Às vezes a vida prega umas peças na gente. Talvez nem sejam problemas tão grandes quando se resolverem, mas o processo todo é desgastante. Como se algo estivesse te torcendo feito roupa lavada, até espremer as últimas gotas de fé e esperança. E daí dá muita vontade de desistir, largar tudo, dizer um foda-se bem alto e brincar na rua. Tomar um toddy gelado. Correr pro colo da sua mãe.
Nessas horas tenho saudade da casa dos meus avós. Se acontecia algum problema ali dentro, eu nunca vi. Ou abstraí, não era tarefa minha me preocupar com nada além de fazer montinhos de recheio de bolacha. A casa dos meus avós era sagrada e livre de problemas. Lá só se jogava bola, peteca, stop. Lá era onde eu guardava meus brinquedos, meus livros e minha bicicleta. O som era a risada do pica-pau, misturada com a do meu avô que o assistia comendo amendoins japoneses. O cheiro era de bolinho de chuva. A espera era a melhor do mundo: minha mãe voltar do trabalho e me levar pra casa.
Em dias tão atribulados assim, fecho os olhos e sinto o cheiro de lá. Chego a escutar minha avó me chamando da cozinha pra jantar. Chego até a escutar as gargalhadas do meu avô. Se eu fechar bem os olhos, posso até sentir a mão de cada um deles segurando as minhas. E então tudo se acalma.
A casa dos meus avós ainda mora dentro de mim.
Categoria: Coisas de Margarete
Pérolas da minha empregada!
Greve
Parece que eu e o David entramos – ambos – em uma calada e consentida greve de lavar a louça…. Faz só dois dias, mas ele chega do trabalho às 5, a pia continua igual, e eu chego do trabalho à meia-noite e a pia… nem sinal de movimentação humana. Ainda bem que não existem baratas nesse país.
Não se preocupem, amanhã de manhã eu juro que lavo.
Dava tudo por uma Margarete versão britânica, a Rosie dos Jetsons, uma lava-louças, ou – melhor ainda – o pai do Rodney, do filme “Robôs”, que já vinha com uma embutida.
Receitinha
Nosso jantarzinho de Ano Novo, em casa, só pra nós dois!

Essa é uma receita que eu adoro fazer, primeiro porque é ridiculamente fácil… segundo, porque é deliciosa! Aqui na Inglaterra eu uso “cod”, que é bacalhau fresco, mas com bacalhau salgado fica ainda mais saboroso! O único trabalho é deixar de molho de um dia pro outro e trocar a água umas três vezes pra dessalgar!
Mas vou passar a minha receitinha, simples e fácil!!!
Pra duas pessoas:
– Dois filés médios de bacalhau fresco (se usar o salgado, tem que dessalgar de um dia pro outro),
– Meia cebola grande, cortada em rodelas,
– Dois tomates grandes em rodelas,
– Meio pimentão vermelho em rodelas,
– Três batatas grandes cozidas e em rodelas,
– Azeite de oliva extra virgem,
– Sal (se usar o bacalhau fresco),
– Pimenta do reino e orégano (ou ervas de Provence),
– Azeitonas pretas.
Simples, cozinhe as batatas. Corte em rodelas antes, pra cozinhar mais rápido e não desmanchar. Num refratário, coloque um pouco de azeite, metade das rodelas de cebola e pimentão, e o bacalhau. Tempere com o orégano, sal e pimenta. Regue com o azeite. Cubra o bacalhau com o resto da cebola e pimentão. Adicione os tomates.
Depois cubra com as batatas cozidas e regue com mais azeite, uma pitada de orégano. Coloque as azeitonas pretas.
Leve ao forno alto por cerca de vinte minutos, coberto com papel alumínio. Depois tire o papel para a água evaporar.
O segredo é ser generoso com o azeite.
Sirva com arroz branco, salada verde e um bom vinho branco! Também testamos com caipirinha de pinga e foi muito bem!! 🙂

Falta de Margarete
Eu acordei tarde, era dia de folga.
Fui até a cozinha, meu café da manhã ainda estava esperando por mim. Tomei café fresquinho com leite, pão francês com manteiga e um pedaço de papaia.
Me arrumei, sem me preocupar com nada, a roupa cheirava a amaciante. Peguei minha bolsa, desci de elevador até a garagem, entrei no meu carro. Dirigi até a academia, fiquei por lá umas duas horas.
Voltei pra casa, o feijão estava na mesa me esperando. Almocei e saí da cozinha com a mesma mão vazia com que entrei. Minha cama estava arrumada, a casa inteira limpinha e organizada. Cheiro de desinfetante no banheiro.
Tive todo o tempo do mundo pra fazer o que me desse na telha, assistir tv, ler um livro, passear com o meu cachorro.
Resolvi fazer um bolo, mas não me preocupei em lavar a louça ou limpar a pia depois.
Isso tudo foi há pouco mais de um ano atrás. A cena de hoje é bem diferente.
Eu acordei tarde, é dia de folga.
A cama continua desarrumada, eu coloquei um pão na torradeira e tomei um toddynho de leite de soja pra não sujar mais louça.
A pia tá quase que uma obra de arte, de tanta coisa se pendurando.
Eu me arrumo pra ir pra academia, à pé, num calor de dois graus celsius. A sala tá virada do avesso, a roupa que eu lavei no fim de semana ainda está esperando ser passada, e o feijão? Tá de molho na panela, esperando meu comando. Mas acabou o alho, e eu vou ter que sair a pé pra comprar.
Pois é. As coisas no Brasil que a gente take for granted. Não dá tanta atenção quando tem. No Brasil tudo se autoresolvia…. ou melhor, quase tudo era resolvido para mim, por um outro alguém. Vou criar um fã clube das empregadas domésticas! Quanta falta faz a Margarete na minha vida!!!
Pérolas
Algumas pérolas da Néia:
– Lá onde você mora tem limão???? (Essa é a top-master-mega-blaster!!)
– Acabou o show… (leia-se “acabou o Shoyo“)
– Tem que comprar splay… (leia-se “Spray”)
– Lá onde você mora a semana é igual à daqui? Tipo, tem Sábado, Domingo, Segunda???? (Geeeente, onde ela acha que eu moro??)
– É ingual. Eu ponho o “n” pra ficar mais “chinque”.
Como diria Caco Antibes…
… Haja cajuzinho!!!
Minha empregada pertence à vasta classe baixa desse país. Veio da Bahia, com três filhas e sem marido, tentar fazer a vida por aqui – e só por isso já merece minha admiração. Na verdade ela veio para tratar a filha menor de meningite e acabou ficando. Chegou aqui com uma mão na frente, outra atrás. Quando veio pedir emprego, as meninas não tinham o que comer. Hoje ela já construiu uma casinha de alvenaria e a gente ajudou com os móveis.
Agora, diz qual é essa mania de nome de pobre?? Passa geração e eu continuo sem entender. O nome dela é Margarete, mas ai de quem chamá-la assim. Todo mundo conhece a dita cuja por Néia.
Todos os agregados da laje tem codinome. As irmãs, por exemplo: a Marinês é chamada de Ôra, a Marilene é chamada de Rose, a Gilvânia é Sônia. O irmão Joilson é Estenho (???). A mãe deles é Aparecida, conhecida por Nicinha. A avó é Neide, mas pra quê Neide se podemos chamá-la de Mariquinha????
Agora, alguém me explica a razão disso? Por que cargas d´água não registraram os bichinhos com os codinomes? Segundo a Néia, é porque “fica mais chinque“. Caco Antibes, cadê você pra fazer o meu comentário nessas horas??? Pior é que eu me divirto com essa aloprada. Começa aqui a categoria “Coisas de Margarete”.
PS: Uma vez, decidindo nomes de futuros filhos, o gringo desembarcou total no piscinão de Ramos. Começou a soltar só nome de filho de empregada! Porque filho de empregada tem que ter nome em inglês? Gringo foi de Wallace à Peterson, passando por Jefferson e Shirley. Eu quis morrer.
