Eu tenho cruzado com as mesmas pessoas quando estou a caminho do trabalho, de manhã. Uma delas é a menina ruiva.
No primeiro dia que a vi o mundo quase sumiu. Ela é a menina mais linda que já vi caminhar. Alta, magra, cabelos claros e vermelhos, sardas em uma pele imaculadamente branca. Olhos enormes, verdes, com cílios que podiam ser vistos de longe. Nariz pequeno, boca perfeita. Ela é toda perfeita, a menina ruiva. E no primeiro dia que a vi ela roubou o sol.
O céu estava cinza, com nuvens carregadas. A temperatura já estava baixa e todo mundo caminhava em seus mundos solitários, envoltos em casacos e cachecóis, ouvindo alguma trilha sonora particular em seus Ipods. A minha era “Million Faces” do Paolo Nutini, e serviu muito bem à ocasião.
Eu caminhava ao lado do rio Tâmisa, observando suas águas que às vezes não se movem, seus patos e cisnes esperando ansiosamente por algum pedaço de pão de fôrma. A million faces pass my way, they are all the same, nothing seems to change anytime I look around. Mentira, naquele dia tudo mudou e os rostos nunca mais seriam os mesmos.
Eu cruzei com a menina ruiva em cima da ponte. Eu indo, ela vindo. Bem em cima do Tâmisa. Quando ela apareceu, seus cabelos lisos e compridos se incorporaram às folhas de outono, vermelhas, quentes, espalhadas pelo chão como um manto e ainda resistentes nas árvores do fundo. Ela vestia apenas um sobretudo roxo e sapatilhas verdes, como uma modelo de passarela. E caminhava sorrindo, como se fizesse parte de uma propaganda de absorventes.
Ela sabia que o mundo parava ao seu redor, ela sentia os olhares. Ela era o sol naquela manhã fria e escura. Ela era as cores.
E eu me senti o pleno inverno, em toda a imensidão preta do meu sobretudo e na quadradice dos meus óculos. Ela me fez sentir o frio, mas só quando foi embora. Porque pelos poucos segundos em que caminhou sobre a ponte, em passos largos e rápidos de pernas compridas, ela aqueceu toda a beira do rio.
Ainda a encontro nas manhãs frias de Outono. E ela sempre traz o sol consigo.
Excelente!
Teve um toquezinho de poesia brasileira.
Esse negócio de trazer o sol consigo, entregou a sua origem poética heheehehe…..
Me fez viver o conto.
My best wishes!
Vini
Desde que eu pintei meu cabelo de vermelho vivo aos 14 sou apaixonada por essa cor, mesmo os naturais! Morro de inveja de um bom e velho ginger quando vejo passar – bem arrumado um cabelo desses é show, n tem como não olhar. Algo assim bem campanha de tintura L’Oreal. *-*
Parece que vi a menina passar na ponte agora. Muito, muito bom esse post. Adorei!
Que máximo! Adorei, e pude ver também a menina passando na ponte com todo o calor e vida do sol =)
Queria ser ruiva, mas nunca tive coragem de pintar!
Mas mesmo pintando, as ruivas naturais são mais bonitas…
Quem sabe um dia não crio coragem né? Hahaha
Ótimo post mesmo!
http://www.muitomelhorqueatuaex.wordpress.com