Não vou ficar aqui mastigando palavras, dissertando sobre corações alheios ou sobre os meus (porque tenho muitos), não quero mascar cacos de vidro pra cuspir sentimentos. Não sei mais andar sem olhar para trás, são muitos anos pra contar agora. Não sei mais olhar para frente sem querer entender o que acontece no passo deste exato momento. Não vou ficar aqui fingindo que nada aconteceu, como subterfúgio de um autismo sentimental, fingindo que tudo é mentira, que nós todos não passamos de grandes mentiras inventadas para alucinar a monotonia da vida. Que não sinto nada. Se a ausência de tudo me preenche o tempo, enquanto a presença me enche de falta. E não me venha com frases clichês que saem embrulhadas como presentes pré-embalados em época de Natal. Hoje não. Não vou ficar aqui tentando te convencer do quanto tudo isso é mágico e foge do nosso controle, do quanto vejo teu sorriso em cada vez que pisco (isso), ou do quanto você fica lindo quando me conta sobre as estrelas, desenhando constelações no céu com os dedos, como se o limitasse. Não vou ficar aqui expondo a falta que me fazem os diálogos dos seus olhos, quando me olha perdido assim bem dentro de mim e disserta através deles tudo o que não tem coragem de dizer. Ou dizer sobre o quanto me corrói essa sua eterna presença ausente ao meu lado, como uma dessas fotos nostálgicas com a data no verso no melhor porta-retrato da sala. Porque você é uma pessoa especialíssima e cheia de traumas. Porque tuas cicatrizes te limitam, teus medos te apertam as asas e não te deixam voar. Porque tem essa necessidade humana de se proteger de qualquer coisa que tenha potencial de te ferir, e eu entendo, mas não me peça para não deixar doer. Porque faço parte do outro grupo de pessoas que gritam o coração, que se expõe, que se expressam, que conseguem escrever em sopa de letrinhas o que se passa por dentro, e só por isso é que sei voar, e saber voar entre tão poucos é como ser presenteado com a vida eterna: dolorido e inútil. Mas não vou ficar aqui te pedindo pra entender, pra aprender, pra falar, não vou ficar aqui dizendo coisas sem sentido, dentro do que eu sinto.
Que sinto sua falta, que a gente não é mentira, que voar dói.– Fica.
Fazia tempo que não passava por aqui … e putz, quase morri lendo isso. Nada mais “cabível” pra mim hoje.
Bjo bjo bjo
uauu! arrasou! beijo mana linda