hoje continuo perdida, não me entenda errado. Apenas descobri novos modos de me olhar, novos ângulos. Entendi que nada que me tire da minha essência é imprescindível na minha vida, muito pelo contrário. O que me desvia não me pertence.
Cansei de me perder nas estradas. Cansei de pegar as estradas dos outros, embora achasse serem minhas. Estou novamente, 7 anos depois, na mesma encruzilhada que encarei um dia. É hora de tomar o meu rumo, independente de qualquer distração. É hora de focar no que eu gosto, no que me importa, no que me faz ser quem sou. Hora de ser um pouco mais egoísta e menos altruísta. Por isso ando com essa sede quase insaciável de voltar ou começar a fazer as coisas que sempre quis. E que fique claro que isso não é uma crise dos trinta, já que meu pé está na casa dos trinta e dois. Também não é uma fase. É um quase desespero de ser quem eu sou de verdade: artista, coração, alma livre, corpo em movimento. Adrenalina.
É entrando na minha estrada que encontrarei as verdadeiras pessoas. Quem tiver os mesmos objetivos que eu, lá estará, caminhando ao meu lado.

Fortaleza

Eu não sou assim. Não sou de ostentar carências e inseguranças, muito menos gostaria que você conhecesse essa parte minha. Pra você, como para todo mundo, eu sou aquela pessoa cuja força não cessa nunca, aquela que cai um milhão de vezes e levanta sozinha, aquela que aprendeu a tomar murro na cara da vida e continua sorrindo, esperando por um dia melhor. Eu sou aquela que veste a armadura em tempo integral, que não se protege dos ferimentos, mas que arca com a tarefa de limpá-los, estancá-los e deixar que se curem sozinhos. Nunca precisei do apoio de ninguém para tomar as minhas decisões, nunca deixei ninguém me pegar no colo quando as lágrimas caíam. Tudo o que fiz na minha vida foi agir e suportar a reação.
Mas nem mesmo a gente, que é feito de aço, consegue arcar com essa barra de ser forte o tempo todo. Essa obrigação ridícula de ser feliz todos os dias. E isso não significa que não se seja feliz: melancolia, tristeza, vazio são atributos nobres de qualquer coração que pulse. Nobres, pois é preciso ser nobre para mostrá-los e raramente eu o faço.
Ser fortaleza geralmente é uma fuga. Não é a minha sempre, isso eu garanto. A minha fortaleza é feita de força mesmo. Os meus muros, de chatice. De carência, de insegurança, de insistência. Testo os limites de quem se importa comigo para ver se correspondem. Não sou do tipo de gente que se vira do avesso nessas horas, que some e volta renovado. Eu chamo. Eu grito um apelo surdo, uma voz estridente sem som para ver se alguém percebe. Eu vou atrás. Eu fico chata, eu fico muito chata. E nem eu mesma sei suportar a minha chatice.
Mas não pense que me orgulho desse lado obscuro da minha personalidade, não se iluda. Preferia mil vezes ser dessas pessoas ermitãs, que se  isolam do mundo para recolherem os cacos.
A verdade é que se eu me isolasse, me perderia ainda mais. A verdade é que não queria que conhecesse as minhas fraquezas, mas sou exposta demais para escondê-las. Me entenda como um coração humano que de vez em quando dói e não é por culpa de ninguém, senão de mim mesma.  E me cuida quando preciso.

 

 

Coração maior do mundo

Quando você me conheceu, há quase dez anos, eu era uma menina que acreditava. Eu tinha sonhos, planos e o maior de todos eles era o amor. Era romantiquinha, acreditava em príncipe encantado, em contos de fada reais e até mesmo no para sempre.
Você, por outro lado, era muito parecido com o que é hoje. Um menino sem muitos planos e o maior coração do mundo. E foi exatamente por esse maior coração do mundo que me apaixonei. Você me faz rir. Você desbrava o mundo comigo. Você me ensinou coisas que nunca teria aprendido sozinha. Você me ensinou o que é amor incondicional, e também as dores mais doloridas que já tive.
E hoje sou tão diferente. Já não gosto mais de música eletrônica, já não passo carnavais em Salvador. Eu mudei tanto que às vezes nem eu me reconheço. Passei a desacreditar, muito mais do que acreditar. Em tudo. Já não acredito mais em para sempre, já não tenho minhas crenças religiosas tão firmes como antes. Mas olha nos meus olhos enquanto te falo, ainda acredito no amor. Ainda acredito em nós.
E embora me sinta tão longe daquela menina sonhadora, me encontro mulher nela todos os dias. Apenas pelo coração.
Agora segura na minha mão e vem caminhar comigo. Ainda tem estrada.

Ites gringas

Mudar de país é descobrir coisas em você que não conhecia antes. Eu, por exemplo, nunca tive alergia a nada. Foi só morar aqui por um tempo para descobrir uma horrorosa labirintite irritativa no inverno, que me deixava tonta de não conseguir andar na rua. Estranho? É o efeito dos ventos do norte, meu amigo. Experimente-os na sua orelha para perder completamente o equilíbrio. Por causa disso, passo três meses tomando Gingko Biloba.
Na primavera e verão, outra alergia desconhecida: bloody hayfever. Alergia a pólen – no meu caso, de grama, o que é pior. Paulistanos não têm acesso ao pólen de nada, convenhamos. Não entendia as constantes dores de cabeça, bem parecidas com uma crise horrível de sinusite. Olhos inchados, vermelhos, lacrimejando. Nariz escorrendo, coçando. Tem dias que parece que te deram uma surra e uma bigornada na cabeça.
Daí você pensa comigo, pobre criatura, tem alergia a pólen e foi morar no mundo encantado dos cortadores de grama. Sim, porque já acho que isso chega a ser cultural e os ingleses começam a substituir animais de estimação por cortadores de grama. Aliás, isso é o meu primeiro sinal de que a primavera chegou: bloody lawn mower. Tipo celebração, dança da chuva e tal, saca? Aqui é assim: nos primeiros raios de sol o povo sai pro jardim, em seus rituais de adoração. É um flashmob do ditado que fala da grama do vizinho ser mais verde.
Estou escrevendo este texto porque a viada da vizinha tá cortando a porcaria da grama, e ela cortou não faz nem uma semana. A dança do sol aqui na terra dos teletubbies é esporádica, frequente e cheia de surpresas. Viada. E eu quase me matei atrás do meu remédio.
Quer ver alguém que sofre de hayfever enlouquecer? Ligue um cortador de grama sem dó do lado dele (este lado pode ser metros e metros de distância). Mas o faça enquanto ele ainda não tiver tomado o antialérgico. Melhor: o faça às seis da manhã, enquanto ele ainda estiver dormindo. Daí a sequência é assim: ao primeiro sinal do bloody cortador de grama, você dá um pulo da cama (estilo alarme de incêndio). O quarto tá escuro, você tropeça no pé da cama, no celular, na cômoda e, se for como eu, até no fio de cabelo que tá no chão. Bate a cabeça na prateleira, SE MATA no quarto, tentando achar o remédio no escuro, porque o desespero é tanto, galera, que você nem pensa em acender a luz. Lembra do cheiro da torta do pica-pau, que ele voava em direção à fumacinha? É tipo assim que eu vejo o pólen chegando, só que eu fujo dele (só dá pra ver na minha cabeça). É uma race against it. Quem chega primeiro: a porcaria do pólen ou o seu remédio.
Daí você toma o remédio, fecha todas as janelas, se esconde debaixo do edredom, porque tem outro segredo: se a filha da puta da hayfever chegar antes do antialérgico fazer efeito, já era. É só um por dia.

 

Memórias para @karicast_

Era muito grande pra tuitar, virou post.

 

Eu tenho uma memória absurda. Mas absurda mesmo. De lembrar da minha festa de dois anos de idade, detalhes que não estão em fotos, videos, slides. Quando a minha irmã ler isso, vai querer me bater.
Estou ouvindo “Trem da Alegria” no youtube e lembrando uma cena específica.
– Eu, minha mãe, meu avô e minha irmã no carro (não me lembro se era a Parati da mamãe, ou o Golzinho do vovô).
– Frente da primeira casa onde a gente morou, na Vila Madalena.
– Nós duas no banco de trás, Trem da Alegria no rádio tocando “Ioiô”.
– Karina, viciada em “Ana Maria”, comendo dois bolinhos de chocolate com recheio de baunilha.
– Nós duas lendo os ingredientes do pacote e planejando fazer “Ana Maria” em casa.

 

Date a girl who reads (by Rosemarie Urquico)

Recebi este texto por email uma vez, e não tem como não compartilhar. Não sei o link original, mas a autora é Rosemarie Urquico. Deixo falar por si só, para os que entendem inglês (leiam em inglês). Os que não entendem, podem ler uma versão ok traduzida aqui.
 

Date a girl who reads. Date a girl who spends her money on books instead of clothes. She has problems with closet space because she has too many books. Date a girl who has a list of books she wants to read, who has had a library card since she was twelve.

Find a girl who reads. You’ll know that she does because she will always have an unread book in her bag.She’s the one lovingly looking over the shelves in the bookstore, the one who quietly cries out when she finds the book she wants. You see the weird chick sniffing the pages of an old book in a second hand book shop? That’s the reader. They can never resist smelling the pages, especially when they are yellow.

She’s the girl reading while waiting in that coffee shop down the street. If you take a peek at her mug, the non-dairy creamer is floating on top because she’s kind of engrossed already. Lost in a world of the author’s making. Sit down. She might give you a glare, as most girls who read do not like to be interrupted. Ask her if she likes the book.

Buy her another cup of coffee.

Let her know what you really think of Murakami. See if she got through the first chapter of Fellowship. Understand that if she says she understood James Joyce’s Ulysses she’s just saying that to sound intelligent.  Ask her if she loves Alice or she would like to be Alice.

It’s easy to date a girl who reads. Give her books for her birthday, for Christmas and for anniversaries. Give her the gift of words, in poetry, in song. Give her Neruda, Pound, Sexton, Cummings. Let her know that you understand that words are love. Understand that she knows the difference between books and reality but by god, she’s going to try to make her life a little like her favorite book. It will never be your fault if she does.

She has to give it a shot somehow.

Lie to her. If she understands syntax, she will understand your need to lie. Behind words are other things: motivation, value, nuance, dialogue. It will not be the end of the world.

Fail her. Because a girl who reads knows that failure always leads up to the climax. Because girls who understand that all things will come to end. That you can always write a sequel. That you can begin again and again and still be the hero. That life is meant to have a villain or two.

Why be frightened of everything that you are not? Girls who read understand that people, like characters, develop. Except in the Twilight series.

If you find a girl who reads, keep her close. When you find her up at 2 AM clutching a book to her chest and weeping, make her a cup of tea and hold her. You may lose her for a couple of hours but she will always come back to you. She’ll talk as if the characters in the book are real, because for a while, they always are.

You will propose on a hot air balloon. Or during a rock concert. Or very casually next time she’s sick. Over Skype.

You will smile so hard you will wonder why your heart hasn’t burst and bled out all over your chest yet. You will write the story of your lives, have kids with strange names and even stranger tastes. She will introduce your children to the Cat in the Hat and Aslan, maybe in the same day. You will walk the winters of your old age together and she will recite Keats under her breath while you shake the snow off your boots.

Date a girl who reads because you deserve it. You deserve a girl who can give you the most colorful life imaginable. If you can only give her monotony, and stale hours and half-baked proposals, then you’re better off alone. If you want the world and the worlds beyond it, date a girl who reads.

Or better yet, date a girl who writes.

Gorila-pet

Eu tive um sonho, vou te contar, eu me atirava do oitavo andar. Mentira. Sonhei com um puta dum gorila. Tão grande que tô com medo dele até agora.
O gorila era meu pet, animal de estimação. Não tinha nome, chamava gorila mesmo. Eu tinha uma missão no sonho: trocar o jornal dele, pra ele fazer xixi. Claro, porque gorilas fazem xixi no jornal. A verdade é que eu morria de medo do meu gorila, ele queria fazer xixi, estava agitado, bravo, se levantava em uns cinco metros de altura e batia no peito. Eu corria e ia fechando as portas entre a gente, crente que macaco não sabe abrir porta.
Mas eu ia fechando umas duzentas portas, ô casa que tinha porta, essa do sonho. O gorila vinha atrás de mim, sedento por xixi. Eu escutava as portas se abrindo e as batidas no peito, tremia e não conseguia colocar o jornal no chão.
Quando o barulho ficou perto demais, eu saí correndo e me tranquei na geladeira. Daí eu devo ter morrido, ou congelada ou de ataque cardíaco quando o gorila abriu a porta.

OH, WAIT. O gorila era meu sobrinho de quatro anos arrombando a porta do banheiro enquanto eu fazia xixi?? Tô confusa.

Sobre coelhos

Olhando bichos pra adoção no fim de semana, eu piro num coelho:

– Babe, olha esse coelhooooo, tá pra adoção também!!!!!
– Mmmm, pena que a gente não se mudou ainda…
– Meudeusdocéu, olha que cara gorda linda!!! Agora eu quero um coelho cinza, gordo e peludo igual a esse. Que nome a gente daria?
– Nome de jogador de futebol.
– Pato.
– Mas pato não é duck em português?
– Ué, você teve um gato que se chamava Cat e eu não posso ter um coelho chamado Pato???

 

Agora eu quero muito um coelho chamado Pato. Muito.