Eu queria te dizer que senti sua falta esses dias, mas não precisa dizer nada, só quis te dizer assim, solto, como um
desses sussurros no ouvido. E que vou continuar sentindo sempre e que vai ser bem difícil me desacostumar com tudo isso, com a casa vazia, com você dobrando aquela esquina olhando para trás. Porque o coração ainda bate.
E eu queria que você não saísse da minha vida e não me esquecesse assim, mas saiba que eu entendo se tiver que ir. E vou tentar me conformar mesmo quando doer, e me policiar pra não te pedir nada além do que pode me dar. E queria te dizer que espero continuar ocupando ainda o mesmo lugar em você, mesmo que de longe, e não é pretensão nenhuma, é quase um desespero de querer ter significado tanto na sua vida quanto você significou para mim. E que aqui eu colocaria o que já te disse antes, e não vou repetir, porque acho que agora você prefere não ouvir. Mas que sinto. E você sabe. E desculpa jogar todas essas palavras assim, numa tarde de quarta-feira, só te quero bem. Só te quero dentro. Só te quero.
Mês: julho 2011
Deixa guardado
Não me perca, não me deixe ir. Segura forte a minha mão enquanto tenta soltar de mim seu coração. Não se prenda, se entregue. Não me prenda, não me negue. Nunca pedi mais do que essa sua mão entrelaçada na minha, nunca esperei mais de nós do que um desses amores que amanhecem dormidos. Ou talvez tenha fantasiado demais, pulado esses muros de conveniência, de certos e errados, talvez eu tenha acreditado que o muito que existiu ainda foi pouco, porque foi de verdade, e o que é de verdade merece ser por inteiro. Se agora o que tenho são apenas duas metades, uma que sabe que não há razão em alimentar o que não pode crescer, enquanto a outra finge que você foi apenas um sonho, só para te ter de novo. Não te ter de novo.
Deixa guardado esse sentimento todo que você tem por mim, não apaga, não roteiriza, não precisa ter fim. Fuja se quiser fugir, invente todas as desculpas do mundo para me deixar distante, desinteressante, imperfeita, pretérito. Procura meus defeitos mais bobos, minhas farpas que te incomodam tanto, provoca uma briga pra ver se me arranca daí de dentro. Testa a minha paciência, meu ciúme, minhas paranóias, prova pra si mesmo o quanto não damos certo, mas não me deixa morrer em você. Não te deixa morrer em mim.
Que tudo tem um tempo e que para continuar, às vezes, é preciso recuar, eu entendo. É preciso respirar. Mas volta logo com esses seus abraços apertados, com essas suas falas que me estremecem as mãos, volta logo com esse seu jeito único de disparar meu coração. Toma teu tempo, não te pressiono, prometo, vamos caminhando por estradas paralelas. Mas deixa a gente guardado no átrio especial desse seu coração complicado.
Que eu te quero e ainda te espero chegar sem aviso, trazendo seu melhor sorriso só para beijar o meu.
Espaço
É que quando me abraça de conchinha, me puxa pra mais perto de você com essa sua perna comprida, e me aperta tão forte como se pudesse dar duas voltas em mim.
E então me beija o pescoço, e duas vezes o ombro, e cada tatuagem na nuca, como um ritual, e suspira no meu ouvido o amor em silêncio.
É que aí é onde me sinto seu mundo, seu pedaço, nossa verdade.
E você sabe que presto atenção em cada gesto seu, em cada palavra não dita e no quanto de paz existe dentro desse espaço apertado entre o meu corpo e os seus braços.
Fica
Não vou ficar aqui mastigando palavras, dissertando sobre corações alheios ou sobre os meus (porque tenho muitos), não quero mascar cacos de vidro pra cuspir sentimentos. Não sei mais andar sem olhar para trás, são muitos anos pra contar agora. Não sei mais olhar para frente sem querer entender o que acontece no passo deste exato momento. Não vou ficar aqui fingindo que nada aconteceu, como subterfúgio de um autismo sentimental, fingindo que tudo é mentira, que nós todos não passamos de grandes mentiras inventadas para alucinar a monotonia da vida. Que não sinto nada. Se a ausência de tudo me preenche o tempo, enquanto a presença me enche de falta. E não me venha com frases clichês que saem embrulhadas como presentes pré-embalados em época de Natal. Hoje não. Não vou ficar aqui tentando te convencer do quanto tudo isso é mágico e foge do nosso controle, do quanto vejo teu sorriso em cada vez que pisco (isso), ou do quanto você fica lindo quando me conta sobre as estrelas, desenhando constelações no céu com os dedos, como se o limitasse. Não vou ficar aqui expondo a falta que me fazem os diálogos dos seus olhos, quando me olha perdido assim bem dentro de mim e disserta através deles tudo o que não tem coragem de dizer. Ou dizer sobre o quanto me corrói essa sua eterna presença ausente ao meu lado, como uma dessas fotos nostálgicas com a data no verso no melhor porta-retrato da sala. Porque você é uma pessoa especialíssima e cheia de traumas. Porque tuas cicatrizes te limitam, teus medos te apertam as asas e não te deixam voar. Porque tem essa necessidade humana de se proteger de qualquer coisa que tenha potencial de te ferir, e eu entendo, mas não me peça para não deixar doer. Porque faço parte do outro grupo de pessoas que gritam o coração, que se expõe, que se expressam, que conseguem escrever em sopa de letrinhas o que se passa por dentro, e só por isso é que sei voar, e saber voar entre tão poucos é como ser presenteado com a vida eterna: dolorido e inútil. Mas não vou ficar aqui te pedindo pra entender, pra aprender, pra falar, não vou ficar aqui dizendo coisas sem sentido, dentro do que eu sinto.
Que sinto sua falta, que a gente não é mentira, que voar dói.– Fica.
