Memorável

Eu tenho memória de elefante, e isso é fato. Se é que elefante tem memória boa. Mas eu tenho. Não consigo esquecer nomes, nem rostos, nem números, nem roupas, nem detalhes. E olha que já tentei piamente! Tenho memória não-seletiva, visual, auditiva, sensorial em todos níveis.
E isso me deu um problemão a vida toda. Eu disse, eu já lutei para esquecer, não prestar atenção, adoro quando uma vez na vida eu pergunto “como é teu nome mesmo?”. E às vezes eu pergunto mesmo já sabendo a resposta.
Por uns dez anos isso foi um problema de relacionamento na minha vida. Eu não esquecia o nome de nenhum menino, assim como não esquecia o de nenhuma menina, adulto ou idoso. Mas as pessoas juravam que o fato de eu lembrar o nome do cara que tinha visto uma vez por dois minutos há três anos, lembrar a roupa que ele usava, o que ele falava e até o endereço significava que eu estava apaixonada. Ou pelo menos interessada. E nem sempre era assim.
Meu último momento revival me deixou traumatizada. Faz uns sete, oito anos e eu fui na Anzu, uma baladinha em Itu, interior de São Paulo. Eu vi um menino que eu jurava que conhecia. E lembrava o nome dele, porque o nome dele tinha marcado a minha vida por ter sido o mais difícil de pronunciar: Iberê. Só que eu não contei ainda que era tão difícil assim porque eu estava no jardim da infância quando estudei com ele. E, feliz e contente em rever meu amiguinho de infância, fui lá falar com ele. Pra que… Cheguei no menino e disse “seu nome é Iberê, né?”, ele respondeu que sim entusiasmado em saber se a gente se conhecia. Eu disse que tínhamos estudado juntos, na escola Núcleo. Ele olhou desconfiado e disse que nunca tinha estudado em nenhuma escola com esse nome. Eu afirmei que sim, mas que talvez ele não estivesse lembrado. Até que ele disse “ah sim, eu estudei em uma escola Núcleo, mas eu era bebê!”. Eu disse “pois é, é de lá mesmo, eu estudei com você no jardim da infância”. A reação do menino foi o meu trauma. Ele fechou a cara, me mandou catar coquinho e me chamou de louca. No fundo acho que ele pensou que eu o estava seguindo a vida inteira, para ele era impossível eu me lembrar da fisionomia dele, muito menos do nome. Mas eu lembrei, e vou fazer o que???
Com isso passei a dar uns truques na minha memória. Finjo que não sei, que não lembro, ou pelo menos que não lembro o nome, o endereço e o telefone. Como no fim de semana passado, casamento da minha amiga, que vi um cara que conheci há cinco anos no meio do carnaval de Salvador – não fiquei com ele, só conheci mesmo. Tive que fingir que não sabia o nome dele. As pessoas acham mais natural, já que quase nunca se lembram de nada.
É duro ser humano com memória de elefante. É quase que socialmente inaceitável.

3 comentários sobre “Memorável

  1. Marilac disse:
    Avatar de Marilac

    Oi,Mi

    Eu tenho boa memória, mas não tanto como a sua..rss

    Mesmo assim já passei situação parecida com essa,uma menina do colégio, que reencontrei na Faculdade negou que me conhecia, mesmo eu lembrando de toda a familia dela praticamente , já que as irmãs tb estudaram la..rss

    Aprendi a lição , mas volta e meio quebro a cara falando com gente que me olha com aquela cara de te conheço???..rss

    Bjs

    Marilac

  2. flavia disse:
    Avatar de flavia

    Eh fogo neh? As pessoas ficam chateadas qdo elas se lembram de algo e vc nao, mas ai qdo alguem tem uma memoria boa (excepcional) assim como vc, elas nao gostam/entendem… vai saber…

    Mi, passando aqui rapidinho, nem vou ler tudo soh pra dizer que estou aqui no centro, praca da Republica, a gente podia se encontrar um dia desses neh? vou te mandar um email com o telefone daqui.

    Bjs

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