Sou um contador de estórias; se me despe em poemas, me derramo em fonemas, vocabulário chinfrim. Meus versos não rimam, minhas palavras não ganham, atormento meu peito em devaneios mirins.
Mas se me faço prosa, me entrego aos socos na boca do estômago de próprio punho. A linguagem me transborda, as palavras escorrem líquidas entre os dedos: sou a sua dor pungente, coração pulsando quente, frases soltas exclamadas com a voz abafada pelo teu medo. Sou o que cutuca a tua ferida aberta e expõe o que existe de mais cru em ti.
Sou tua mente inquieta, teu coração maltratado, essa tua vida torta e todo esse nó na garganta. Sou essa folha em branco, teu vazio dolorido, teu pranto é minha epifania santa. Sou tudo o que existe de lírico dentro da tua paranóia mas, de verdade, sou apenas um contador de estórias.
Eu não tinha lido nada parecido em muito tempo.
Impecável.