Para a minha mãe 

Eu descobri há muito tempo que você não é uma super heroína. Também descobri que não sou a pessoa mais forte, nem a mais legal do mundo. Mas o que eu sempre soube, mãe, é que é somente no seu colo que o tempo congela para que eu possa conseguir respirar um minuto. É no seu colo que o mundo não me engole e a vida não tem a menor necessidade de fazer sentido. É dentro do teu abraço que tudo que tá ruim fica bom, é no teu beijo que os machucados se curam e é no teu olhar, sempre tão doce, que eu sei que amanhã vai ficar tudo bem. 
Amanhã vai ficar tudo bem. 
Agora é hora de soltar a minha mão e eu sei que seu coração tá apertado e eu to com aquele frio no estômago de primeiro dia de aula. Com a diferença que esse primeiro dia de aula é um mundo inteiro à minha porta. 
Eu escolhi ficar e sei que por você eu nunca teria ido embora. Mas eu preciso aprender a ser sozinha, eu preciso seguir em frente e você sabe que eu nunca fui de me esconder dos meus medos – gosto de olhar meus monstros nos olhos. 
Sei que a vida não foi mansa comigo e sei que você preferia que eu me poupasse, que eu ficasse onde as pessoas me amam e os braços me alcançam. Por enquanto eu preciso me encontrar, me redescobrir, saber ouvir os ecos nas paredes novas e nos buracos dentro de mim – e ser feliz com eles. Tenho certeza que a vida vai ser leve, tenho certeza que os dias serão tranquilos, pois quem dá meus passos agora sou apenas eu. E eu sempre olhei demais para o chão. 
Vai ficar tudo bem, tá? E se não ficar, eu volto, você sabe.

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