Ele entrelaçava as pernas na dela, mas o calor não passava pelos poros. Ela, justo ela, que tinha todo aquele coração remendado, cheio de buracos, cicatrizes e dores, porém tão solto, tão vago, tão amplo, não entendia a falta de leveza:
– do que você tem medo?
– de me apaixonar por você.
– e por que isso seria ruim?
– não seria ruim, eu só não sei lidar.
– então não tente lidar, para de lutar, de remar contra a maré. o que você sente, menino, já tem crescido aí dentro há algum tempo. de nada adianta se proteger do que se cultiva. baixa essa guarda, abre algumas frestas dessa muralha que um dia construíram em você, não deixa a dor do que passou matar o que pode ser. para de pensar tanto, de imaginar tanto, de projetar tanto e vive. eu só preciso de você aqui, agora, dane-se o depois. você gosta de estar comigo e eu gosto de estar contigo, do que mais você precisa? a vida é tão efêmera, baby. a impermanência e a inconstância são cruéis com quem espera o felizes para sempre. o futuro é agora, não há nada amanhã e o ontem é só memória. então vive. vive isso aqui, essa pele na minha, esse gosto só nosso, esse coração acelerado que você insiste em calar com a tua bagunça emocional, vive esse mundo inteiro que você descobre quando nossos olhos se esbarram, esse monte de coisa minha que você adora, vive nós dois aqui, o cheiro do meu pescoço, essa vontade de ficar um mais um pouco, vive essa barreira desmoronando aos pouquinhos toda vez que seus olhos refletem o meu sorriso. vive isso aqui e não pensa mais. não precisa ter medo, eu nunca consegui machucar ninguém que não fosse eu mesma.