10% do peso do seu travesseiro corresponde à ácaros mortos e seus digníssimos excrementos.
Durma bem…
10% do peso do seu travesseiro corresponde à ácaros mortos e seus digníssimos excrementos.
Durma bem…
Para acalmar os ânimos do último post, aqui vai um poeminha que escrevi em 05 de Maio de 2005, quando estava morando com o gringo na Inglaterra…
Amei muito.
Amei de um nada o todo, muito do pouco.
Amo tudo.
Por todos os lados,
Por cima e por baixo.
Exageradamente tudo.
Cada segundo,
Cada centímetro,
Cada pedaço do seu mundo.
Amo-o por inteiro,
Em puro devaneio.
Do tamanho de cada aura,
No espaço que cabe a alma
Na esquina da minha casa tem uma Kopenhagen. Na Kopenhagen tem uma faixa escrito “delivery – 88888888”.
– Vamos ligar?
– Moça, quantas Nhá Bentas você tem aí?
– Quantas a senhora quer?
– Quero saber quantas você tem.
A moça vai checar no estoque.
– Senhora, temos 42 caixas.
– Que bom… então enfia tudo no rabo. Quero que essa merda se exploda com essa desgraça toda. Odeio muito vocês, odeio! Tem que abrir essa birosca na esquina da minha casa pô??? Vou colocar uma bomba aí, vou fazer chover nhá benta por quatro dias!!! Morra, nhá benta, morrrrraaaaaa!!
– Calma senhora, a gente nem cobra frete.
– Tá querendo morrer, minha filha?
– Caramba, achei que você ia pedir as 42 caixas… Bosta.
– Não deu.
– Menino, sai de cima do telhado!
– Mas mãe, tô é procurando a vó!
– A vó faleceu, menino, desce daí!
– Mas o pai disse que ela tinha subido no telhado!
– Pois é, menino, morreu, bateu as botas!
– Pois então vou achar-lhe as botas!
– Presta atenção menino, a vó tava no bico do corvo, acabou vestindo o terno de madeira!!! Não leva as coisas ao pé da letra, se não a estória fica sem pé nem cabeça! Tu tá é confundindo alhos com bugalhos. Pára de ficar batendo na mesma tecla. Vê se tira essas minhocas da cabeça e deixa de uma vez por todas de trocar as bolas. Vou te colocar as cartas na mesa: a vó escafedeu-se, foi-se dessa pra melhor. Agora toma tento e se conforma, pára de querer achar pêlo em ovo!! A vó foi para o reino perdido de Beleléu, padeceu no paraíso, já era.
– Ah, pois pra Beleléu é que eu não vou não. Quando ela voltar de lá me avisa que eu procuro as botas.
Ok, vou contar.
Eu era pequenininha, do tamanho de um botão – quase – e mamãe resolveu se livrar de mim e da sis nas férias de Julho. Mandou a gente pra um acampamento. Eu fui, minha irmã foi, meus dois primos meninos foram e minha prima menina foi também. Não vou nomear o acampamento porque sei que fui cobaia deles e hoje em dia eles são decentes. Mas quem quiser eu conto em off.
Bom, como disse, o acampamento era novo. Minha prima rica ia sempre pros Pumas e eu achava o máximo, então fiquei toda empolgadinha com a idéia de me enfiar no meio do nada com mais umas centenas de crianças remelentas do inferno.
Eu tinha dez anos, pra situar vocês na linha do tempo. Minha irmã é um ano mais nova, minha prima também, um dos meus primos é um ano mais velho e o outro era bem, bem tiquinho. Mamis e titia pediram para deixar as meninas juntas num quarto e os meninos em outro.
O ônibus chegou um dia com direção à Tatuí (que eu jurava ser de onde vinham os tatus…). Despedimo-nos de mamis e fomos rumo ao fantástico mundo dos meus traumas de infância. Chegando lá, divisão de quartos: minha irmã e minha prima ficariam juntas num chalé com mais quatro meninas. Meus primos ficaram juntos. E eu, óbvio, fui jogada às traças num alojamento com mais noventa e nove crianças remelentas. Fiquei enfurecida, querendo matar todo mundo.
Os dias foram passando e eu morria de raiva porque não conseguia ficar com a minha irmã, nem com meus primos. O meu alojamento se resumia à crianças-mala, filhinhos-de-papai e pivetes. Não dava pra fazer amizade. A maior parte das meninas era insuportavelmente insuportáveis.
Até que um monitor – que devia beirar os dezenove anos e cuidava de umas quarenta crianças – resolveu fazer um passeio incrível: a trilha do Indiana Jones. Eu achei o máááááximo, era fã número um do Indiana Jones!!!! Meu sonho era ser ele… me joguei.
A trilha começou normal, atravessamos um riozinho pendurados num cipó e eu achei que a aventura ia ficar por aí. Até que vi uma montanha gigante – que devia ser um morrinho mais ou menos – e uma escadinha de corda. O monitor-anta mandou a criançada subir. Eu subi, morrendo de medo de cair e derrubar mais quatrocentos e oitenta e sete que vinham atrás de mim.
Pensei “bom, agora, definitivamente acabou”. Mas pra que acabar né minha gente? Monitor-pastel disse que a gente ia na praia artificial. Chegando lá, que gracinha, tinha até areia! Até ele mandar o povo entrar no mar artificial. E a miniatura aqui entrou no mar com água até a boca. Diz se isso é normal??? Até onde eu sei, mar artificial ainda é água. E ainda afoga.
Saí de lá ainda mais puta da vida xingando a mãe do monitor-pancada. Continuamos pegando umas trilhas até que passamos por um lamaçal que vinha no meu joelho. Eu não conseguia me mover e achava que ia morrer ali: na areia movediça do acampamento de Tatuí… minha vida não podia acabar assim. O monitor-jumento veio me ajudar e eu saí, literalmente, da lama.
Com as calças enrijecendo ao sol, continuamos caminhando. De repente, sabe-se lá porque, o monitor-energúmeno começou a falar bem baixinho e ficar vermelho. Dizia pra gente andar muito devagar, não fazer movimentos bruscos, não falar e não olhar pro lado. Bingo, todo mundo olhou. Na hora eu não sabia se eu corria, gritava ou comandava um movimento de linchação. Resolvi ficar estática, calada, e continuar andando. Pra mim, aquela cena era total Pica-pau: um búfalo gigante, preto, com chifres abomináveis (só faltava o piercing no nariz e a fumacinha saindo). O bicho estava muito enfurecido e mexendo uma das patinhas da frente. Eu decidi caminhar com as calças duras e nunca mais olhar pra ele…
Saindo de lá, chegamos em uma trilha. O monitor-drogado disse que o passeio já tinha acabado. Todo mundo relaxou, tinha sido muita emoção para os nossos coraçõezinhos. Já tinha dado. Doce ilusão… O único caminho de volta para o alojamento era bem no meio de dois cercados de…. ovelhas negras!!!!!! Cara. Até hoje eu xingo esse infeliz. A gente passou, e as bichas tavam á Deus dará, livres, leves e soltas. Saíram possuídas por um demônio de lá de dentro e começaram a correr atrás da gente como bodes, dando cabeçadas nas nossas pequenas bundas. Só de falar, minha bunda dói de novo, dezessete anos depois. Já tomou cabeçada de ovelha?? A cabeça delas era maior que a minha bunda!. Eu caía no chão, levantava, e elas vinham de novo…
Eu tenho certeza de que aquele monitor era um vendedor de pamonha da estrada que cataram no meio da viagem. Não era possível. O cara não tinha noção nenhuma do que tava fazendo!
Como se não bastasse, óbvio, tive dor de garganta um dia. Estava ardendo de febre, abandonada no beliche do alojamento e minha pequena irmã saiu pra chamar o médico, que estava na baladinha dos adolescentes. O médico olhou pra cara dela e mandou a criatura de nove anos me dar uma colher de sopa de mel (?????) Veja bem, eu tinha febre. Nem índio trata febre com mel…. O pior é que não tinha como ligar para a minha mãe. O mini big brother proibía.
A última vez que resolvi participar de alguma coisa foi até o momento em que o filho da puta programou uma caça aos morcegos à noite. Já disse que tenho pânico de morcego. Pois é, me enfiei no meu mundinho e esperei um mês inteiro passar naquele mini inferno dantesco. E até hoje xingo todas as gerações de todo mundo daquele acampamento mequetrefe que me rendeu, pelo menos, uns três traumas de infância.
CLOUD-DOGS… fala sério se não é brilhante?????
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Essa expressão fantástica para nomear ovelhas foi tirada do filme “A vida de David Gale“, um dos cinco DVDs que eu peguei ontem na promoção Terça no sofá Blockbuster – qualquer locação por R$ 3,50. Vale a pena assistir! Muito bom o filme!
Nota: Eu acho ovelha um bichinho lindo, principalmente quando tô na Inglaterro e passo por aqueles rebanhos cheios de rechonchudinhas… mas eu tenho verdadeiro pânico, principalmente das negras. Bom… depois eu conto essa história, vai direto pra categoria “Escolhida a dedo”.
Ela é uma das duas meninas dos olhos da mãe dela. Adora sentir o vento no rosto, mesmo sem saber que direção tomar. Gosta de andar com os pés no mar, sentindo a brisa e o cheiro da maresia que vem com o entardecer. Eu sei que ela ama borboletas amarelas e acredita que quando encontra uma é porque terá um dia feliz. Acredita nisso desde pequenininha.
Ela é a menina que dança quando ninguém tá vendo, mesmo que todos estejam olhando. Não vive sem um abraço de cachorro, canto de bem-te-vi ou a pracinha perto da casa dela. É fã de Ben Harper, Cazuza e Stones, de acordo com o seu estado de espírito. E seu estado de espírito depende exclusivamente do tempo. Ela acredita que todas as cores do mundo são mais coloridas em dia ensolarado e céu azul de brigadeiro. E que todos os sorrisos do mundo sorriem para ela ao mesmo tempo quando a neve cai como mosquitinhos voando sem destino.
Eu sei que ela ama fazer bolo numa tarde fria, ler um livro deitada na grama do jardim. Sei que ela conversa com as plantas e com a sua hortinha de ervas. E que diz bom dia aos animais que cruzam seu caminho. Também sei que ela é completamente louca por ele e troca tudo por um dia de conchinha embaixo do edredom. E um filme, chá com leite e biscoitos.
Ela gosta de cantar Sheryl Crow bem alto e bossa nova bem baixinho. Ela é a pessoa mais saudosista que eu conheço, mesmo tendo tido uma das maiores perdas da vida ainda na infância. Ela diz que isso não a afeta mais e nem lembra, mas eu sei que ela chora baixinho na cama de vez em quando. Sei que o coração aperta de saudade de muita gente que ela queria que estivesse perto e não está. E no dia do seu casamento ela chorou também, que eu vi.
Ela tem pavor de morcegos, mas adora cavernas e castelos. Ela tem medo de abelhas e não vive sem flores. Ela adora quando vê uma borboleta amarela mas fica extasiada quando encontra uma grande borboleta azul brilhante, como aquela que fez casulo na casa dos seus avós há muitos e muitos anos. Uma lagarta que virou a borboleta mais bonita que já viu. E até hoje quando encontra uma grande e brilhante borboleta azul, desperta emoções que a menina nem ao menos entende.
Ela brigou com Deus algumas vezes e ainda não entende o sentido da vida, mas acredita que seja o amor. E que tudo está ligado por uma energia maior. Sua religião mora dentro dos milhares de livros que ela lê. E ela lê quietinha num canto, mesmo que o mundo esteja acabando lá fora. Mas ela nunca vai deixar o mundo acabar, porque vai lutar até o fim contra a matança das belugas ou a extinção do beija-flor-rabo-de-canela.
Ela acredita em um monte de coisas muito mais do que desacredita. Também gosta de um milhão de coisas além das que desgosta. Eu sei que ri sozinha e ri por qualquer coisa, e chora, mas chora só de tempo em tempo. Ela tem um monte de sonhos na mochila e, de vez em quando, põe essa mochila nas costas. Ela acredita tanto nesses sonhos que um dia foi parar lá do outro lado das ondas…. onde nem a areia chegou ainda. E foi por causa dele. Eu disse que ela é completamente louca por ele.
Na sala de espera do consultório, há alguns minutos.
– Filho, deixa a mamãe tirar a sua temperatura…
Ela coloca o termômetro debaixo do braço de um menininho de uns 5 anos.
– Ah, 37 graus.
– E isso quer dizer que eu tô morto ou vivo?
– Morto – diz o pai, fanfarrão.
– Ah que bom…
Qualquer semelhança com a família Addams é mera coincidência.