Não sei porque me lembrei disso agora. Um dia encontramos um passarinho morto na escola. E achamos injusto e indigno deixá-lo lá. Então acomodamos o pequeno pardal em uma caixinha e o enterramos na horta. Mas não foi um enterro qualquer! Foi uma cerimônia. O Léo foi o padre. E nós rezamos em piu-piu-piu-piu-piu, a língua dos passarinhos.
Tag: Fritas com vinagre
Auto-retrato
Idade: 27
Signo: Touro
Ascendente: Leão
Profissão: Publicitária, que queria ser redatora, mas odiou o clima de agência e foi cair em marketing de moda.
Nunca seria: Advogada. Odeio papelada, burocracia, odeio a sensação obsoleta de um Forum
Conquista: Ter seguido os meus instintos e o meu coração. Ser protagonista de uma linda história.
Arrependimento: Nenhum que eu me lembre… geralmente faço tudo para não me arrepender de não ter feito. Aquele velho clichê, sabe!
Qualidade: Dizem que tenho um coração gigante… eu tenho que concordar.
Defeito: Meus maiores defeitos são a ansiedade, o apego e a falta de paciência. Nunca fui tão obrigada a trabalhá-los na minha vida como nesses últimos anos. E quer saber? Não tenho conseguido me livrar deles…
Fé: Sou católica, mas acredito muito em espiritismo e acho lindo o candomblé. Sou filha de Ogum, tenho ele nos quatro lados e na cabeça – o Orixá Guerreiro. Mantenho meus santinhos no oratório e sou devotíssima de São José e São Judas Tadeu. Tenho um mini-evangelho ao lado da minha cama, às vezes leio os salmos, são lindos e têm muita poesia.
Lembrança: Minha infância. E meus avós, quantas saudades.
Plano B: Não tenho, e isso me deixa meio desesperada. Queria ter sido escritora, arqueóloga ou bióloga, mas a realidade falou mais alto.
Desejo: Conhecer o mundo, viajar pelos continentes. E falar todas as línguas que eu quero.
Sonho: Paz no mundo, desenvolvimento sustentável (fiz um trabalho sobre isso na escola durante a Rio 92 – quem diria que ainda seria um assunto tão atual).
Rotina: Não gosto. Enjôo fácil das coisas.
Obrigação: Dizer o que sinto, quatro anos de terapia me ensinaram a me dar esse direito.
Adversidades: Tive muitas. Meu relacionamento é a prova viva disso. Desde Romeu e Julieta não conheci um amor tão difícil quanto o meu. Muitas, muitas pedras no caminho… mas é com elas que a gente está construindo um castelo!
Fraldas: Sempre quis ter uma família Von Trap (A noviça rebelde), ou ao menos quatro filhos. Mas como agora está perto da vida real, acho que três está ótimo. Dois, no mínimo. Não teria filho único. E também adotaria se tivesse condições.
Momento: Quando estou com a minha família toda reunida. Minha dádiva foi quando tive minha mãe, minha irmã, meu cachorro e meu marido juntos, por três meses.
Dor: Perda. Dói muito perder alguém, sei que isso tem que ser trabalhado. Mas é muito duro.
Frase: “Vou onde o vento me leva e não me sinto pensar”, a última frase do poema “Hoje de manhã” de Fernando Pessoa, sob o heterônimo de Alberto Caeiro.
Pedaço do céu
Eu tinha uns seis anos e minha vida era basicamente cuidar do mundo. E o mundo para mim era a horta do meu avô, as três árvores na frente de casa, meu tatu-bola de estimação, um abacateiro, uma boneca que exigia muitos cuidados, uma pitangueira, três pintinhos e a minha coleção de gibis. Fora isso eu tomava conta da minha cartilha e do desenho de cogumelo que eu plastifiquei com cola branca. Mas eu tomava conta era de muita coisa para uma pessoa tão pequena.
Eu queria ser grande e poder aumentar meu mundo, por isso pedi à minha mãe um cachorro. Mas ela não me deu até os dezessete anos. Eu jurava que era grande o bastante, que tinha responsabilidade e que poderia muito bem tomar conta de um cachorro, além de todo o mundo que eu já cuidava. Até que Deus me deu uma tarefa tão imensa que me provou o contrário.
Era um dia de céu azul ensolarado e gordas nuvenzinhas brancas e eu brincava no recreio da escola. Foi quando eu vi alguma coisa caindo do céu e peguei com a mão no ar. Meu Deus! aquilo não poderia estar acontecendo! era um pedaço do céu! Eu fiquei atordoada, era um pedaço de nuvem na minha mão! As outras crianças logo vieram me perguntar o que tinha caído do céu e eu rapidamente respondi com a minha petulância de menina que era nuvem, óbvio. Afinal era branco, fofo e parecia algodão. Olhamos para o céu e não havia nada, além de um azul ofuscante, algumas nuvens dissipadas, e aquele chumaço comigo. Mas todo mundo viu que aquele pedacinho de nuvem caiu daquele céu.
Aquele momento foi o meu primeiro contato real com a responsabilidade adulta, e para dizer a verdade, acho que foi o maior da minha vida. Agora eu seria guardiã da nuvem que caiu do céu, nomeada por todos os habitantes da Terra: as crianças da escola. E ela estava ali na minha mão, quase como um presente, reluzente em toda aquela brancura cândida e ingênua. Mas eu sabia que não era simples e suave como parecia. Sabia que aquilo era um desafio injusto de Deus para mim, uma tarefa árdua e pesada: tomar conta da única nuvem que caiu do céu.
Aquela sensação aterrorizante virou alegria para os meus coleguinhas. Eles diziam que eu tinha que guardar a nuvem, mas no fundo eu não queria. Já tinha coisas demais para tomar conta e um pedaço de nuvem passava dos limites aceitáveis da minha ingenuidade. Era fardo pesado demais e eu não era grande suficiente para carregá-lo. Deus só poderia estar zombando de mim, afinal ele sabia que eu era só uma criança. Se eu tivesse que tomar conta da nuvem, alguém sairia perdendo. Teria que abdicar do tatu-bola, dos gibis ou das três árvores. Teria que decidir pela nuvem ou pelo desenho plastificado. E esse pensamento me fez arrepiar por dentro. O que seria das coisas se eu parasse de olhar por elas? Quem tomaria conta do mundo?
A verdade é que eu não estava à altura de um mundo um pouco maior que o meu. A nuvem era muita coisa para mim, era artigo do mundo todo, o céu não era só meu. Eu estava inconformada. Além do mais, era tarefa de Deus cuidar das nuvens, e Deus era adulto demais para me jogar tamanha função, adultos não confiam certas tarefas às crianças. E com medo de dizer isso, mas com muito mais medo da responsabilidade de cuidar de um pedaço do céu eu disse para todo mundo que aquilo não era nuvem, nada. Aquilo era algodão de avião. E todo mundo acreditou, as crianças voltaram a brincar como se nada tivesse acontecido.
Mas eu sabia muito bem que aquilo não era algodão de avião. Também não queria jogar a única nuvem que caiu do céu em qualquer lugar. Acomodei-a ali bem quietinha ao pé de uma árvore e nunca mais olhei para trás, deixei o senso de responsabilidade ali. Eu odiava admitir, mas era muito pequena para ser guardiã de nuvem. E no fundo, eu preferia mesmo era continuar assim. Tinha um mundo já grande o bastante para cuidar.
Memorável
Eu tenho memória de elefante, e isso é fato. Se é que elefante tem memória boa. Mas eu tenho. Não consigo esquecer nomes, nem rostos, nem números, nem roupas, nem detalhes. E olha que já tentei piamente! Tenho memória não-seletiva, visual, auditiva, sensorial em todos níveis.
E isso me deu um problemão a vida toda. Eu disse, eu já lutei para esquecer, não prestar atenção, adoro quando uma vez na vida eu pergunto “como é teu nome mesmo?”. E às vezes eu pergunto mesmo já sabendo a resposta.
Por uns dez anos isso foi um problema de relacionamento na minha vida. Eu não esquecia o nome de nenhum menino, assim como não esquecia o de nenhuma menina, adulto ou idoso. Mas as pessoas juravam que o fato de eu lembrar o nome do cara que tinha visto uma vez por dois minutos há três anos, lembrar a roupa que ele usava, o que ele falava e até o endereço significava que eu estava apaixonada. Ou pelo menos interessada. E nem sempre era assim.
Meu último momento revival me deixou traumatizada. Faz uns sete, oito anos e eu fui na Anzu, uma baladinha em Itu, interior de São Paulo. Eu vi um menino que eu jurava que conhecia. E lembrava o nome dele, porque o nome dele tinha marcado a minha vida por ter sido o mais difícil de pronunciar: Iberê. Só que eu não contei ainda que era tão difícil assim porque eu estava no jardim da infância quando estudei com ele. E, feliz e contente em rever meu amiguinho de infância, fui lá falar com ele. Pra que… Cheguei no menino e disse “seu nome é Iberê, né?”, ele respondeu que sim entusiasmado em saber se a gente se conhecia. Eu disse que tínhamos estudado juntos, na escola Núcleo. Ele olhou desconfiado e disse que nunca tinha estudado em nenhuma escola com esse nome. Eu afirmei que sim, mas que talvez ele não estivesse lembrado. Até que ele disse “ah sim, eu estudei em uma escola Núcleo, mas eu era bebê!”. Eu disse “pois é, é de lá mesmo, eu estudei com você no jardim da infância”. A reação do menino foi o meu trauma. Ele fechou a cara, me mandou catar coquinho e me chamou de louca. No fundo acho que ele pensou que eu o estava seguindo a vida inteira, para ele era impossível eu me lembrar da fisionomia dele, muito menos do nome. Mas eu lembrei, e vou fazer o que???
Com isso passei a dar uns truques na minha memória. Finjo que não sei, que não lembro, ou pelo menos que não lembro o nome, o endereço e o telefone. Como no fim de semana passado, casamento da minha amiga, que vi um cara que conheci há cinco anos no meio do carnaval de Salvador – não fiquei com ele, só conheci mesmo. Tive que fingir que não sabia o nome dele. As pessoas acham mais natural, já que quase nunca se lembram de nada.
É duro ser humano com memória de elefante. É quase que socialmente inaceitável.
Comentando o post “Inconformada”
O valor na verdade saiu de uma putaria que a DHL fez, é tudo uma máfia…. quando o gringo foi mandar as coisas, a moça falou para ele colocar no “valor declarado” o valor que ele achava que os produtos tinham para insurance purposes, ou seja, para calcular o valor do seguro sobre a remessa. Insurance é bem diferente de tax (imposto). Ele achou que este valor seria o valor de seguro, caso acontecesse alguma coisa, como extravio. Além disso, em nenhum momento ele foi informado de que eu teria que pagar uma taxa quando recebesse, muito menos que essa taxa seria 75% do valor declarado, se não óbviamente ele não teria me mandado o mp3, teria esperado eu chegar lá.
Mas a vida há de me fazer recuperar esse dinheiro absurdo que eu vou ter que gastar, que tá doendo na minha alma e na barriga de um monte de gente passando fome. E o gringo já está mexendo os pauzinhos para processar a DHL de lá porque, pelo menos fora desta birosca deste país, a justiça funciona para os fracos e oprimidos. E violentados. Sem zoeira, é assim que tô me sentindo.
Obrigada pela força, galera. Bem que eu queria boicotar a Polícia Federal e passar um cheque sem fundo, mas não tenho conta corrente e acho que eu seria presa… hohohoho.
Que horroooooooooor!!!!!!!
“Corpo cai de avião na periferia de Paris
Lúcia Jardim
Direto de Paris
Dois moradores da região de Soisy-sous-Montmorency, na periferia de Paris, ficaram temporariamente em estado de choque depois de presenciarem provavelmente a cena mais insólita de suas vidas: um corpo humano caiu de um avião em movimento, enquanto sobrevoava a editora de filmes em que eles trabalham.
O corpo caiu do céu sobre o telhado da empresa, e com o impacto teria sido jogado ao chão, atingindo o capô de um carro estacionado, por volta das 11h (8h no Brasil). Os dois empregados teriam presenciado toda a queda.
A vítima seria um clandestino e teria “aparência latino-americana”, segundo os bombeiros que participaram do resgate. Conforme informações preliminares da polícia, anunciadas no telejornal das 20h (17h no Brasil) do canal TF1, provavelmente o homem teria viajado no trem de pouso do avião, que já estava perto de pousar. Este local seria a única possibilidade de esconderijo do lado de fora da aeronave.
A região em que aconteceu o incidente fica a poucos quilômetros do aeroporto de Orly, o segundo maior da França e que atende a 309 destinos distintos. Em dez anos, seria a segunda vez que um episódio semelhante acontece.
De acordo com os bombeiros, a temperatura de 29ºC do corpo no momento do resgate indica que são altas as chances de que o homem ainda estivesse vivo antes da queda. A identidade da vítima ainda não foi descoberta, e uma autópsia no corpo será feita amanhã.
A polícia ainda investiga de qual vôo caiu o corpo e, assim, poderá ao menos saber de onde vinha a vítima, que teria a pele de cor parda.”
Fonte:
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI2151624-EI8142,00.html
Inconformada
Abusada, agredida, corrompida, estuprada, humilhada. É assim que estou me sentindo. Frustrada com essa merda desse país, com essa palhaçada toda de viver aqui.
Estou esperando uma encomenda que o meu marido me mandou, isso inclui alguns papéis para o visto. Ele pagou 80 libras para mandar pela DHL. Hoje eles bateram na minha porta com a encomenda dizendo que eu só posso recebê-la se pagar o imposto alfandegário: R$ 895,29. Sério!!! Oitocentos e noventa e cinco reais e vinte e nove centavos. Mais de dois salários mínimos. Isso é o que eu vou ser obrigada a desembolsar para poder receber os meus papéis e um mp3 player que ganhei de presente de Natal… e que já foi pago, tanto o produto quanto a remessa. Isso é um abuso e eu estou no ápice da minha revolta com este país.
Se eu tenho o dinheiro? Não. Vou ter que defecá-lo de algum modo, rodar bolsinha na esquina, pedir empréstimo, sei lá. Se bobear o próprio entregador da DHL vai fazer uma vaquinha pra mim, já que estava inconformado com a minha crise de choro desesperada no meio da rua. O que não posso é correr o risco de perder, mais uma vez, os documentos que preciso pra ficar de vez com o meu marido.
E se eu não pagar? Fica em poder da Receita Federal… aí eles revendem ou dão de presente para alguém. Máfia filha da puta. País filho da puta. Governo filho da puta. Que ardam todos no mármore do inferno. Insha´Allah.
Omnia Vincit amor
