Uma imagem vale mais

Tá nevando há 24horas. A Inglaterra tá em estado de choque, chamando a coisa de “Big Freeze”, “Big Foot” ou algo do gênero hohoho (pra mim tá mais pra “O dia depois de amanhã). Enfim, tem mais de 40cm de neve acumulada lá fora, eu fui trabalhar, dei uma de louca e fechei a loja em 1 hora porque ninguém mais tinha aberto.
Não parou de nevar desde às 17:30 de ontem. Esse video foi feito hoje, às 11:00h. Repara que a cidade tá meio fantasminha camarada…. sem ônibus, sem lenço, sem documento. Dessa vez eu não caí porque ainda não virou gelo, mas amanhã é outro papo.
E quem reclamar do calor no Brasil leva uns sopapos virtuais! Rá.

Update

– Tá um frio polar aqui nesse fim de mundo. Ontem fez MENOS dez, coisa que você achava que nunca ia ver na vida.
– Tá nevando hoje desde às 17:30h, sem parar. “Severe weather warning” garantindo que vai bater o recorde dos recordes. Nunca vi tanta neve assim na Inglaterra. O mundo tá perdido mesmo, ainda nem é fevereiro!!!! Já tem 20cm de neve acumulada em Reading e a previsão é non-stop até quinta-feira. Amanhã vou acordar achando que me abduziram pra Rússia.
– Sexta tenho a tal da prova da cidadania inglesa, que eu tenho que fazer pra tirar o visto de permanência. Tô aqui tentando entender uns alhos e bugalhos que nem inglês sabe, de um livro muito dos mal escritos. Torçam por mim.
– Sem tempo pra nada a não ser tuitar, estudar a porcaria do livro, pensar no visto, vender goiaba, comer e outras cositas mas…
– Volto em breve com um “manual de sobrevivência no frio europeu”. Se eu sobreviver e não virar uma estátua brasileira de gelo. Se eu virar, que vire perto do Oscar Wilde, assim, pra dar uma enfeitada.

E não me falem que estão morrendo de calor, derretendo, suando o bigode e coisa e tal, e que queriam estar aqui. Queriam nada. Só quem tá aqui ou já passou por isso sabe o que é. Friozinho brasileiro é fichinha. Friozinho em viagem de turismo é bacana, dura pouco. Ter que sair na neve pra trabalhar, sentir o nariz congelado e perder os sentidos nas mãos não é. Então continuem suando aí que é mais legal. (É, tô de TPM).

Gosto de gente

Recebi este texto da minha tia, por email, escrito assim: “Especialmente pra você, minha querida Milena”.
Amo tanto as minhas tias…

“Eu gosto de gente que vibra, que não tem de ser empurrada, que não tem de dizer que faça as coisas, mas que sabe o que tem que fazer e que faz. A gente que cultiva seus sonhos até que esses sonhos se apoderam de sua própria realidade.
Eu gosto de gente com capacidade para assumir as conseqüências de suas ações, de gente que arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, que se permite, abandona os conselhos sensatos deixando as soluções nas mãos de Deus.
Gosto de gente que é justa com sua gente e consigo mesma, da gente que agradece o novo dia, as coisas boas que existem em sua vida, que vive cada hora com bom ânimo dando o melhor de si, agradecido de estar vivo, de poder distribuir sorrisos, de oferecer suas mãos e ajudar generosamente sem esperar nada em troca.
Eu gosto da gente capaz de me criticar construtivamente e de frente, mas sem me lastimar ou me ferir. Da gente que tem tato.
Gosto da gente que possui sentido de justiça.
A estes chamo de meus amigos.
Me gosta a gente que sabe a importância da alegria e a pratica.
Da gente que por meio de piadas nos ensina a conceber a vida com humor.
Da gente que nunca deixa de ser animada.
Gosto de gente que nos contagia com sua energia.
Gosto de gente sincera e franca, capaz de se opor com argumentos razoáveis a qualquer decisão.
Gosto de gente fiel e persistente, que não descansa quando se trata de alcançar objetivos e idéias.
Me encanta a gente de critério, a que não se envergonha em reconhecer que se equivocou ou que não sabe algo.
De gente que, ao aceitar seus erros, se esforça genuinamente por não voltar a cometê-los.
De gente que luta contra adversidades. Gosto de gente que busca soluções.

Gosto da gente que pensa e medita internamente. De gente que valoriza seus semelhantes, não por um estereotipo social, nem como se apresentam.
De gente que não julga, nem deixa que outros julguem.
Gosto de gente que tem personalidade.
Me encanta a gente que é capaz de entender que o maior erro do ser humano é tentar arrancar da cabeça aquilo que não sai do coração.

A sensibilidade, a coragem, a solidariedade, a bondade, o respeito, a tranqüilidade, os valores, a alegria, a humildade, a fé, a felicidade, o tato, a confiança, a esperança, o agradecimento, a sabedoria, os sonhos, o arrependimento, e o amor para com os demais e consigo próprio são coisas fundamentais para se chamar GENTE.
Com gente como essa, me comprometo, para o que seja, pelo resto de minha vida… já que, por tê-los junto de mim, me dou por bem retribuído.”

(Mário Benedetti)

Virada

Dia 31 de Dezembro de 2009, 23:45h em Reading, Inglaterra.
Sofá aberto, velas, rosas, televisão ligada esperando os fogos em Londres, Paolo Nutini cantando, champagne pronta pra ser estourada. Inverno. Três graus negativos lá fora, clima quente aqui dentro.

– Ihhhh… mas assim a gente vai passar o reveillon sem usar cor nenhuma… A calcinha é nova…
– Relaxa, a gente tá branco.

(Hahahaha)

Let it snow, o cacete…

A neve até já derreteu e só agora eu criei vergonha na cara pra contar pra vocês como foi.
Então, começou a nevar na madrugada de Sexta-Feira, dia 18. David me acordou de manhãzinha e disse pra eu ir até a janela. Eu parecia uma criança feliz que espera a viagem pra Disney no dia seguinte. Nevava muito. Mas muito. E o jardim todo estava branco. Não consegui dormir mais, óbvio.
Dia seguinte fui trabalhar e vi a neve caindo lá fora do shopping. Na hora do almoço, não sei se por frio ou emoção, até esqueci meu cartão de débito no mercado. Tá, foi o frio. O frio daqui congela meu cérebro, eu tenho certeza que entro em hipotermia… não funciona nada!!!
Começou a nevar muito perto das 14h e eu saí às 16h. Saí da loja com a Helly, uma das meninas que trabalha comigo, e fomos por dentro do shopping até o rio. Cena de filme. Cada uma puxou uma porta do shopping e um “uaaaaaaau” duet surgiu naquele momento. Nunca vou me esquecer dessa cena, a neve caindo maciçamente em cima da beira do rio, as crianças brincando, o dia escurecendo (sim, escurece às três e pouco no inverno).
Eu ACHEI que tinha oito anos e fui pulando, com a neve caindo em mim e dando gargalhada. Subi uma escadinha, desci uma escadinha e eis que surgiu o meu grande problema: catapuf. Fui direto pro chão. Porcaria de neve que escorrega. Doeu, machuquei minha mão, mas levantei, sacodi a NEVE e dei a volta por cima. Continuei o percurso até em casa sem a Helly.
Comecei a perceber que minha bota não dava conta e eu meio que escorregava em algumas partes. Uma mulher na minha frente caiu três vezes. E ela caía e gritava uuuuui. E eu ria e esperava a minha vez.
Demorei séculos pra chegar em casa porque queria tirar foto. Brasileira deslumbrada, já viu neve, mas nunca ficou embaixo da nevasca. Ai que feliz que eu tava… Quarto inverno nesse país e eu me sentia uma virgem de neve.
A neve cai como chuva, né gente. E assim, nem sempre adianta guarda-chuva (como não adianta pra chuva daqui também). E, coisa que você só aprende aqui, a neve derrete em contato com o corpo. Óbvio. Aí você fica molhado.
E também sabem que gelo queima, né? Então vai vendo a tortura. Eu feliz, com os olhinhos olhando pro céu, de onde cai tanto algodãozinho!!!! Pá, pá, pá. Começou a doer. Muita neve batendo no meu rosto, caiu um floco dentro do meu olho e eu já comecei a xingar, tava queimando. Mas continuei tirando foto.

Esse momento foi 1 segundo antes da neve no olho... Olha o estado da criança...

Na Watlington Avenue, rua que virou o tormento da minha vida, tava tudo branquinho. Mas a neve em si não é tão problemática assim pra andar, ela dá atrito com o sapato, então eu fui. Devagarinho, mas fui.
Cheguei em casa com neve até no sutiã. O topo do meu gorro era quase um Everest. E eu ria, vermelha, queimada, com a mão doendo. E nesse dia nevou das 14h até o dia seguinte.
Dia seguinte lá fui eu trabalhar de novo. Aí a neve já tava pisada, de tanta gente andando em cima. Os próximos dias foram um tormento. O esquema era andar tipo Happy Feet. Bracinhos abertos, passos arrastados, olhando pra baixo sempre. Chegava em casa com dor nas costas, né, meia hora andando feito pinguim, eu não aprendi isso quando era criança!
O povo daqui é patinador profissional, minha gente. Polonês, então, que vive com -20 graus, olhava pra mim com cara de “que que é essa pobre coitada” (veja a cara da loira me olhando no video “Micastino vai pra casa”… certeza que é polonesa!) Eu me sentia uma criança de um ano tentando me equilibrar.
A Watlington Avenue virou uma pista de patinação. Não havia lugar pra se esconder. Caí lá umas cinco vezes. A sorte é que eu tinha tanta camada de roupa que os tombos nem doíam tanto… No video eu comecei a filmar dessa avenida.
E vocês acham que só aí que a gente reclama do governo, é! Eu moro do lado do hospital mais importante de toda a região de Berkshire. Os caras jogaram sal na rua (o sal derrete a neve) e não jogaram na calçada!!! NEM na calçada do hospital. Inconformada.
Foram dias assim. Depois, pra ajudar mais, choveu em cima da neve. Com menos alguma coisa, virou outra camada de gelo. Pra mim, aquilo tudo já era uma grandessíssima merda. Eu botava o pé pra fora do prédio e já caía. Não aguentava mais levar tombo. Juro. Um dia tive que ir pro trabalho de táxi, porque na tentativa à pé  eu já tinha caído três vezes em uma faixa de 10 metros, imagine o que seriam 2 kilômetros assim.

Agora tem mais previsão de neve pra essa semana. E eu não tô nem um pouquinho empolgada. Próxima vez, juro que compro um par de skis…

É cedo, ou tarde demais?

Essa música passou pela minha vida em tantas fases. Sempre me faz pensar em algumas pessoas, alguém especial que veio, ficou e passou…
Em algumas situações ela foi simplesmente perfeita.


Você apareceu do nada
E você mexeu demais comigo
Não quero ser só mais um amigo
Você nunca me viu sozinho
E você nunca me ouviu chorar
Não dá prá imaginar quando
É cedo ou tarde demais
Prá dizer adeus
Prá dizer jamais

Às vezes fico assim pensando
Essa distância é tão ruim
Porque você não vem prá mim?
Eu já fiquei tão mal sozinho
Eu já tentei, eu quis chamar
Não dá prá imaginar quando
É cedo ou tarde demais
Prá dizer adeus
Prá dizer jamais

Eu já fiquei tão mal sozinho
Eu já tentei, eu quis…
Não dá prá imaginar quando

É cedo ou tarde demais
Prá dizer adeus
Prá dizer jamais

É cedo ou tarde demais…


2010, o ano dos 30

Cara, quando eu era pequena 2010 era alguma coisa muito distante. Como eu nasci em 80, sempre soube que em 2000 teria 20 anos, em 2010, 30 e assim por diante. E, como toda boa menininha, achava que com 30 anos estaria uma velha mãe-de-família, fazendo bolinho de chuva à tarde e trabalhando de dia.
2009 foi um ano muito esquisito pra mim. Muitas dúvidas, muita saudade, muito trabalho pesado. Algumas muitas frustrações profissionais, a fase financeira mais difícil da minha vida e uma pequena crise no casamento já resolvida.
Então fico aqui, esperando que 2010 venha logo. Se a cada ano novo nossas esperanças se renovam, que seja assim. Que 2010 varra este 2009 de mim.

Natal foi bom aqui em casa, só eu e o David, já que a família dele é um vaso quebrado que não cola mais mesmo. Trabalhei dia 24 até às 14h e saí pro Marks & Spencer em busca de um peru (brasileira desavisada, quase tem que substituir por frango… não havia um peru sequer, até alguém devolver na prateleira e eu pular em cima). Fiz uma ceia bem inglesa, porque se tem uma coisa que eu adoro aqui é ceia de natal: peru com molho de cranberries.
Dia 25 fomos no parque fazer o snowman!! Hoje, finalmente, tenho dois dias de folga juntos! Em 45 dias eu só tive 5 dias de folga, isso explica o porque tenho dormido 12 horas – coisa que eu não fazia desde os meus 15 anos, depois de tomar sol e ficar com insolação.

Dia 31 eu trabalho até às 15h e dia 01 eu tô de folga, porque disse pra minha gerente que é contra a religião brasileira trabalhar no dia 1o. do ano hahahaha. Tipo, qual religião brasileira??? Hahaha, adoro.

Precisava contar pra vocês o bafafá que tá na loja, a gerente querendo promover a Nicola à supervisora, e as outras meninas revoltadas pedindo pra que seja eu, incluindo o Head Office. Mas pra ser bem sincera, não tô muito preocupada. Não vou ficar vendendo goiaba pro resto da vida, preciso de um rumo profissional logo. E a resposta? 2010.

Além disso, meu visto expira dia 11 de janeiro e eu só consegui marcar a tal da prova de cidadania pro dia 08 de janeiro. Também não vou me estressar com isso, vou deixar toda a papelada pronta, fazer o teste e mandar tudo em seguidinha. Chega de me estressar com visto, só de pensar na palavra me dá gastrite. Já disse que se nada der certo eu viro hippie, né?? Vão me ver na praia vendendo sanduíche natural, bijuteria e fumando um. Hahahaha.

Então é isso. Este é o ano dos meus 30 anos e essa é a única certeza que eu tenho. E eu quero que seja um dos melhores anos da minha vida!

Volto logo pra contar do meu tormento com a neve durante essa semana….

Benjamim

Meu primeiro boneco de neve, feito hoje – dia de Natal, logo de manhã.
Acordei que nem uma criança que espera o Papai Noel, torcendo pra ainda ter neve no parque!! O Benjamim ficou lind0!!!!

FELIZ NATAL!