Fire trouble

Ontem adivinhem quem inaugurou o alarme de incêndio do prédio????????? Eu, claro.

Resolvi fazer fishcakes pro David. Assei, mas não ficaram legais. Resolvi então dar uma leve fritadinha nos bichinhos. Coloquei um tico de óleo na frigideira e deixei no fogo esquentando. Só que a janela da cozinha tá com um problema que parece que vai cair, então deixei ela fechada. E esqueci de ligar o exaustor… e o alarme de incêndio é quase em cima do fogão.

Resultado, vim para a sala perguntar um negócio pro David e de repente aquele barulho ensurdecedor. Eu nem me liguei que pudesse ser do óleo… fomos pra cozinha e tinha uma fumacinha saindo do dito cujo, mas gente, nem chegou a queimar o óleo!!!!
O David sacou o pano de prato e começou a abanar o detector. Eu abri a janela e pensei “se cair agora, paciência, só completa a cena” (pensa que é difícil?? já fiz outra janela cair na minha vida, outra hora eu conto). Liguei o exaustor (tudo que eu deveria ter feito ANTES..).
Nesse meio tempo a gente não trocou uma palavra, o que dificultou muito a ação no processo. Também, nem se eu gritasse ele ouviria, tão forte era o som do bagulho. Eu abri a porta, achando que ele fosse me dar um apoio moral e descer até o painel de incêndio, mas ele nem viu, tava abanando a porta da cozinha.
Desci correndo e percebi que o alarme era no prédio inteirinho, ecoava por todos os cantos de Reading. O povo da rua olhava, os meus vizinhos já estavam fora de suas casas, todo mundo querendo saber o que tava rolando.
Eu desci e parei na frente do painelcom cara de paisagem. Veio o meu vizinho weird (esse é um que se mudou há pouco tempo pro apto de baixo, ele é muito esquisito… deve ter uns 40 anos, tem o cabelo bem grisalho, todo bagunçado, usa um óculos, nunca fala um “hi” e tem cara daqueles que vem pedir um saca rolha, mata o vizinho e enterra no jardim… o David disse que isso é fruto da minha imaginação de Bobby, mas eu tenho medo do cara…) Enfim, o semi-zumbi parou do meu lado. Eu olhei pra ele com aquela minha carinha meiga e disse “foi só um pouquinho de óleo hehehe”. Ele não respondeu e continuou olhando fixo pro painel. Eu vi um botão lá “silence fire alarm” e perguntei pra ele, “será que eu devo apertar?”. O pseudo-retardado continuou mudo. Eu resolvi sair correndo, porque o alarme ainda tava gritando e eu tava com medo do cara, se ele me pegasse ninguém ia ouvir meus gritos. Deixei ele no vácuo e voltei correndo pro apartamento.
Fiz uns gestos de mímica pro David, querendo dizer pra ele descer e resolver o painel, porque isso era tarefa de marido. Tá, não disse a última frase, ainda mais em mímica. Mas ele desceu. Girou a chavinha, apertou o “silence fire alarm”, tudo ficou quieto, e ele deu um “reset”. Parecia até que já tinha botado fogo em muita casa antes….
Enfim, o treco parou. Nós tivemos uma crise de gargalhada e eu tremia feito vara verde. Ele disse que óbvio, se alguém tinha que estreiar o alarme, esse alguém tinha que ser eu. Eu fiquei meio brava, porque o óleo nem chegou a queimar. Não tenho culpa que o detector é temperamental e sensível.
Voltei pra cozinha pra terminar os fishcakes. Dessa vez com janela escancarada quase caindo, exaustor no máximo e um ventilador virado de cara pro detector viado.

Vou de onibus

Ai, gente. Porque que eu nao posso pegar um onibus normalmente, como qualquer outra pessoa no mundo? Porque sou eu, neh? Ouvi alguem dizer isso…
Acabei de voltar do centro (da cidade, nao espirita) no meu onibuzinho (quem lembra do Mambo number 6???? Ele mesmo). Feliz da vida porque encontrei um livro maravilhoso, enooooorme, de capa dura do Jamie Oliver de 36 pounds, reduzido pra 9,99!!!! To a fim do livro, nao paro de olhar pra ele!!!! Enfim… peguei o mambo number six em direcao a casa do sogro, diga-se “home”, assim entre aspas mesmo. Sentei, linda, feliz e com labirintite, paquerando o Jamie da capa. Lugarzinho vazio do meu lado. Alias, onibus quase todo vazio.
Eis que entra uma comitiva de portadores de sindrome de Down. Eu achei super bacana, eles la, de cabelos tingidos, super cool e tal. Ateh que um deles sentou-se ao meu lado. Cara, nao tenho o menor preconceito do mundo, eu acho eles uns fofos. Mas fiquei rezando pra ele nao abrir a boca e falar comigo, afinal, ja eh dificil entende-los em portugues neh! Mas o problema foi que ele nao abriu a boca pra falar, mas sim pra outra coisa. Eu nao sei se ele estava resfriado, ou sei la o que, mas comecou a fazer uns barulhos com a garganta que iam de uhuuu a ihaaaa, com umas tosses catastroficas no meio. Achei que ele tava morrendo engasgado, mas como ninguem se manifestou, eu me fiz de sonsa… Pensei, no maximo vou chegar gripada em casa. Mas nao contente com as tosses e os barulhos faringianos, ele achou melhor cuspir catarro na mao!!!!!! Desculpe se alguem estiver lendo e comendo ao mesmo tempo… mas foi a coisa mais nojenta que ja vi na vida, depois de ter visto um rato fazendo coco!!! E nao foi uma vez, o cara fez umas quinze vezes, encostado em mim!!! Catarrava na mao e limpava na blusa!! Foi o inferno de Dante!!!! Uma situacaozinho que nao queiram estar encurralada numa cadeirinha do lado sem poder sair!!! Eu, com a cara no vidro para, pelo menos, nao ter que ver aquela cena, e morrendo de medo de ele resolver limpar a mao em mim!!!!!
Bom, metade do caminho percorrida, ele levantou e mudou de lugar. Eu dei um “ufa” e mal terminei o “a”, quando veio outro ocupar o seu lugar!!!! E esse acabou nao fazendo nada, mas eu ja tava preparada ateh pra strip-tease naquele momento…..

A história da perereca + 1

Bom, melhor contar né!
A história da perereca começou assim:
Estávamos no Guarujá, no condomínio da minha tia e o carro estava estacionado na garagem. O condomínio é cercado por mata atlântica e eu já morro de medo só de ir até o carro, porque sempre tem um morcego engraçadinho pra dar um rasante no meu cabelo.
Mamãe quis ir ao centro fazer sabe-se-lá-o-que, nesta altura do campeonato. Eu resolvi ir junto. Chegando ao carro, percebi que querida mamãe tinha deixado o vidro aberto. Pra que, né? Comecei a entrar no meu mundo de Bobby, achando que lá dentro estaria rolando uma festa do apê com morcegos, sapos, cobras, pererecas!!! Demos uma espiadela básica e não vimos nada (mentira, minha espiadela básica deixa até policial rodoviário no chinelo… dei uma mega analisada mesmo). Até pensei em não entrar, não sou muito fã de insetos e bichos pegajosos, alguma coisa me dizia que tinha sim criatura dentro do carro. Afinal, tinha chovido. E queiram ou não, os bichinhos adoooooram uma cobertura!
Resolvi parar de ser fresca e entrei no carro. Fomos felizes e contentes até o centro do Guarujá. Passando um pouco da metade do caminho senti alguma coisa gelada no meu peito. Pensei “ah, não é nada, deve ser hormonal“…. Aí a coisa gelada comecou a andar! Eu entrei num estado de calamidade pública, olhei dentro da minha blusa e vi dois olhos!!!!!!! Aquela pererequinha bem pequena, semi-afro-descendente, nojenta, gelada, passeando em direção ao meu estômago! Comecei a tirar a blusa, bater no peito, sacudir os braços, fazer uns movimentos de rumba e a única coisa que saía da minha boca eram uns ais meio suspirados de terror. Minha mãe, coitada, dirigindo, gritava “o que foooooooooi????????????” e eu não conseguia responder… Eu gritava “pára no pooooooosto, pára no poooooooooosto!!!!!!
Ela entrou com tudo no posto de gasolina e eu, sem dar nenhuma explicação, abri a porta do carro, desci e comecei a me sacudir, tipo boneco do posto mesmo. Depois de uns minutos de chilique consegui explicar pra minha mãe – que já estava quase me levando pro hospital – que o que eu tinha não era um ataque do coração, mas uma perereca gelada dentro da minha blusa!!!!! Claro, porque até parece que se tivesse uma mini-perereca dentro de um ônibus, ela ia aparecer em qualquer outra pessoa que não fosse eu… No fim, a gente se matou de rir…

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Isso me fez lembrar o dia que fui com a minha irmã no estúdio de tatuagem. Eu, dirigindo meu Celtinha Legolas (sim, meus carros têm nome) e minha irmã no banco do passageiro. Minha irmã, gente, não dá pra explicar. Se eu faço escândalo com bichinhos, ela faz só de ouvir o barulho… se alguém começa a ter ataque, ela pode nem ver o bicho, mas vai ter outro ataque junto. Tipo companheira pra o que der e vier?? Pois bem. Eu dirigindo, rádio ligado, ruazinha movimentada cheia de lombada (obstáculo, quebra-mola, e afins), até que minha irmã esticou o braço esquerdo – o mais perto de mim – e gritou desesperadamente. Eu olhei de relance e tinha sim um bicho verde no braço dela, mas mal deu tempo de decifrar o que era. Ela, esperta pra caramba, deu um sopapo com a mão direita no bicho em direção aonde??? Ao meu pé, senhoras e senhores. Meu pé, meu querido pé que me aguenta o dia inteiro. De sandália rasteirinha. Revezando entre a embreagem e o freio. Começou o momento pânico no carro. Eu dirigindo, sem saber mais o que fazer com o meu pé – afinal não sabia o que de verde estaria lá embaixo – minha irmã gritando como se tivesse visto o Chucky na frente dela, e a minha parte racional tentando manter a frieza perante ao bicho para não bater o carro. Enfim, encostei o carro e dei uns sopapos nela. Na minha irmã, mesmo. Fiquei tão puta da vida que eu não sabia se ria ou se batia nela. Mas dei muitos sopapos pra ver se ela aprende a ser mais controlada. Depois a gente também se matou de rir tanto que não conseguia nem contar essa estória juntas, só de lembrar das cenas….

Vou de táxi

No dia da balada, quinta passada, eu e minha irmã pegamos um táxi pra voltar pra casa. A balada é do lado de casa, fica a duas ruas pra trás e umas cinco ou seis quadras pra baixo. Mas quem conhece a Vila Madalena sabe que eu moro praticamente no morro. Não, darling, não rola ir a pé!

Enfim, saímos da balada e avistamos um golzinho velho com insufilme afro-descendente estacionado do outro lado da rua. Plaquinha de táxi em cima, quase que falhando a luz. Fomos até ele e demos uma espiadinha básica pela negritude junior do vidro. Nada de ver o taxista. O “porteiro da balada” gritou pra gente bater no vidro porque o cara deveria estar dormindo.
Batemos no vidro gritando um “mooooooço, ô moooooço” e nada. Até que o porteiro avista o cidadão lá no fim da rua. O cara vem meio capenga, mas até aí, melhor achar que ele é manco. Chega o fulano, no maior estilo mexicano-cruzador-de-fronteira, com um óculos de sol amarelo na testa (às 4 da manhã…) e entra no golzinho fuleiro. Pergunta aonde vamos. Cara, quando eu respondi o cara desembestou a falar e reclamar da gente: “ah, minha filha, tenha a santa paciência! não acredito que tô pegando uma corrida até ali só!!! sabe quanto eu perco dirigindo até a sua casa???? não paga nem a bandeirada!!!!! depois eu volto aqui, neguinho pega passageiro pro Rio de Janeiro (claaaaro…),  ganha os tufos, enquanto eu faço viagenzinha de cinco reais!!!! não dá, menina, não dá…. se eu viver de corrida assim eu morro de fome. já pensou quanta corrida assim eu tenho que fazer pra ganhar dinheiro?”
O cara não parou de falar. Eu fiquei com vontade de soltar um “e o kiko???”, mas o cheiro da manguaça me deu medo… vai que o cara tira uma peixeira do bolso??? Ele não parou de reclamar um segundo. Eu disse que não dava pra ir a pé, era a maior ladeira que eu conheci na vida, eu estava de salto e eram 4 da manhã. E além disso, eu estava pagando. Não adiantou. Ele parou o carro na frente de casa, reclamou, reclamou, reclamou e não saía da frente do taxímetro. Eu me senti tomando um sermão de diretora na quinta-série do primário. A hora que deu pra ver o taxímetro, marcava cinco e poucos reais, resolvi dar sete. O cara então disse “aí, tá vendo! mais dô-reauzinho já ajuda!! desculpa aí madame, mas sabe como é, não paga nem a bandeirada!”

Ah, meu filho!!!!! Vai comer cocôôôôôôôô!!!! Que ódio! Ok que não compensa pro cara, mas desce do carro e avisa, não fica buzinando na minha orelha! E honey, continuo pagando!!! Ô povo mais barraqueiro.

Sobre ovelhas… e eu

Ok, vou contar.
Eu era pequenininha, do tamanho de um botão – quase – e mamãe resolveu se livrar de mim e da sis nas férias de Julho. Mandou a gente pra um acampamento. Eu fui, minha irmã foi, meus dois primos meninos foram e minha prima menina foi também. Não vou nomear o acampamento porque sei que fui cobaia deles e hoje em dia eles são decentes. Mas quem quiser eu conto em off.
Bom, como disse, o acampamento era novo. Minha prima rica ia sempre pros Pumas e eu achava o máximo, então fiquei toda empolgadinha com a idéia de me enfiar no meio do nada com mais umas centenas de crianças remelentas do inferno.
Eu tinha dez anos, pra situar vocês na linha do tempo. Minha irmã é um ano mais nova, minha prima também, um dos meus primos é um ano mais velho e o outro era bem, bem tiquinho. Mamis e titia pediram para deixar as meninas juntas num quarto e os meninos em outro.
O ônibus chegou um dia com direção à Tatuí (que eu jurava ser de onde vinham os tatus…). Despedimo-nos de mamis e fomos rumo ao fantástico mundo dos meus traumas de infância. Chegando lá, divisão de quartos: minha irmã e minha prima ficariam juntas num chalé com mais quatro meninas. Meus primos ficaram juntos. E eu, óbvio, fui jogada às traças num alojamento com mais noventa e nove crianças remelentas. Fiquei enfurecida, querendo matar todo mundo.
Os dias foram passando e eu morria de raiva porque não conseguia ficar com a minha irmã, nem com meus primos. O meu alojamento se resumia à crianças-mala, filhinhos-de-papai e pivetes. Não dava pra fazer amizade. A maior parte das meninas era insuportavelmente insuportáveis.
Até que um monitor – que devia beirar os dezenove anos e cuidava de umas quarenta crianças – resolveu fazer um passeio incrível: a trilha do Indiana Jones. Eu achei o máááááximo, era fã número um do Indiana Jones!!!! Meu sonho era ser ele… me joguei.
A trilha começou normal, atravessamos um riozinho pendurados num cipó e eu achei que a aventura ia ficar por aí. Até que vi uma montanha gigante – que devia ser um morrinho mais ou menos – e uma escadinha de corda. O monitor-anta mandou a criançada subir. Eu subi, morrendo de medo de cair e derrubar mais quatrocentos e oitenta e sete que vinham atrás de mim.
Pensei “bom, agora, definitivamente acabou”. Mas pra que acabar né minha gente? Monitor-pastel disse que a gente ia na praia artificial. Chegando lá, que gracinha, tinha até areia! Até ele mandar o povo entrar no mar artificial. E a miniatura aqui entrou no mar com água até a boca. Diz se isso é normal??? Até onde eu sei, mar artificial ainda é água. E ainda afoga.
Saí de lá ainda mais puta da vida xingando a mãe do monitor-pancada. Continuamos pegando umas trilhas até que passamos por um lamaçal que vinha no meu joelho. Eu não conseguia me mover e achava que ia morrer ali: na areia movediça do acampamento de Tatuí… minha vida não podia acabar assim. O monitor-jumento veio me ajudar e eu saí, literalmente, da lama.
Com as calças enrijecendo ao sol, continuamos caminhando. De repente, sabe-se lá porque, o monitor-energúmeno começou a falar bem baixinho e ficar vermelho. Dizia pra gente andar muito devagar, não fazer movimentos bruscos, não falar e não olhar pro lado. Bingo, todo mundo olhou. Na hora eu não sabia se eu corria, gritava ou comandava um movimento de linchação. Resolvi ficar estática, calada, e continuar andando. Pra mim, aquela cena era total Pica-pau: um búfalo gigante, preto, com chifres abomináveis (só faltava o piercing no nariz e a fumacinha saindo). O bicho estava muito enfurecido e mexendo uma das patinhas da frente. Eu decidi caminhar com as calças duras e nunca mais olhar pra ele…
Saindo de lá, chegamos em uma trilha. O monitor-drogado disse que o passeio já tinha acabado. Todo mundo relaxou, tinha sido muita emoção para os nossos coraçõezinhos. Já tinha dado. Doce ilusão… O único caminho de volta para o alojamento era bem no meio de dois cercados de…. ovelhas negras!!!!!! Cara. Até hoje eu xingo esse infeliz. A gente passou, e as bichas tavam á Deus dará, livres, leves e soltas. Saíram possuídas por um demônio de lá de dentro e começaram a correr atrás da gente como bodes, dando cabeçadas nas nossas pequenas bundas. Só de falar, minha bunda dói de novo, dezessete anos depois. Já tomou cabeçada de ovelha?? A cabeça delas era maior que a minha bunda!. Eu caía no chão, levantava, e elas vinham de novo…
Eu tenho certeza de que aquele monitor era um vendedor de pamonha da estrada que cataram no meio da viagem. Não era possível. O cara não tinha noção nenhuma do que tava fazendo!
Como se não bastasse, óbvio, tive dor de garganta um dia. Estava ardendo de febre, abandonada no beliche do alojamento e minha pequena irmã saiu pra chamar o médico, que estava na baladinha dos adolescentes. O médico olhou pra cara dela e mandou a criatura de nove anos me dar uma colher de sopa de mel (?????) Veja bem, eu tinha febre. Nem índio trata febre com mel…. O pior é que não tinha como ligar para a minha mãe. O mini big brother proibía.
A última vez que resolvi participar de alguma coisa foi até o momento em que o filho da puta programou uma caça aos morcegos à noite. Já disse que tenho pânico de morcego. Pois é, me enfiei no meu mundinho e esperei um mês inteiro passar naquele mini inferno dantesco. E até hoje xingo todas as gerações de todo mundo daquele  acampamento mequetrefe que me rendeu, pelo menos, uns três traumas de infância.

O macaco drogado

Essa estória foi assim: eu tinha uns oito anos de idade e fui à uma loja de cerâmica no Rio com a minha mãe, irmã, tia e prima.  
Tinha um macaquinho (de verdade…) numa gaiola aberta, com coleira e tudo. Como eu sempre fui ecopentelha desde criança, resolvi brincar com o lindo macaquinho. Bendita idéia. O bicho pulou na minha cabeça e por lá ficou, pulando, pulando e puxando meus cachinhos para cima com aquelas micro-mãozinhas-horrorosas. Como se não bastasse, ainda dava aqueles gritos histéricos enquanto pulava – já ouviu grito de macaco?
Pois bem, durou uns três minutos a festa dele nos meus cachos. Só saiu quando a dona retardada – que falava com voz de apresentadora de telejornal enquanto o bicho pulava – deu banana para ele. Você não imagina o que rende três minutos com um macaco pogobol na cabeça…
Pior é que a dona do primata insandecido ainda falava “calma, ele só quer brincar…” Quase tomou um sopapo da minha mãe. Sabe como é mãe nessas situações, né…
Alguém conhece alguém que já teve um macaco possuído pulando na cabeça? Mais uma das que só acontecem comigo.

Saturday night live

Quem me conhece há pouco tempo não sabe muito bem com quem está lidando. Sou uma mistura assim meio surtada, meio que escolhida “divinamente” a dedo para determinadas situações. Sim, sabe aquelas histórias que quando alguém te conta você não acredita nem no mindinho que possa ter sido verdade? Pois bem… se eu contar uma dessas um dia, vocês façam-me o favor de acreditar.
Porque quando eu nasci, Deus olhou pra mim e disse “desce e arrasa” pensou “esta vai ser a minha cobaia. É com ela que eu vou testar o artíficio do até-onde-o-ser-humano-perde-a-pose”. Sim, porque com o tempo vocês vão entender que existem coisas que só acontecem comigo.

Saturday Night Live

Há alguns anos, minha tia havia ganhado alguns ingressos para o show do João Kleber. Era um sábado morto, daqueles que acabariam em “Zorra Total”, por isso resolvi colocar minhas mandíbulas para funcionarem um pouquinho (se é que é possível gargalhar no show do João Kleber, mas enfim…) Fomos em patotinha: primo, amiga (e namorada do primo), irmã, prima, mamãe, titia e eu. Sentamos num lugar razoavelmente bom, nem muito na frente, nem muito atrás. Até que chegou a hora do quadro “Namoro ou amizade”, em que a criatura imitava o Sílvio Santos.
Convenhamos: obviamente ele precisava de uma cobaia para fazer parte do quadro… Andou pelo teatro, passeando pelas cadeiras… Quando passou pelas filas por perto, eu já estava com a terrível sensação de “vai sobrar para mim”. Eis que ele veio na minha fila. Falou com a minha mãe, com a minha tia, me pulou, falou com a minha irmã, com a prima, a amiga e o primo. Notem bem: me pulou. Gente, é fato. Quando você está numa situação dessa e o cara te pula, pode ter certeza de que você está ferrado! Não adianta nem querer escorregar cadeira abaixo, ele já estava de olho em você desde a encarnação passada. É como uma flecha em neon piscando na sua cabeça: “me pegue, me pegue”… Conclusão: eu estava mesmo ferrada…
Pronto, esse seria o meu momento, meus quinze minutos de fama…. João Kleber me puxou pela mão e, com aquele terrível jeitinho de “Ahai-hihi”, me levou até o palco. Juro que não sei explicar para vocês o que passava pela minha cabeça naquele momento em que 400 pessoas sabiam o meu nome e observavam detalhadamente cada milímetro do meu corpinho subindo as escadinhas.
Por sorte, de cima do palco eu não via ninguém, tamanha era a luz na minha cara. Mas, alguém aí lembrou que esse quadro é feito com um casal?? Ããã? Ããã??? Pois bem… E que num show de humorista o meu par não seria nenhum Rodrigo Santoro?
Bom, a pior escolha da vida do João Kleber foi ter chamado meu primo para coagir nesta cena. Não, ele não foi meu par, ele foi simplesmente o cara que ESCOLHEU meu par… E como todo primo-irmão, escolheu o primeiro baianinho desdentado sentado no teatro. João Kleber, ainda com seu “ahai-hihi”, perguntou o nome do infeliz. Agora sentem – o nome do cara era Divino… Meia hora de risadas e piadinhas do tipo “caiu do céu só para você…”
E então o ser Divino subiu ao palco e sentou ao meu lado. Banguela, ele tentava conversar comigo enquanto aquela música ridícula rolava… E o que aquele homem falava, meu Deus!? Eu não entendia absolutamente nenhuma palavra cuspida entre seus dentes! Eu continuei com meus inseparáveis a-hãs, melhor saída nessas horas… Nunca imaginei estar num palco, sendo xavecada por um baianinho-banguela chamado Divino e com 400 pessoas rindo da minha cara. Mas, Deus é pai e mãe, e o quadro acabou em “amizade”. E , como se não bastasse todo o mico, na saída do teatro eu ainda tive que distribuir sorrisinhos para as crianças que me chamavam de “Milena do Divino”… Ninguém, absolutamente ninguém merece…

* Publicada no Saco de Pipoca em 29 de Abril de 2002.

O roubo do bebê

Essa foi postada em 2002, no extinto Saco de Pipoca. Mas como os pedidos pelas “escolhida a dedo” estão chovendo, vou postando aos poucos de novo. Assim elas ficam aqui, arquivadinhas.

O roubo do bebê

Certa vez, quando eu tinha os meus seis anos de idade minha mãe me deu uma boneca, a antiga Bebezinho, que todas as meninas devem se lembrar. Todo mundo ainda dizia que ela se parecia comigo quando eu era neném e eu acreditava, dando mais veracidade às brincadeiras de mamãe e filhinha. Aquela boneca, a Laurinha, era tudo na minha pequena vidinha. Tinha um guarda roupa completo com peças da minha fase de bebê e era trocada frequentemente pela minha empregada Nicinha.
Um dia, na casa da minha avó, o telefone tocou. Era a Nicinha, falando para a minha mãe:
– Dona, roubaram o bebê!!!!!
– Que bebê, Nicinha, tá louca? Não tenho nenhum bebê!
– A Laura, Dona! Levaram a Laura!!!!
Minha mãe não me contou absolutamente nada. Começou a fazer discretas ligações.
O que tinha acontecido era o seguinte: no meu prédio morava uma louca, doida varrida, piradinha na maionese. Seu filho também era totalmente sem parafuso, dormia toda noite no depósito de lixo do prédio (sério, não é brincadeira!!). Nesse dia a Nicinha estava trocando a roupa da Laurinha quando a campanhia tocou. Ela abriu a porta e era a louca. Ao mesmo tempo o interfone tocou. Ela pediu para a mulher louca esperar um pouco e foi atendê-lo. Era o porteiro gritando histericamente para não abrir a porta para a louca! Bom, até aí bule…  quando a Nicinha saiu da cozinha, lá se foi a louca com a Laurinha…
Nesse meio tempo eu não sei o que aconteceu direito. Só sei que, ainda sem saber de nada, cheguei no prédio e me deparei com um caminhão de bombeiros, duas viaturas da polícia, uma ambulância e uma multidão gritando “pula, pula, pula!”. Foi aí que no meio de toda a bagunça surgiu o policial correndo com um “bebê” enrolado no colo. Quando eu vi que era a Laurinha, chorei compulsivamente. A multidão aplaudia o policial enquanto ele entregava o bebê para a minha mãe.
A louca saiu direto para a ambulância e só Deus sabe que fim levou, ela e seu filho sumiram para sempre. Os policiais me contaram que ela estava colocando a Laurinha na banheira e dando mamadeira. Tiveram que arrombar a porta!
E então as viaturas foram embora, os bombeiros, a ambulância, a louca… e eu subi para casa com a incrível sensação de ter participado de um filme. Hoje não tenho mais a Laurinha, tive que tratar o trauma de me livrar dela na terapia e finalmente ceder… Mas até hoje toda a vizinhança se lembra do roubo do bebê. E há quem ainda não acredita em mim quando conto que era apenas a minha boneca!