Velho

” O tema da crônica daquele dia, é claro, eram os meus noventa anos. (…) Comecei por me perguntar quando tomei consciência de ser velho (…). Aos quarenta e dois anos havia acudido ao médico por causa de uma dor nas costas que me estorvava para respirar. Ele não deu importância: É uma dor natural da sua idade, falou. – Então – disse eu -, o que não é natural é a minha idade.”

 ” É que estou ficando velho, disse a ela. Já ficamos, suspirou ela. Acontece que a gente não sente por dentro, mas de fora todo mundo vê.”

Trechos extraídos de “Memórias de minhas putas tristes”, Gabriel García Márquez.

Palavras, por outro alguém

Lembram-se do que eu disse em “Palavras“? Pois bem, alguém mais concorda comigo…

 ” É claro que, como todo escritor, tenho a tentação de usar termos suculentos; conheço adjetivos enplendorosos, carnudos substantivos e verbos tão esguios que atravessam agudos o ar em vias de ação, já que palavra é ação…”

Clarice Lispector em “A Hora da Estrela“, 1977.

O refrigerante

… o registro que em breve vai ter que começar é escrito sob o patrocínio do refrigerante mais popular do mundo e que nem por isso me paga nada, refrigerante este espalhado por todos os países. Aliás foi ele quem patrocinou o último terremoto em Guatemala. Apesar de ter gosto de cheiro de esmalte de unhas, de sabão Aristolino e plástico mastigado. Tudo isso não impede que todos o amem com servilidade e subserviência. Também porque – e vou dizer agora uma coisa difícil que só eu entendo -porque essa bebida que tem coca é hoje. Ela é um meio da pessoa atualizar-se e pisar na hora presente.”

Clarice Lispector em A hora da estrela, escrito em 1977.