De pena em pena cruza suas ilhas o amor
e estabelece raízes que logo rega o pranto,
e ninguém pode, ninguém pode evadir os passos
do coração que corre calado e carniceiro.Assim tu e eu buscamos um vazio, outro planetaonde não tocasse o sal tua cabeleira,onde não crescessem dores por minha culpa,onde viva o pão sem agonia.Um planeta enredado por distância e folhagens,um páramo, uma pedra cruel e desabitada,com nossas próprias mãos fazer um ninho duro.Queríamos, sem dano nem ferida nem palavra,e não foi assim o amor, senão uma cidade loucaonde as pessoas empalidecem nas sacadas.– Cem Sonetos de Amor, Pablo Neruda.