Um dia de TPM

O homem chega em casa para o almoço:
– Bom dia.
– Bom dia porque?
– Ué, só estou dando bom dia.
– Mas o que você quis dizer com o Bom dia? Você sempre fala em códigos…
– Eu só quero que você tenha um bom dia…
– Isso significa que você não vai passar o dia comigo né?
– Como assim?
– Porque se você quer que eu tenha um bom dia é porque não vai passar o dia comigo.
– Como assim, então você quer dizer que passar o dia comigo é ruim??
– Não é isso… na verdade eu não sei direito, mas o seu bom dia soou estranho.
– Ihhh você tá cheia de estória… 
– Ok.
– Ok então.
– Como Ok então?
– Estou respondendo o seu Ok.
– Isso não existe! Não se responde um Ok com um Ok então!
– Certo.
– Fala em polissílaba…
– Ok só significa que está tudo bem.
– Mas não está tudo bem.
– Porque não? Está de mal humor?
– …. Acho que sim.
– Ah… ok então.
– O que é isso? Agora você vai ficar revidando?? Só vai responder em Ok?
– Que saco…
– Já vai sair de novo? Não vai falar nem tchau?
– Tchau porque? Você mal quer que eu dê bom dia…
– Não sei… você está muito esquisito hoje. Chega nesse mau humor, nem fala comigo, fica só me dando patada!! Ainda tira com a minha cara e me responde com monossílabas: “Ok”… nem americano sabe o que é OK! Aí pega as suas coisas, como quem já tivesse passado o dia inteiro em casa, e sai de novo pela mesma porta que entrou! Ah, tenha a santa paciência! Acho que precisamos conversar sobre a nossa relação… está ficando cada vez mais insustentável! Não consigo viver debaixo do mesmo teto com uma pessoa que não me dá valor! Nem a minha mãe você poupa! Nem aos domingos, que é o único dia que eu faço questão de vê-la você tem ido comigo! Mas que coisa! Essa casa está parecendo o Iraque! Nem o Saddam é tão ditador como você! Aliás, você viu hoje na televisão aquele carro de civis metralhado pelos soldados americanos? Um horror! Morreram duas crianças… eu acho tudo isso um absurdo!
– Quer um chocolate?
– Quero.

* Escrito em 12 de Abril de 2004.

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