Sou feita de inteiros estraçalhados.
Eu não sei lidar com os meus vazios. As faltas e os excessos me consomem.
No meio, o abismo.
Limbo.
– passo a maior parte da minha vida entre os dois extremos do abismo. evito olhar para o limbo. não há como descrever um vazio sem fechar os olhos, a densidade do vácuo queima lentamente cada ponta do meu corpo, eu flutuo em queda, o ar pesado – tão cheio de nada – me suga os brônquios. expiro. eu não consigo inspirar. sufoco. tudo o que me sai, jorra, derrama, me afoga. engasgo. eu deslizo por todos os meus poros, a falta desce viscosa pela garganta.
A escuridão me cega.
Eu não sei viver nos meios.
Eu preciso de inteiros, ainda que estraçalhados.