Quantas vezes caminho na beira do rio Tâmisa, com meu Ipod tocando alguma coisa entre Paolo Nutini e Roberta Sá. Tanta trilha sonora para um caminho que não chega a dez minutos, na beira do rio. Mas é lá, naquele curto espaço de tempo e de asfalto que eu me pergunto, todos os dias, o que estou fazendo aqui. Ou afirmo, meu Deus, estou aqui.
Cada dia é uma emoção diferente, quando olho a ponte de pedra e toda sua carga Britânica. Ponte de pedra, quantas pessoas já passaram por ali. Quantos passos fazem este país. É como ir a Londres e pensar em Jack, o Estripador. Ou ir a Strattford e pensar que Shakespeare um dia andou pelas mesmas ruas. Ou ir a Arundel e descobrir uma vila com cara de Robin Hood no meio de um país civilizado.
A sensação de estar aqui é velha. É de antiguidade, de passado, de história. A ponte de pedra sobre o Tâmisa em Reading me lembra muito as pontes de Cambridge, onde morei por um mês e pouquinho quando tinha apenas 16 anos. Cambridge ainda me fascina e ainda é um dos meus lugares preferidos daqui, porque ainda conserva todo esse passado.
Mas aprendi a amar Reading. Aprendi a aceitar o contraste entre a arquitetura secular e os prédios de vidro. Aprendi a aceitar a mistura de indianos, paquistaneses, ingleses e estudantes universitários do mundo todo. Aprendi a parar tudo pra ver um pato voando. Um cisne voando.
Reading esconde ainda coisas como raposas no jardim. E o barulho que elas fazem quando estão no cio se integra ao som das sirenes de carros de polícia e ambulância. O novo, o velho, o natural, o artificial. Tudo em harmonia, embora só hoje eu reconheça isso.
Ainda sou apaixonada por tantos outros lugares daqui, mas talvez sinta falta de Reading se resolver sair um dia. E um dia me lembrarei da ponte de pedra… Ela talvez seja o único elemento que me faça lembrar todos os dias que estou deste lado do mundo. Ela tira meu piloto automático.
Um dia me lembrarei da ponte de pedra. Do Tâmisa correndo forte ao meu lado, dos filhotes de cisne nadando, dos patos, das folhas amarelas de outono. Talvez um dia eu me lembre de todas essas sensações confusas que um dia eu tive olhando a ponte de pedra, ora feliz e realizada, ora querendo tudo menos ela.
A vida é um eterno jogo de sinuca. A gente até pode saber qual é a próxima bola, mas se vai encaçapar ou não… depende da gente e de um pouco de sorte.
Mês: novembro 2009
Eu acho tão lindo…
… Quando entro num blog do além, que nunca apareceu aqui, e tem meu link!!!!! Ou quando dou uma fuçada em quem assina e vejo nomes que nunca comentaram antes! É muito bacaninha. E eu ando com uma mania besta de diminutivos….
O cenário
O cenário da menina ruiva.

Se olhar bem a foto, tem umas pessoas subindo uma rampinha e dá pra ver a ponte atrás da árvore…. 😉
Sensorial
“Sexo é sensorial”, disse uma amiga minha.
Eu sou extremamente e completamente sensorial em todos os momentos, não só no sexo. Tenho todos os sentidos aflorados, porque me preocupo em valorizá-los e deixá-los em alerta sempre. Preciso de toque, de gosto, de cheiro, de som, de imagem.
Se vejo algo bonito, paro e olho. Se sinto um cheiro que me agrade, eu fecho os olhos. Eu me permito o momento. Gosto de abraço de olhos fechados. Sabor eu testo com a boca cheia, todas as papilas gustativas têm de estar envolvidas. E tato, pra mim, é fundamental. É pele, é energia, é calor, é a interseção entre duas pessoas. Existe muita metafísica no toque.
Não consigo conter minhas expressões faciais, meus toques, minhas caras e bocas. E gosto quando as pessoas são assim, sensoriais.
Eu ando na rua e sorrio para os outros, preciso interagir, preciso de seres humanos. Outro dia sorri para uma menina, ela me mandou um beijo. Aqui as pessoas não entendem o sorriso incondicional, mal sabem interagir com quem conhecem.
Aliás, quando volto minha atenção ao meu sensorialismo, percebo o quanto é difícil ser assim e morar em país não-latino.
Era domingo
E começou caindo o mundo. Acordei no meio do noite com o barulho de quase uma “águas de Março” Brasileira.
Saí de casa às 10:30, totalmente do contra, pra ir trabalhar. Pensar em me jogar na chuva e no vento, caminhar vinte minutos e ficar seis horas de um domingo chuvoso em pé estavam me desanimando e muito.
Logo que saí senti que o que eu via pela janela era muito pior na vida real!! O vento era o tal do mini furacão que ninguém assume!! Vinha de todos os lados. E vento e chuva na Inglaterra não combinam, você tem a nítida sensação de que chove de baixo. Pode sair com um guarda-sol e chegará no destino ensopado. Pior que isso é ficar usando o guarda-chuva de escudo, né… a água aqui é tão sem noção que você faz golpes de artes marciais com ele! Na frente, e não em cima da tua cabeça, é uma posição muito comum.
Eu coloquei meu casaco e botas a prova d´água, que são de inverno e me cozinharam viva, mas o resto exposto continuou molhado. O vento era tão sem noção que fez um penteado moderno no meu cabelo, que estava todo preso!!! Meu guarda-chuva se concentrou em movimentos de plié e relevé, abria e fechava, enquanto eu rezava pra ele não morrer no meio do caminho. A burra aqui ainda foi de bolsa de tweed, que chegou pingando na loja.
Como se não bastasse a caminhada debaixo de tudo isso, lembre-se que aqui é Outono!! Ahaaaaa! O manto de folhas secas no chão vira o que??? Sa-bão. Folhas molhadas e pisadas, amigo, é que nem black ice. Piscou, dá um “who´s bad” no meio da avenida.
Então a cena era a seguinte. Encapotada, morrendo de calor, cabelo preso com penteado a la Cindy Lauper (crédito total do mini-furacão), guarda-chuva fazendo ballet com o vento, e sem piscar pra não levar um chão bonito.
Como estória pouca é bobagem, cheguei na loja e ela estava virada do avesso. Olhei e achei que tínhamos sido roubados, todas as jóias misturadas, derrubadas, como se alguém tivesse virado a mesa num momento-ebolição. Eu só sabia que tínhamos tido manutenção à noite, mas não dava pra acreditar que alguém da própria rede faria algo do gênero. Além disso, não dava pra saber se tava faltando alguma coisa, afinal, tudo estava emaranhado. E vocês não sabem o trabalho que dá arrumar e esticar colarzinho de um cabinete só, imaginem de oito!!!!! Passamos horas, eu e a Katie, fazendo trabalho de uma semana toda.
E não acabou!!! Os energúmenos que foram lá de noite deram pau na eletricidade. Nada funcionava, computador, PDQ, luz, telefone. Ficamos 2 horas sem eletricidade, sem poder vender. Depois de toda a loucura pra chegar na bagaça e encontrar aquilo daquele jeito, só uma noite gostosinha mesmo.
PS: É muito louco assistir à previsão do tempo na TV aqui… É nítido e óbvio que tem um furacão em cima da Escócia e eles só falam em “mild winds”. Dá pra ver o furacãozinho rodando no radar… dá pra sentir na pele e no cabelo… povinho mais esquisito!
Urgente
Porque eu já tô atrasada pra ir trabalhar, mas ando sem pressa nenhuma. Cai o mundo em água lá fora e a previsão de ter que caminhar embaixo dela me apetece muito e nada… É domingo.
… a cidade lá fora, com gentes falando sempre alto demais, sem parar, entrando e saindo de lugares, bebendo, comendo coisas, pagando contas, dançando alucinadas, querendo ser felizes antes da segunda-feira: urgente”
. Caio Fernando Abreu, em Estranhos Estrangeiros .
