Se eu pudesse falar com Deus neste Natal…

… eu pediria paz. Paz no mundo e paz de espírito. Porque considero a paz essencial em todos os corações, capaz de gerar os mais nobres sentimentos.
Se eu pudesse pedir algo para Deus neste Natal, pediria mais juízo aos seres humanos. Que nós encontremos o equilíbrio entre a razão e o coração, entre o desenvolvimento e o meio-ambiente, que entendamos de uma vez por todas que os recursos do nosso planeta não são auto-sustentáveis, e nem infinitamente renováveis.
Pediria que os seres humanos tivessem mais respeito, acima de tudo. Respeito com o próximo, com as criaturas e com o planeta. Com o ar, a água, o fogo, a terra e, principalmente, com o Criador, seja lá qual for a sua crença. Pediria um mundo menos automático, menos mecânico, mas humano o bastante para manter a sensibilidade. Pediria a Deus equilíbrio.
Também pediria um coração mais brando em cada um de nós, a capacidade de encher os olhos de lágrima com a maldade do mundo, e não a frieza robótica da banalidade. Pediria que a as nossas almas se acalentassem mais com o sorriso de uma criança, com o agradecimento de um idoso, com o olhar de amor incondicional de um animal, com um dia de céu azul ou o canto de um bem-te-vi. Sendo assim, talvez fossemos menos cruéis.
Pediria a Deus um pouco mais de humanidade, mas aquela humanidade quente e altruísta, não a humanidade destrutiva. Pediria solidariedade com os que têm menos que a gente. Pediria ajuda e esperança aos necessitados, fé aos que acreditam, saúde aos que precisam, cura aos que a perderam, alegria quando a tristeza teima em vir.
Se eu pudesse falar com Deus neste Natal pediria que o homem raciocinasse mais, não só com a mente, mas com o coração e a alma. Pediria bondade e menos guerras, mais misericórdia e piedade. Mais irmandade.
Eu também pediria amor. Principalmente o amor fraterno, o amor entre as criaturas, o amor próprio. Pediria que o amor se espalhasse como flores dente-de-leão, que emanasse de cada sorriso sincero, de cada gesto de compreensão, de cada pensamento positivo. Que o amor gere a tolerância religiosa e racial. Que o amor inunde os seres humanos de tal forma que a consciência mundial se transforme. Que sejamos capazes de transformar. E que tenhamos fé de que qualquer transformação para o bem ecoa pelo mundo, mesmo que ela comece dentro de casa.
Se Deus realmente estiver me ouvindo neste Natal, peço que olhe por nós. Que rogue por nós e nos salve de nós mesmos. Que cure o mundo e os seres humanos, que renove as nossas esperanças em dias melhores. Que Deus se faça presente e que sejamos humildes o suficiente para reconhecer a Sua presença nos dias do ano que vem.
Se eu pudesse fazer um único pedido para Deus neste Natal eu continuaria pedindo a paz. A paz no mundo e no coração dos homens. Porque, sem dúvida nenhuma, a paz é a mãe de todos os sentimentos mais nobres… e é com ela que conquistaremos um mundo melhor.

Que todos vocês tenham um lindo Natal, com muito significado. E que ele renove as esperanças do teu coração em dias melhores para o ano que vem. Muito amor, alegria, fé. Saúde e paz de espírito.

Feliz Natal!!!!!!

Retificação

Muito obrigada, Deus. Muitíssimo obrigada. Não há ninguém neste mundo que tenha maior espírito natalino. Mesmo.

Hoje eu posso passar meu Natal em paz. Paz de espírito, paz no coração, paz na mente. Com menos rugas, menos olheiras e um sorriso verdadeiro no rosto.

 Amém.

Caramba, Deus!!!

Não dá pra me poupar uma única vez??? Cadê seu espírito natalino???

Boneca

Eu já fui uma boneca. Ou pelo menos minha mãe achava que eu era…

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Duas meninas

Eram duas meninas dos olhos da mesma mãe, com pouca diferença de idade, pouco mais de um ano. Uma queria morar na praia, a outra queria ser índia. Para uma criança de quatro ou cinco anos isto era sonho perfeitamente cabível a tangente.
Uma menina queria ser rica e ter um mordomo servindo limonada suíça na piscina, era só o que dizia quando perguntavam. A outra queria ser defensora da natureza e ter uma onça pintada de estimação. Elas iam para a praia todo verão, e esperavam ansiosamente por isso. Dividiam baldes, pás e castelos de areia. Cavavam buracos para chegar ao Japão sempre com medo de encontrar um japonês no meio do caminho. Mas só viam água, a água que brota na areia de baixo, como a mais velha dizia com toda a sabedoria do mundo.
Naquela época tinha bolachas do mar na areia. E as meninas tinham que pisar sobre muitas delas para brincar na água. A defensora da natureza odiava isso, achava que mataria as bolachas. A rica se divertia em pisar em bolachas, que para ela, nada mais eram do que biscoitos.
Muitas e muitas vezes elas colocavam duas cadeiras de praia dentro do mar, logo onde a água pudesse cobrir as pernas. As cadeiras afundavam na areia molhada, as ondas teimavam em derrubá-las e elas riam, ficando lá por horas a olhar o horizonte inquieto do oceano.
À tarde – elas se lembram bem, saíam pela praia para caçar corruptos para servir de isca para pescaria. Pegavam aquele apetrecho que mais parecia uma bazuca e sugavam a areia de cada buraquinho que soltasse bolha. Aí elas subiam o morro, onde o avô estava pescando, com um balde de corruptos. E ficavam por lá, espiando as baratinhas d´água subirem as pedras, procurando baleias no fim do mar, ouvindo as estórias dos pescadores que pescavam homens afogados. Como era divertido aquele monte de carro estacionado com varas de pescar!!
Elas cresceram entre tantas coisas que não dá pra nomear, dividiram absolutamente todas as memórias da vida. E aprenderam tanto uma com a outra! 
Lembro bem quando elas eram pequenas e a maior já sabia rezar. A mãe pediu para ela rezar enquanto a pequena repetia, assim ela aprenderia. E aquelas noites são inesquecíveis, a maior começando e a pequena emendando, soltando palavras com um dedo na boca. E às vezes a pequena errava tudo e elas riam interminavelmente e adormeciam sem terminar a oração. 
As meninas cresceram e continuaram indo para a praia, agora não mais para disputar a melhor areia molhada para se construir um castelo, mas para dividir dois gêmeos surfistas. Até isso elas dividiam civilizadamente. E depois dividiram o banco do calçadão, as amigas, as idas e voltas intermináveis entre as duas praias, os conselhos. As madrugadas infinitas no quarto escuro, conversando até o dia clarear.
Quando subiam a serra, tudo mudava, a vida real voltava a existir. E quando não iam para a praia iam para o Rio de Janeiro, dividir mais história de infância. Elas não tinham muito em comum, mas tinham uma força assustadoramente grande quando estavam juntas. A maior até enfrentou o menino mais temido da escola, devorador de criancinhas, quando ele quis teimar com a pequena. Ela deu uns golpes de karatê nele que nunca tinha aprendido na vida.
E quando ficaram maiores dividiram os carnavais de Águas de Lindóia, foi a pequena que mostrou para a maior como que era um beijo. Na verdade, a pequena sempre foi mais adiantada em tudo: ficou mocinha muito antes, desenvolveu formas, deu o primeiro beijo, teve o primeiro namorado. A maior queria um príncipe encantado, e a pequena acreditava em todos os seus sonhos. Até o dia em que a maior desistiu de esperar, e a menos continuou a apoiá-la. E mesmo assim, mesmo demorando, o príncipe da maior veio e a menor era a pessoa mais feliz no dia do casamento.
A pequena sempre fez de tudo para ajudar a maior. Em todos os momentos despertou um sorriso quando ela mais precisava. Sabe, a pequena veio de sopetão, diz a mãe. O pai e a mãe planejaram um filho por sete anos, a mãe fez tratamento e tudo. E aí nasceu a maior, que quase morreu no nascimento. E logo em seguida, quase que sem querer, veio a pequena, que com quatro meses já ficou órfã de pai. E a maior já quase morreu várias vezes, mas a irmã a salvou de alguns bocados.
Até a faculdade elas dividiram, os mesmos amigos, as mesmas festas, o mesmo squeeze da academia. E hoje elas se separam, de maneira tão dolorida para as duas, porque não sabem viver separadas. Elas simplesmente não aprenderam a viver separadas. Mas sempre entenderam que este dia chegaria.
A maior não virou índia, nem a menor ficou rica. Mas os sonhos continuam brotando, e a vida continua sendo escrita de tal forma que as linhas se embaralham. E mesmo quando as páginas começarem a se soltar, a história ainda será a mesma. Porque a mãe tem duas meninas dos olhos e assim é que tinha que ser. Uma não sabe viver sem a outra. E a que veio de sopetão foi o maior presente do mundo.

Te amo absurdamente irmã.

Saudade

“Saudade é um pouco de fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.”

Clarice Lispector

Parei

Parei de fingir que meu pai viajava para aceitar a morte. Parei de pedir colo porque estava pesada. Parei de ensinar a minha irmã a rezar porque ela já tinha aprendido. Parei de brincar porque tinha que estudar. Parei de andar de patins porque não tinha mais o de quatro rodas. Parei de andar de bicicleta porque ficou muito perigoso. Parei de tocar piano para jogar vôlei, o piano pedia dedos moles, o vôlei endurecia as minhas articulações. Parei de ser amiga de todo mundo porque descobri a falsidade. Parei de jogar vôlei para fazer cursinho. Parei de ser indecisa porque entrei na faculdade. Parei de ser careta e comecei a beber. Parei de ser certinha e beijei boca demais. Parei de figurar e comecei a protagonizar a minha vida. Parei com a timidez porque fiz terapia. Parei de ter amor platônico quando chamei um cara para sair. Parei para sacodir a poeira e dar a volta por cima quando o cara disse não. Parei de ver as horas porque tive que trabalhar o dia inteiro, estudar à noite e sair depois. Parei quatro vezes em dois anos porque quase enlouqueci. Parei de estudar porque tinha acabado. Parei de procurar sem encontrar para encontrar sem ter procurado. Parei de trabalhar para viver um amor. Parei de sonhar para arriscar. Parei de falar português para falar inglês. Parei de morar na Inglaterra para voltar ao Brasil. Parei para decidir a vida e o tempo passou sem eu perceber. Parei de esperar e me casei. Parei para esperar um pouco e esperei muito mais do que imaginava. Parei para pensar e acabei sentindo. Parei para amar e acabei vivendo.

Filho de orixá

Quando me contaram sobre o meu orixá me disseram que eu era filha de Ogum nas cinco frentes. Isso porque a gente tem um Orixá em cada lado, um na frente, outro atrás, e um na cabeça. Pelo menos foi assim que eu soube. E sendo filha de Ogum dos pés à cabeça, conto para vocês como é:

CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE OGUM

Não é difícil reconhecer um filho de Ogum. Tem um comportamento extremamente coerente, arrebatado e passional, aonde as explosões, a obstinação e a teimosia logo avultam, assim como o prazer com os amigos e com o sexo oposto.
Os homens e mulheres que têm Ogum como seu Orixá de cabeça, vão ter comportamentos diferentes, de acordo com os segundos e terceiros Orixás que os influencia adjuntós (adjuntores). De qualquer forma, terão alguns traços comuns: são conquistadores, incapazes de fixar-se no mesmo lugar, gostando de temas e assuntos novos, conseqüentemente apaixonados por viagens, mudanças de endereço e de cidade. Um trabalho que exija rotina tornará o filho de Ogum um desajustado e amargo. São apreciadores das novidades tecnológicas, são pessoas curiosas e resistentes, com grande capacidade de concentração no objetivo em pauta; a coragem é muito grande, a franqueza absoluta, chegando mesmo à falta de tato.

 

E aí, parece comigo???