Em toda palavra que escrevo, tem de caber o mar.
Em toda palavra que escrevo, há de se naufragar.
Se solto minha escrita ao vento, receba-a em pergaminho enrolado dentro de garrafa de rolha.
Receba papel rasgado, salgado, amarelo, feito lágrima em folha.
Se solto minha escrita ao vento, abra todas as janelas e aguarde.
Palavras lhe chegarão ferozes, feito temporal de fim de tarde.
É que em toda palavra que escrevo, tem de caber inteiro o mar.
Em toda a palavra que escrevo, há de caber um pouco amar.