Festa pra terrorista

Tá, eu vou contar uma história pra vocês. Era Julho de 2005, uma quinta-feira e eu me lembro muito bem. Eu estava em Reading, tinha programado meu último dia antes de ir pro Brasil em Londres. Por algum motivo desistimos, eu e a minha amiga. O marido dela, no entanto, foi de trem, saiu daqui às 8 da manhã em direção a Cambridge, no dia 7.
Eu acordei pensando que tudo bem, em um mês voltaria pra cá de novo e iria a Londres mais vezes. Eram pouco mais de 9hs, iguei a TV da sala, a vovó doidinha estava sentada na poltrona falando sozinha. Quando me dei conta da notícia. Ataque terrorista em Londres. Três linhas de metrô, um ônibus. Emergência, ambulâncias, gente chorando na rua, linhas congestionadas. Parecia que estava voltando a um 11 de Setembro.
E justo naquele dia que eu queria tanto ter ido pra Londres. Dia 08 eu estaria no aeroporto. Fiquei chocada, apavorada. Mais de cinquenta mortos. Homens-bomba. Coisas que para nós, Brasileiros, deveriam ser muito distantes estavam ali, do meu lado, quase na minha rotina, quase na estação de trem que eu poderia estar. Nas linhas de metrô que eu passo toda hora.
Enfim, essa história vocês já sabem. Essa semana descobriram que a família de um dos homens bomba de 07 de Julho mora aqui na Inglaterra. E todo dia 07 de Julho eles se reúnem para fazer uma festa. Sim. Uma festa em homenagem ao “mártir” que explodiu e levou com ele mais um monte de gente. Tá chocado? Eu também.
O que seria adequado numa situação dessas? A família paquistanesa mora aqui, ganha benefícios do governo, deve ter casa de graça e mais um monte de coisas que se pode ter por aqui. Os ingleses querem que eles sejam extraditados e proibidos de entrar no país. É o que eu acho. Acho o cúmulo da petulância. Os caras vivem num país onde o talzinho cometeu um ataque terrorista e matou sabe-se lá quantas pessoas, deixando inúmeras paraplégicas e vivas, afetando uma infinidade de gente. E a família do cara faz uma festa todo dia 07 de Julho, enquanto os ingleses levam flores aos locais dos atentados e velam por seus mortos. O que os Estados Unidos fariam? Garanto que se pegassem um parente do Bin Laden fazendo baladinha pra mártir no dia 11 de Setembro ele estaria muito bem frito.
Eu acho um absurdo. E depois vem perguntar porque que esse país está tendo tanto índice de racismo…. Virou a casa da mãe Joana. Os caras chegam aqui, fazem o que querem, pedem o que querem do governo, tentam introduzir uma cultura completamente oposta num país que tem mais de mil anos de idade, trocam placas de rua para árabe, não falam inglês. Parece racismo? Sim, ele está estampado em cada esquina deste país. E a briga não é nova, mas parece que está numa panela de pressão, pronta para explodir a qualquer momento.
Eu acho que racismo é uma bosta, sim. Não generalizo, não julgo todos os paquistaneses e indianos, mesmo porque conheço muitos deles que estão aqui numa boa. Mas acho que existe uma linha tênue na “adaptação”. Se você sai do seu país é você quem tem que se adaptar, não o resto do mundo.

Uma hora de um dia ensolarado

Hoje acordei e fui tomar sol no jardim. Fiz isso ontem, de biquini mesmo, e acabei conhecendo uma menina do flat da frente, Lily, ela é chinesa. Pareceu boazinha.
Hoje ela não desceu. Eu me estiquei na toalha, apreensiva, já que nunca ninguém se atreveu a colocar um biquini no jardim. Vi que o vizinho estranho tinha saído e me joguei ao sol, em boa companhia de Mario de Andrade e seus contos novos, que de novos já não tem mais nada.
O sol até que estava quente para essa ilha tão ao Norte. Ouvi barulhos de tudo quanto era tipo. Passarinhos, uma minhoca passeando na minha frente, mosquitos de todas as espécies. As Megpies (territoriais), só de olho em mim pra ver se me encaravam e me botavam pra correr. Finalmente revi meus esquilos, fazia séculos que eles não apareciam. Na verdade, antes dava pra ver bem porque as árvores estavam secas do inverno. Agora, eles podem passar o dia todo lá que eu não vejo. A não ser que eu esteja bem embaixo delas, o que foi o caso. Um deles deu um pulo mortífero e caiu no chão, na minha frente. Ficou meio encabulado, o esquilo, e saiu correndo pra cima do muro.
Enquanto lia um pouco Mario de Andrade ou apreciava o lento percurso da minhoca, pensei na minha vida. E de repente, como se a ficha caísse mesmo, me dei conta. Estava lá, esticada no jardim do meu flat no interior da Inglaterra. Que diabos estou eu fazendo aqui, no jardim do flat do interior da Inglaterra??? Que sol é esse que não bronzeia?? Que passarinhos são esses que não gorjeiam como lá?? Senti-me mais Brasileira do que nunca. Uma ânsia por sol e mar veio de dentro de mim, não sei explicar. Talvez fosse o cheiro do Nivea Sun, que é o mesmo que eu uso no Brasil. Mas pude jurar por alguns minutos que aquela grama era areia. Senti-me exilada. “Foi uma escolha que você fez”, diria a minha mãe. Exilada por mim mesma. E com saudades de novela….

Ela

Ele estava sentado perto da lareira. Tinha uma xícara de café na mão e mais nada. Sim, não tinha mais nada. Sentou-se perto da lareira porque fazia muito frio naquele começo de noite e o aquecimento já não funcionava como antes.
Desde que sua esposa faleceu, não fazia mais sentido nada naquele mundo. Ele apenas esperava o dia e o momento de encontrá-la. Não havia mais porque ficar ali. Não tinham filhos, muito menos os netos que ele sempre quis ter. Foi uma decisão dos dois quando descobriram que ela era infértil. Não quiseram adotar.
A única criatura que fazia companhia para ele era Mister, o gato. O mesmo gato que ela tanto amava e cuidava. Era o que lhe mantinha ali, perto da lareira.
A televisão ele já não ligava mais, já não interessava o que acontecia pelo mundo. Com oitenta e nove anos, onde iria? A lugar nenhum que sua esposa não estivesse. Para que saber o que acontecia na China… nada mais importava.
Naquela manhã fria ele sentiu algo diferente. Um pouco mais de disposição, uma alegria repentina que não batia há quatro anos, desde quando ela estava viva. Passou o dia arrumando suas poucas coisas, escreveu uma carta. Não era endereçada a ninguém, apenas contava como tinha sido feliz em oitenta e cinco anos e tão triste em apenas quatro. Contava do arrependimento de não ter tido filhos e da falta que fazia algum rosto conhecido num dia desses, de lareira. O cheiro do bolo no forno, como ele sentia falta. E as manhãs de caminhadas no parque, a primavera na Inglaterra, as viagens para o sul da Espanha. Dizia que até do trabalho como operador de máquinas sentia saudade.
Depois de escrever a carta, dobrou o papel e deixou em cima da mesa. Colocou uma cópia da chave da porta da frente em um envelope e posicionou estrategicamente na caixa de correio da vizinha. Tinha muito medo de que lhe acontecesse algo e ficasse ali, sozinho, ele e o gato. O gato precisaria de ajuda. Encheu-lhe o pote de comida e colocou mais um de água.
Fez seu café e sentou-se à lareira. Lembrou de todos os momentos felizes que já passaram. De como era lindo o seu sorriso quando ela acordava, aos trinta e poucos anos, depois de se casarem. Lembrou-se com saudade do dia do casamento, seus pais, sua irmã, seus primos, os amigos. Ninguém mais estava presente hoje. Lembrou-se então dela vestida de noiva, doce, com flores nos cabelos longos e castanhos. Os olhos pintados, mais brilhantes e claros do que nunca. O corpo esculpido por camadas de crepe de seda. O bolo de três andares, com recheio de abacaxi. A lua de mel em Barbados, a cor do mar caribenho. O jeito que ela lhe olhava ao acordar e levantava da cama às cinco e meia para lhe preparar o café. As coisas que só ela sabia fazer quando ele adoecia. E então lembrou-se de como ela ficou linda quando os cabelos começaram a ficar grisalhos, e as rugas apareciam em volta dos lábios e dos olhos. Era impressionante, as coisas mudavam, mas aquele olhar que lhe conhecia por completo continuava igual, com a mesma doçura, a mesma sabedoria. Pensou em suas mãos, ora macias, ora judiadas pelo sabão de côco. Queria suas mãos de novo. Depois veio o câncer, que judiou tanto dela. Justo ela que só merecia o que tinha de mais puro e bom desse mundo. E ela enfrentou tudo como um leão. Meu Deus, como sentia falta. Até do dia em que encontraram Mister pequenininho do lado de fora. E da alegria que ela sentia com o gato.
Ele então colocou sua xícara de lado. Chamou Mister para o seu colo e disse, você também quer vê-la, não quer? Mister aconchegou-se em seu colo cansado, cobriram-se com uma manta e ficaram, à beira da lareira.
Ele fechou os olhos, esperando que ela viesse buscá-los. E assim esperou. Não sabia se poderia fazer isso acontecer. Não sabia o que iria acontecer. Mas esperou. Ele só queria ir para onde todos que ele amava estavam, ele queria ir para casa. Ele não tinha mais nada.

Compilagem

Tô pensando em compilar… tô pensando em ir atrás de um sonho antiiiiiiigo. Tanta gente diz pra fazer, a cartomante tinha dito 30 anos, faltam dois. Me perco no tema, mas preciso compilar alguma coisa. Vou ter que dividir ou refazer, ou reviver. Não, reviver não dá. Bom pra alguns momentos, péssimos para outros. Se alguém entender a minha dúvida, palpite. Palavras engraçada essas, compilagem e palpite.

Virando gringa

Meu National Insurance Number chegou. Aquele negocinho que é tipo CPF, que falei pra vocês há um tempo atrás. Na verdade, chegou um papel com o número. Demoraram 3 semanas pra me mandar um papel com um número.
O cartão?? Com o meu nominho impresso e o número também??? Tenho que esperar. Mais. De seis a oito semanas!!!
Depois a gente é que é terceiro mundo. Nunca vi um país tão lento pra resolver as coisas.

Fiz finalmente a inscrição no sistema de saúde. Funciona assim: tem várias “clínicas” médicas por perto. Você escolhe uma na sua região, vai até lá, preenche um formulário e pronto. O médico da clínica será seu novo GP, General Practician, ou “Clínico Geral”. Tudo o que você tiver a partir de agora terá que passar pelo cara. Desde unha encravada até crise de candidíase. Eeeee, se ele achaaaaar que você precisa de um especialista (tipo, ginecologista), ele te encaminha. E esse é o único modo de conhecer um ginecologista, dermatologista e afins desse lado do mundo.
Eu achei que fosse passar por uma primeira consulta, pro médico me conhecer, me fazer perguntas do meu notável histórico e tal. Pra que? Niente. Eu é que tive que pedir uma consulta porque meu anticoncepcional está acabando e eu ainda não tenho planos para nenhuma mini-Mi ou nenhum mini-David. Marcada para terça feira. Uma consulta…. com a enfermeira.

Notícias de menino

Faz parte do Pacote Marido assistir a todos os GPs que acontecem aos domingos. Eu não reclamo, porque até gosto. Sou do tipo de mulher que assiste futebol, fala palavrão, levanta da cadeira e grita,  e ainda discute impedimento com toda a sabedoria masculina. GP é fichinha.
Tá, eu deveria achar um saco ver um carrinho dando voltas e mais voltas na pista. Mas, óbvio, não presto atenção no circuito inteiro… aproveito pra fazer as unhas, ou algo do tipo, com o olho voltado pra tela caso Hammilton rode na pista ou o Haikkonen passe lá pra trás.
Nesses dias, quando o Massa tá impossível eu até estendo a minha canga na janela. Tipo, back to the 90´s, época boa de Senna.
Maaaaaas, por falar em Senna, o que eu quero dizer é que meu sangue tá fervendo… Nelsinho Piquet anda aterrorizando na pista, Massa não precisa nem falar, né? Rubinho, alguém me diz o que ele ainda faz por lá????? A grande notícia que tem aparecido antes do que eu esperava é que já existem rumores de Bruno Senna sair da F2 pra F1!! Pras mulherzinhas, Bruno Senna é o sobrinho do Ayrton, ele sempre aparecia pequeninho nas entrevistas, o Senna adorava ele! E ele corre na Fórmula 2 há um tempo…
E aí, minha gente, quando ele passar pra F1 vai ser emocionante!!! Massa, Piquet e Senna!!!! Imperdível!

Estórias de picas e picadas

Meu único meio de contato com o Brasil tem sido o Terra. Não sei porque, mas acabou sendo…
E às vezes eu me deparo com umas notícias no dito cujo que meus olhos quase pulam pra fora da órbita.
Hoje entrei no site e vi “Cobra pica homem no Walmart”. Caaaara, nesse título eu viajei!! Como pra mim cobra morde, e não pica, a primeira coisa que eu pensei é que o cara tinha sido picotado por uma cobra. Mas até aí, como? Enquanto a internê baixava o arquivo fiquei pensando, pensando… vai que é pegadinha né! Vai que era um ser humano vestido de cobra que picotava outro – de alguma maneira inimaginável ainda.. ou de repente um ilusionista, vetido de cascavel, e fez o cara aparecer em pedacinhos????? Vai saber. A matéria abriu. E não é que o cara tinha sido mordido por uma cobra????? Fiquei arrasada.. tava esperando algo mirabolante, que desafiasse os lados negros da minha imaginação… que nada!!!!
Aí fui reclamar com a minha amiga, que trabalha na redação do Terra. Disse que cobra morde e não pica… que tava duplo sentido e tal. Mas vai fazer alguém entender o fantástico mundo de Bobby desta pequena criatura que vos fala?????? A outra criatura da roça de Minas Gerais – essa minha amiga, comecou a achar que a cobra e a pica estavam num sentido pornográfico… quase falou pro chefe da pica da cobra e eu só tentando dizer que a cobra não picota ninguém…. e não é que a pobre criatura da minha amiga da roça diz na redação coisas que ela fala lá em São Sebastião do Paraíso??? Tipo… “é o fim da pica”, só abreviando o fim da “picada”?????? Imagina a situação…. se fosse o fim da pica mesmo.

 

Observação: pra mim bicho que pica é bicho que tem ferrão. Escorpião pica, abelha pica, marimbondo pica. Quando tem boca e dente, o ser morde. Aranha morde, formiga morde. Ninguém vai dizer que tubarão pica!!!!!!
Por isso sou contra a “cobra que pica”. Sei que dá pra entender, mas que não pica, não pica…. o que vocês acham????

Nobody deserves

Isso porque é verão…..