Reedição

Post “A gente não vê por aqui” (aí embaixo) reeditado.
Leiam e manifestem-se.
Já encaminhei para a Globo mas ainda não obtive resposta.

O refrigerante

… o registro que em breve vai ter que começar é escrito sob o patrocínio do refrigerante mais popular do mundo e que nem por isso me paga nada, refrigerante este espalhado por todos os países. Aliás foi ele quem patrocinou o último terremoto em Guatemala. Apesar de ter gosto de cheiro de esmalte de unhas, de sabão Aristolino e plástico mastigado. Tudo isso não impede que todos o amem com servilidade e subserviência. Também porque – e vou dizer agora uma coisa difícil que só eu entendo -porque essa bebida que tem coca é hoje. Ela é um meio da pessoa atualizar-se e pisar na hora presente.”

Clarice Lispector em A hora da estrela, escrito em 1977.

 

 

A gente não vê por aqui

Ando meio revoltada esses dias. Talvez seja só um pouco de TPM, ou talvez seja a minha parte rebelde querendo quebrar os grilhões da mediocridade, que nos fazem robôs que só dizem Amém. Estou farta de tanto preconceito e, pior, de tanta hipocrisia.
Assisto na Globo às suas auto-injeções de ego, exemplos de exemplos, morais de morais, contra bebida, cigarro, preconceito, etc, etc, etc. Quanta hipocrisia. Aqueles trechos de novela no meio do intervalo com a lição “se beber, não dirija”, e depois a emissora emenda com o peito estufado “RESPONSABILIDADE SOCIAL, a gente vê por aqui”.
Ontem ligo a TV à tarde e assisto um pouco de “Malhação”. Vejo então uma menina ser chamada pelos “colegas” de baleia, bolota, free-willy, gorda, quando a tal menina nada mais é do que um pouco mais cheinha para os parâmetros esquálidos da nossa sociedade. Pelo amor de Deus, a menina não é gorda!!!! Dêem uma olhada, ela é a da direita na foto:

 

0973563497800.jpg

E como se não bastasse, escuto ontem mesmo, na novela das sete, o Malvino Salvador* falando para uma outra menina bem mais gordinha: “gorda desse jeito, como foi arrumar namorado?”. Como assim, por acaso ela é um ogro, faz parte de outra espécie? Porque ninguém diz “magra assim, como foi arrumar namorado”? Ou, “loira assim”, “alta assim”????
Que menino, hoje em dia, vai querer namorar uma gordinha se na própria televisão isso é considerado “errado”. Se os adolescentes já dão valor ao que os amigos pensam, imaginem quando isso é escancarado em rede nacional como impróprio.
Que diabos de exemplos de moral são esses que a Globo dá? Responsabilidade social. Preconceito então só é preconceito quando é racial? É muito bonito mostrar cena de novela com tolerância RACIAL e dizer “A gente vê por aqui”. Os outros tipos de preconceito nem são, ao menos, definidos como preconceito. Pior: são exarcebados, expostos como se fossem atitudes normais. Quanta hipocrisia!
Eu digo isso, indignada, porque sempre tive uns quilos acima do “normal” e sempre, a vida toda, sofri preconceito por isso. Principalmente quando eu era criança. Cansei de apanhar na escola, voltar com hematomas e ter que explicar para a minha mãe que as crianças me batiam porque me achavam gorda. Cansei de ser rejeitada  nas brincadeiras, ouvir piadinhas, escutar “mas você tem o rosto tão bonito”, como se o resto não significasse mais nada. O preconceito existe, está aí para todo mundo ver. Mas até aí, fazer apologia à isso é demais para a minha cabeça.
E não me venha dizer que os outros tipos de preconceito são piores, porque não são. A gordura está tão estampada para sofrer os pré-conceitos da sociedade quanto a cor da pele, a religião mostrada em vestimentas e os defeitos físicos.
Aonde essas pessoas querem chegar com essas frases absolutamente maldosas em suas novelas? Malhação não é uma novela supostamente para pré-adolescentes e adolescentes? As crianças são maldosas porque são sinceras, mas elas não nascem com o preconceito. Elas aprendem em casa, com os pais e com a televisão. Com os gibis e a Mônica, que nem era gorda. Qual é a graça em  menosprezar um gordinho e reduzí-lo, como se os magros fossem seres superiores? O que está acontecendo com a consciência humana, que às vezes parece regredir?
Eu simplesmente não entendo. Percebo que este preconceito absurdo contra a obesidade (e não estou falando sobre obesidade nos parâmetros médicos, mas nos parâmetros sociais) é muito mais incrustrado neste país do que em outros. Morando na Inglaterra, eu percebo um preconceito muito tímido, que não chega aos pés da maldade que existe no nosso país do biquini, no culto ao corpo em forma de Estado. No Brasil ser gordinho – e eu digo vestir a partir de 40 – é muito difícil. Principalmente para uma mulher.
Comprar roupas no Brasil é absolutamente ridículo. O que aconteceu com a indústria da modelagem de dez anos para hoje é um atentado. Se você colocar um jeans 42 de dez anos atrás em cima de um 46 de hoje, verá que eles têm o mesmo tamanho. O tamanho G não passa do que, um dia, foi um M larguinho. O GG agora é normal em qualquer loja, nem é mais artigo de lojas especiais, tamanho o seu encolhimento.  Qualquer mulher com um pouco mais de seio, barriga, bumbum ou coxa está jogada à marginalidade do mundo das grifes. Isso, para mim, já é uma tremenda discriminação.
Nunca me esqueço de uma mulher dizendo em uma entrevista que tinha “nojo de gente gorda”. Um alemão um dia também teve nojo de judeu. Sinto como se algum anoréxico fosse, a qualquer momento, enfiar todos os gordinhos numa câmara de gás e exterminar a “raça” inferior. Seleção “natural”… Como o atirador finlandês dessa semana que matou oito alunos e disse: “Eu, como selecionador natural, vou eliminar todos aqueles que julgar impróprios, desgraças da raça humana e falhas da seleção natural.” Que belos exemplos de próprios e impróprios que a televisão nos passa.
Se a gente quer falar de tolerância, de “coexistência”, que comece em todos os afluentes da palavra preconceito, não somente no religioso ou racial. A bem da verdade, a palavra “tolerância” por si só nem deveria caber aqui, pois só ela já é preconceituosa. Se alguém está sendo tolerante com outro, é porque de alguma forma não se sente igual ao outro e, sim, superior.
Toda a onda de “quilinhos a mais” virou uma monstruosa indústria de inibidores de apetite, cosméticos, clínicas de estética, grifes e shakes. Todos contra duas polegadas a mais!!! Mas como competir, se as meninas que vestem 38 estão fazendo endermologia para entrar no 36? De que adianta toda essa onda contra a anorexia, todos os apelos contra a bulimia, se continuam denegrindo em rede nacional qualquer pessoa com a coxa grossa?
É muito hipócrita fazer uma novela onde uma menina quase morre de anorexia – vejam bem: para alertar a população – e, alguns meses depois, transformar uma personagem, que nem barriga tem, na “baleia” da novela adolescente. E daqui a alguns meses, quem sabe, fazer documentários na Sexta-feira à noite mostrando os altos índices de bulimia em meninas magras; nossa, mas elas se acham gordas? Que grande hipocrisia. Perdemos totalmente os parâmetros e o bom-senso. Acho que nós, brasileiros, estamos é fartos de tantos exemplos negativos em novelas.

* Errata: o personagem era do ator Sidney Sampaio.

PS: Estou encaminhando esta crônica para a Globo.

A cruz e os abricoeiros

Rita era menina de praia, dessas de longos cachos castanhos e pele cor de amêndoa. Tinha grandes olhos negros de onde podia-se ver o mundo todo, e vastos lábios rosados com gosto de jabuticaba. Rita vestia sempre um vestido de renda que vó Xiquinha havia feito antes de morrer, tinha um par destes. E todos os dias ela fazia igual, caminhando à beira mar de pés descalços na areia fina e branca daquela praia perdida no litoral do Brasil. Carregava um balaio com o almoço do pai, quase sempre arroz, feijão e peixe. Ou feijão, pirão e peixe.
O pai de Rita pescava berbigão na Praia Deserta e era até lá que ela caminhava todos os dias, sob sol ardente ou chuva ardida, para levar-lhe o que comer. E enquanto seus pés roçavam a areia, ela inspirava sonhos e expirava juventude. Deixava para traz a imaculada menina e se inebriava da moça que ali se formava. Imaginava que um dia um príncipe da cidade a levaria de automóvel para subir a serra, do lado de São Paulo ou do outro lado, para o Rio de Janeiro. Para nunca mais ver jaqueiras ou cajueiros, para nunca mais sentir o cheiro salgado de mexilhões.
Mas não se parecia nada com o príncipe de Rita o moço que vinha pela praia todos os dias, para também levar almoço para seu pai, que também pescava berbigões. Jorge era franzino, caiçara, tinha cabelos pretos ondulados e olhos de peixe vivo que contrastavam com a morbidez amarelada de sua pele. E seu pai bem que fazia gosto com pai de Rita para que os dois jovens se entendessem.
Em um dia de verão, caminhando pela praia, Rita viu o moço mais lindo que o mar poderia ter molhado ou que a areia pudesse ter tocado. Era Henrique, que corria em sua frente com uma prancha de surf. Cabelos loiros ao vento, pele rasgada de sol, olhos perigosamente verdes e costas esculpidas pelas ondas. Dançava pelo mar como um golfinho, e Rita parou para olhar, só por um segundo.
Durante todo o verão Rita se apaixonou por Henrique, e Henrique se apaixonou por Rita. E a menina descobriu coisas nas areias de Barequeçaba que nunca havia sonhado. Rolou em noites de fevereiro pela praia verde de Guaecá, fosforescente de plâncton, e  descobriu sensações, sentimentos, suor e desejo. Até o último dia de verão…
Foi quando Henrique foi embora para um dos lados e não a levou de automóvel. Prometeu ficar com ela para sempre, mas somente quando voltasse o verão. E ela cansou de esperá-lo entre primaveras e outonos, e ele nunca voltava.
E foi quando Rita casou-se com Jorge que, lá do alto da serra, veio a notícia de que Henrique nunca mais havia voltado por ter morrido com o automóvel. E Rita chorou o rio Una inteirinho, com todos seus peixes e vagalumes.
E por toda essa água, adoeceu de amor. E Jorge, que tinha os olhos de peixe vivo, adoeceu por ver sua amada definhar em saudade de um amor que não era o seu. E um dia, como na lenda de Pontal da Cruz, Jorge lançou sua jangada ao mar para nunca mais voltar, e seus olhos perderam o vivo para sempre.
Rita, antes de deixar seu espírito à deriva, pediu para ser levada ao Pontal da Cruz, onde uma cruz se ergue entre dois abricoeiros entrelaçados. E ela mesma repetiu a estória que vó Xiquinha dizia ser verdade verdadeira e que o pai do pai do seu pai havia visto: “Foi-se lá há muito, muito tempo quando uma jovem de São Sebastião se enamorou de um moço que vinha de canoa todas as tardes, lá de Ilhabela para vê-la. Até que um dia ela foi obrigada a casar-se com o filho de um médico, que havia sido nomeado pelo Imperador pra cuidar daquelas bandas. E a moça adoeceu de não poder ficar com o amor da sua vida, e o moço de Ilhabela, vendo a sua amada morrer aos poucos, deixou sua canoa ao sabor das ondas do mar. Foi encontrado morto alguns dias depois e a moça morreu logo em seguida, de desgosto e saudade. O corpo do moço apareceu em Pontal da Cruz, onde colocaram uma cruz de madeira. E lá nasceram dois abricoeiros entrelaçados, para recordar aqueles que morreram de amor.”
Rita estava parada de pé, com o vestido de renda e os pés descalços. Seus olhos negros agora estavam pálidos e seus lábios vastos tinham se esbranquecido de dor. E a moça sentou-se na areia, ao terminar de contar a lenda, segurada em um dos braços por sua mãe e em outro, por seu pai, o pescador de berbigão. Lágrimas escorriam de seis olhos fundos enquanto as ondas faziam a música e os abricoeiros, o coral. E Rita não morreu, mas morreu por dentro e para sempre, bem lá no fundo de seu coração seco. E dizia que ali em Pontal da Cruz, um dia também haveria de ter mais três abricoeiros, ou três jaqueiras, ou mais três cajueiros que fossem. Para recordar os amores que tinham que ter sido e não foram, e os que foram e não tinham que ter sido.

 

pontaldacruz1024.jpg

Mostra-me tua bolsa e te direi quem és…

Mesmo depois de tantos blogs, ainda não tinha entrado na onda da bolsa… Mas agora deu vontade, por isso esparramei tudo na cama e voici!!! Eis o pequeno mundo desta pequena criatura…

s8002091a.jpg

Explicando tudo o que carrego, começando em sentido horário, lá de cima:
1 – Meu recente pocket book, Contos escolhidos de Machado de Assis (já tô acabando, tá na hora de arrumar outro),
2 – Micro-carteira e meu porta-moedas. Odeio carteiras grandes porque não trabalho com cheque hehehe…
3 – Porta-absorvente Reinaldo Lourenço, mega fofo…
4 – Óculos-mega-xodó e sua master-blaster-caixinha.
5 – Óculos de grau… sim, tenho 3,5 graus de astigmatismo!
6 – “Cerurá” e seu Charlie Brown…
7 – Perfuminho My Desire, da Victoria´s Secret, adoooro!
8 – Nécessaire básica com:
      * Mini-rímel,
      * Protetor labial com FPS,
      * Mini-desodorante, que eu compro em UK,
      * Gloss que eu quase nunca uso…
      * Mini- blush 3 em 1,
      * Hidratante com filtro solar,
      * Corretivo 3 em 1,
      * Fivela tic-tac,
      * Minha piranha de borboletinha linda,
      * Colírio Lacrima – não vivo sem!
9 – Vaquinha louca de anotações e caneta,
10 – Chave e documento do carro.

Descobri que sou mais fashion do que imaginava… tudo bem, metade do que tá aí são presentinhos de Fashion Week, das épocas de ralação.

Cara

Mudei de novo (o layout) … com o tempo vocês vão perceber que sou assim, meio inconstante….

Apprends-moi

 Apprends-moi
Les petites choses
Des couleurs que tu portes, au noir de ton café
Apprends-moi
Ce qui te repose
Tes envies et tes fautes avouées
Apprends-moi
Avec ton sourire
Tes manies, tes causes
Tes phobies, tes secrets
Apprends-moi
Ce que tu désires
En douces phrases et baisers sucrés
Apprends-moi
L’art du sacrifice
Qu’on est plus vivant
Quand on meurt d’amour

 Traduzindo:

Ensina-me
As pequenas coisas
As cores que você carrega, ao preto do teu café
Ensina-me
Isso que te alivia,
Seus desejos e seus erros declarados
Ensina-me
Com seu sorriso
Suas manias, suas causas,
Suas fobias, seus segredos
Ensina-me
Isso que você deseja
Em doces frases e beijos açucarados
Ensina-me
A arte do sacrifício
Que somos mais vivos
Quando morremos de amor…

200379742-001.jpg

Ai, ai….. não é lindo?????

Capitão do mato

Não contei que vi uma borboleta azul na praia né? Mais um dos meus raríssimos encontros, desta vez com a Morpho achilles achillaena, ou simplesmente “Capitão do Mato”… É uma das maiores borboletas da América, chegando a medir 14,5 cm de envergadura… E foi uma dessas, bem grande, de um azul mais azul que o céu, que voou sobre mim e desapareceu na floresta da Mata Atlântica. Para mais uma vez unir meu passado distante com alguma coisa do presente que eu só descobrirei no futuro. Como em todos os meus raros encontros com a borboleta azul…

bf01_03_36_2.jpg