Sobre ovelhas… e eu

Ok, vou contar.
Eu era pequenininha, do tamanho de um botão – quase – e mamãe resolveu se livrar de mim e da sis nas férias de Julho. Mandou a gente pra um acampamento. Eu fui, minha irmã foi, meus dois primos meninos foram e minha prima menina foi também. Não vou nomear o acampamento porque sei que fui cobaia deles e hoje em dia eles são decentes. Mas quem quiser eu conto em off.
Bom, como disse, o acampamento era novo. Minha prima rica ia sempre pros Pumas e eu achava o máximo, então fiquei toda empolgadinha com a idéia de me enfiar no meio do nada com mais umas centenas de crianças remelentas do inferno.
Eu tinha dez anos, pra situar vocês na linha do tempo. Minha irmã é um ano mais nova, minha prima também, um dos meus primos é um ano mais velho e o outro era bem, bem tiquinho. Mamis e titia pediram para deixar as meninas juntas num quarto e os meninos em outro.
O ônibus chegou um dia com direção à Tatuí (que eu jurava ser de onde vinham os tatus…). Despedimo-nos de mamis e fomos rumo ao fantástico mundo dos meus traumas de infância. Chegando lá, divisão de quartos: minha irmã e minha prima ficariam juntas num chalé com mais quatro meninas. Meus primos ficaram juntos. E eu, óbvio, fui jogada às traças num alojamento com mais noventa e nove crianças remelentas. Fiquei enfurecida, querendo matar todo mundo.
Os dias foram passando e eu morria de raiva porque não conseguia ficar com a minha irmã, nem com meus primos. O meu alojamento se resumia à crianças-mala, filhinhos-de-papai e pivetes. Não dava pra fazer amizade. A maior parte das meninas era insuportavelmente insuportáveis.
Até que um monitor – que devia beirar os dezenove anos e cuidava de umas quarenta crianças – resolveu fazer um passeio incrível: a trilha do Indiana Jones. Eu achei o máááááximo, era fã número um do Indiana Jones!!!! Meu sonho era ser ele… me joguei.
A trilha começou normal, atravessamos um riozinho pendurados num cipó e eu achei que a aventura ia ficar por aí. Até que vi uma montanha gigante – que devia ser um morrinho mais ou menos – e uma escadinha de corda. O monitor-anta mandou a criançada subir. Eu subi, morrendo de medo de cair e derrubar mais quatrocentos e oitenta e sete que vinham atrás de mim.
Pensei “bom, agora, definitivamente acabou”. Mas pra que acabar né minha gente? Monitor-pastel disse que a gente ia na praia artificial. Chegando lá, que gracinha, tinha até areia! Até ele mandar o povo entrar no mar artificial. E a miniatura aqui entrou no mar com água até a boca. Diz se isso é normal??? Até onde eu sei, mar artificial ainda é água. E ainda afoga.
Saí de lá ainda mais puta da vida xingando a mãe do monitor-pancada. Continuamos pegando umas trilhas até que passamos por um lamaçal que vinha no meu joelho. Eu não conseguia me mover e achava que ia morrer ali: na areia movediça do acampamento de Tatuí… minha vida não podia acabar assim. O monitor-jumento veio me ajudar e eu saí, literalmente, da lama.
Com as calças enrijecendo ao sol, continuamos caminhando. De repente, sabe-se lá porque, o monitor-energúmeno começou a falar bem baixinho e ficar vermelho. Dizia pra gente andar muito devagar, não fazer movimentos bruscos, não falar e não olhar pro lado. Bingo, todo mundo olhou. Na hora eu não sabia se eu corria, gritava ou comandava um movimento de linchação. Resolvi ficar estática, calada, e continuar andando. Pra mim, aquela cena era total Pica-pau: um búfalo gigante, preto, com chifres abomináveis (só faltava o piercing no nariz e a fumacinha saindo). O bicho estava muito enfurecido e mexendo uma das patinhas da frente. Eu decidi caminhar com as calças duras e nunca mais olhar pra ele…
Saindo de lá, chegamos em uma trilha. O monitor-drogado disse que o passeio já tinha acabado. Todo mundo relaxou, tinha sido muita emoção para os nossos coraçõezinhos. Já tinha dado. Doce ilusão… O único caminho de volta para o alojamento era bem no meio de dois cercados de…. ovelhas negras!!!!!! Cara. Até hoje eu xingo esse infeliz. A gente passou, e as bichas tavam á Deus dará, livres, leves e soltas. Saíram possuídas por um demônio de lá de dentro e começaram a correr atrás da gente como bodes, dando cabeçadas nas nossas pequenas bundas. Só de falar, minha bunda dói de novo, dezessete anos depois. Já tomou cabeçada de ovelha?? A cabeça delas era maior que a minha bunda!. Eu caía no chão, levantava, e elas vinham de novo…
Eu tenho certeza de que aquele monitor era um vendedor de pamonha da estrada que cataram no meio da viagem. Não era possível. O cara não tinha noção nenhuma do que tava fazendo!
Como se não bastasse, óbvio, tive dor de garganta um dia. Estava ardendo de febre, abandonada no beliche do alojamento e minha pequena irmã saiu pra chamar o médico, que estava na baladinha dos adolescentes. O médico olhou pra cara dela e mandou a criatura de nove anos me dar uma colher de sopa de mel (?????) Veja bem, eu tinha febre. Nem índio trata febre com mel…. O pior é que não tinha como ligar para a minha mãe. O mini big brother proibía.
A última vez que resolvi participar de alguma coisa foi até o momento em que o filho da puta programou uma caça aos morcegos à noite. Já disse que tenho pânico de morcego. Pois é, me enfiei no meu mundinho e esperei um mês inteiro passar naquele mini inferno dantesco. E até hoje xingo todas as gerações de todo mundo daquele  acampamento mequetrefe que me rendeu, pelo menos, uns três traumas de infância.

4 comentários sobre “Sobre ovelhas… e eu

  1. Dricota disse:
    Avatar de Dricota

    Eu era doida para ir em acampamento, ainda bem que minha mãe NUNCA me mandou, dizia que eu não precisava, pq era capaz de eu voltar morta hehehe
    Aliás nunca voltava inteira das férias!

  2. Ana Giesbrecht disse:
    Avatar de Ana Giesbrecht

    Só posso dizer: hilário… Imagino a cena “dantesca” das ovelhas, coitadinhas, cabeceando aquele bando de invasores, comandado pelo “preparadíssimo” monitor/agressor…
    Valeu para as risadas do dia. espero o que virá amanhã…

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