“Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo.”
Caio Fernando Abreu
Hoje eu te escrevo sem nem ao menos saber porque. Talvez por essa mania estúpida de querer dar um desfecho em tudo, um adeus formalizado, uma mão no ombro. Talvez por fazer disso o processo de um funeral, pois só quando acompanhamos o caixão é que temos certeza de que está morto. Talvez porque tenho a esperança de que esta carta tire de mim o peso do mundo, o peso que não posso carregar mais a partir de agora.
Você não passou por mim. Você foi muito além e eu já te disse isso em inúmeras outras cartas que nunca mandei. Sabe que a tua vinda foi um furacão. Sim, um furacão avassalador, que chegou destruindo todos os alicerces, se acalmou dentro do olho e foi embora com a mesma força que veio.
Eu te deixo ir do mesmo jeito que me deixou ir. Já não sobram mais mágoas dentro de um coração que está em paz. Já não sobram mais quereres e desquereres, e qualquer outra dessas coisas que senti quando você estava aqui.
Não, não sou frio, muito menos egoísta. Apenas te aceito livre como já está, e te liberto dos meus sentimentos. Preciso cuidar de mim, cara, preciso tocar a minha vida.
O que levo de você são as coisas mais bonitas: os livros do Caio, as risadas no fim da tarde, as músicas que a gente ouviu. O que tenho de você em mim são apenas momentos bons, sentimentos que eu não tive coragem de destruir antes que começassem, porque me faziam bem. Mas a verdade é que nada começou, não é mesmo? Somos apenas frutos das nossas imaginações e do que idealizamos como desejo.
Talvez eu seja exagerado mesmo, talvez isso que vivemos não tenha sido nada, embora não acredite. E talvez você não leia esta carta, mas eu precisava deste desfecho. Precisava colocar um ponto final, virar a página e continuar. Continuar o meu caminho longe do teu, como sempre foi.
Te desejo muito bem, babe, de verdade. Te desejo toda a sorte do mundo e não há nada que diminua o quanto te quero bem. E é, quero te ver feliz. Toda aquela bobagem de ciúmes já não faz mais sentido pra nenhum de nós. Que você seja feliz com quem quiser.
Aqui te digo, quem sabe, minhas últimas palavras. Não quero mais que você seja uma dor em mim, quero que seja uma lembrança boa. E afinal de contas, não queremos mais sofrer pelo que não foi, não é mesmo? O meu carinho por você não mudou em nada, apenas aprendo hoje a deixar-te livre. Arranco-te do meu coração e te coloco ali, num canto. Quem sabe um dia isso aconteça, quem sabe um dia isso se apague.
Agora te deixo em paz. Apenas te quero bem. “Fica bem.”
por que todas as cartas não enviadas são iguais? por que que, por mais diferentes que sejamos, unitários, indivíduos, os sentimentos são os mesmos?
poucas variáveis diferenciam, por exemplo, os seus dos meus…
essa identificação é fruto dos mesmos?
belo texto, moça!
eh engracado como todo mundo ja teve vontade de dizer tudo isso, mas vc vem e faz tao facil! love u