TPM

Hoje acordei assim, de tpm,
de diz que diz, de não me toques
Hoje quis chorar pendurada na varanda,
Andar na corda bamba, em cima da avenida
Porque ele não ligou, não escutou
Sumiu sem rastro, sem consideração
Não me quis, faltou tesão,
nem me olhou
Mas mandou um buquê de rosas dizendo que vai se atrasar
Porcaria de rosas, as rosas não falam, as rosas apenas exalam
um perfume que não é o seu, mas que deveria estar aqui
Será que você não percebe
Que é hora de dar o fora, de pular do barco, que agora é a hora?
Ontem ele disse que me amava, com versos de Neruda e Drummond
Hoje me deixou sozinha, uma taça de vinho, prato congelado e edredom
Quero gritar na janela, descobrir quem é ela que tira seus sonos
que foto anda na sua carteira, que diabos ela faz na cama
Não, não me diz que leva outra para tua cama,
Escuto tudo, mas tua cama ainda é minha
Não me diz que não adiantou borrifar meu perfume no teu travesseiro
Porque outros agora se misturam ao meu cheiro
Só me pega nos teus braços daqui a pouco,
Me liga, me chama, me diz que me ama, é tão fácil
Eu acredito, eu me entrego, desato os laços
Me entrego, te venero, te conto meus segredos,
Divido meu vinho, o prato congelado, meu brinquedo
Só vem, fica só um pouquinho
E me deixa chorar baixinho, escutando sua respiração
Sentindo o calor da sua mão
subindo pela minha perna
Ainda bem que você não lê meus pensamentos
Meus devaneios, minha paranóia
Se não ia adorar essas outras que eu invento, essas fantasias,
Essas mulheres que são um tormento
Ia roubar meus pensamentos pra tua cama, pra te saciar
Pra te alimentar, pra te fazer feliz demais
Mas a tua cama é só minha, de mais ninguém
e meus devaneios são puramente hormonais
Completamente normais…

* Escrito em 17 de Maio de 2004.

O macaco drogado

Essa estória foi assim: eu tinha uns oito anos de idade e fui à uma loja de cerâmica no Rio com a minha mãe, irmã, tia e prima.  
Tinha um macaquinho (de verdade…) numa gaiola aberta, com coleira e tudo. Como eu sempre fui ecopentelha desde criança, resolvi brincar com o lindo macaquinho. Bendita idéia. O bicho pulou na minha cabeça e por lá ficou, pulando, pulando e puxando meus cachinhos para cima com aquelas micro-mãozinhas-horrorosas. Como se não bastasse, ainda dava aqueles gritos histéricos enquanto pulava – já ouviu grito de macaco?
Pois bem, durou uns três minutos a festa dele nos meus cachos. Só saiu quando a dona retardada – que falava com voz de apresentadora de telejornal enquanto o bicho pulava – deu banana para ele. Você não imagina o que rende três minutos com um macaco pogobol na cabeça…
Pior é que a dona do primata insandecido ainda falava “calma, ele só quer brincar…” Quase tomou um sopapo da minha mãe. Sabe como é mãe nessas situações, né…
Alguém conhece alguém que já teve um macaco possuído pulando na cabeça? Mais uma das que só acontecem comigo.

Um dia de TPM

O homem chega em casa para o almoço:
– Bom dia.
– Bom dia porque?
– Ué, só estou dando bom dia.
– Mas o que você quis dizer com o Bom dia? Você sempre fala em códigos…
– Eu só quero que você tenha um bom dia…
– Isso significa que você não vai passar o dia comigo né?
– Como assim?
– Porque se você quer que eu tenha um bom dia é porque não vai passar o dia comigo.
– Como assim, então você quer dizer que passar o dia comigo é ruim??
– Não é isso… na verdade eu não sei direito, mas o seu bom dia soou estranho.
– Ihhh você tá cheia de estória… 
– Ok.
– Ok então.
– Como Ok então?
– Estou respondendo o seu Ok.
– Isso não existe! Não se responde um Ok com um Ok então!
– Certo.
– Fala em polissílaba…
– Ok só significa que está tudo bem.
– Mas não está tudo bem.
– Porque não? Está de mal humor?
– …. Acho que sim.
– Ah… ok então.
– O que é isso? Agora você vai ficar revidando?? Só vai responder em Ok?
– Que saco…
– Já vai sair de novo? Não vai falar nem tchau?
– Tchau porque? Você mal quer que eu dê bom dia…
– Não sei… você está muito esquisito hoje. Chega nesse mau humor, nem fala comigo, fica só me dando patada!! Ainda tira com a minha cara e me responde com monossílabas: “Ok”… nem americano sabe o que é OK! Aí pega as suas coisas, como quem já tivesse passado o dia inteiro em casa, e sai de novo pela mesma porta que entrou! Ah, tenha a santa paciência! Acho que precisamos conversar sobre a nossa relação… está ficando cada vez mais insustentável! Não consigo viver debaixo do mesmo teto com uma pessoa que não me dá valor! Nem a minha mãe você poupa! Nem aos domingos, que é o único dia que eu faço questão de vê-la você tem ido comigo! Mas que coisa! Essa casa está parecendo o Iraque! Nem o Saddam é tão ditador como você! Aliás, você viu hoje na televisão aquele carro de civis metralhado pelos soldados americanos? Um horror! Morreram duas crianças… eu acho tudo isso um absurdo!
– Quer um chocolate?
– Quero.

* Escrito em 12 de Abril de 2004.

Se o inconsciente diz…

Hoje* tive mais um sonho maluco para a minha coleção… vai ver que é esse o segredo todo da minha loucura… O inconsciente fala mais alto.
Enfim, sonhei que estava na cozinha do meu apartamento antigo (que era um cubículo que só cabia o meu cachorro). E quando eu me dava conta, estava o carinha pau-pra-toda-obra do meu trabalho – aquele que eu não entendo uma palavra sequer – quebrando a parede que dava da cozinha pra sala. Eu, humildemente, resolvi perguntar o que ele estava fazendo, e ele disse que o Bush havia pedido para ele quebrar a parede por causa do “Uzóvi” (???). Eu não fazia idéia do que viria a ser Uzóvi, talvez uma estratégia anti terrorista… mas o Bush?? E o pobre do Abenilde (sim esse é o nome do pau-pra-toda-obra) dizia “tem qui quebrá, tem qui quebrá si não vim bomba niqui” . Tudo bem, quem era eu pra contrariar o Abenilde???
Parede quebrada, começa a zona no hall do apartamento… nessa me entra o Bon Jovi (ahaaaaaaa: Uzóvi) pra fazer um show especial pra mim! Eu quase sem conseguir me manter em pé começava a gritar pela minha mãe porque estava de cinta (por causa da cirurgia que tinha acabado de fazer) e não podia deixar que ele me visse de cinta!!!! Hahahaha e aí começava o show, com o Bush sentado no sofá. Tudo escureceu, o Abenilde começou a gritar “bomba, bomba!”, até que olhei na janela e vi um zeppelin! Nele estava o Bell (do Chiclete com Banana) fazendo uma serenata para mim, disputando minha atenção com o Jon Bon Jovi (uhuuuuuuu)!! Como num sonho que eu tive há um tempo atrás em que ele fazia serenata no meu quarto do hotel em Águas de Lindóia… tá evoluindo pra me conquistar hein Bell!! Hahahaha
Enfim, a situação era: eu e Bush sentados na sala, eu de cinta. Bell na janela – no zeppelin – e Jon Bon Jovi na cozinha disputando minha atenção… ninguém merece. Óóóóó que dilema?? Quem será que eu devo escolher??? Jon Bon Jovi , Bush ou Bell? Acho que preciso pensar.

 * Sonhado em 20 de Abril de 2004

Saturday night live

Quem me conhece há pouco tempo não sabe muito bem com quem está lidando. Sou uma mistura assim meio surtada, meio que escolhida “divinamente” a dedo para determinadas situações. Sim, sabe aquelas histórias que quando alguém te conta você não acredita nem no mindinho que possa ter sido verdade? Pois bem… se eu contar uma dessas um dia, vocês façam-me o favor de acreditar.
Porque quando eu nasci, Deus olhou pra mim e disse “desce e arrasa” pensou “esta vai ser a minha cobaia. É com ela que eu vou testar o artíficio do até-onde-o-ser-humano-perde-a-pose”. Sim, porque com o tempo vocês vão entender que existem coisas que só acontecem comigo.

Saturday Night Live

Há alguns anos, minha tia havia ganhado alguns ingressos para o show do João Kleber. Era um sábado morto, daqueles que acabariam em “Zorra Total”, por isso resolvi colocar minhas mandíbulas para funcionarem um pouquinho (se é que é possível gargalhar no show do João Kleber, mas enfim…) Fomos em patotinha: primo, amiga (e namorada do primo), irmã, prima, mamãe, titia e eu. Sentamos num lugar razoavelmente bom, nem muito na frente, nem muito atrás. Até que chegou a hora do quadro “Namoro ou amizade”, em que a criatura imitava o Sílvio Santos.
Convenhamos: obviamente ele precisava de uma cobaia para fazer parte do quadro… Andou pelo teatro, passeando pelas cadeiras… Quando passou pelas filas por perto, eu já estava com a terrível sensação de “vai sobrar para mim”. Eis que ele veio na minha fila. Falou com a minha mãe, com a minha tia, me pulou, falou com a minha irmã, com a prima, a amiga e o primo. Notem bem: me pulou. Gente, é fato. Quando você está numa situação dessa e o cara te pula, pode ter certeza de que você está ferrado! Não adianta nem querer escorregar cadeira abaixo, ele já estava de olho em você desde a encarnação passada. É como uma flecha em neon piscando na sua cabeça: “me pegue, me pegue”… Conclusão: eu estava mesmo ferrada…
Pronto, esse seria o meu momento, meus quinze minutos de fama…. João Kleber me puxou pela mão e, com aquele terrível jeitinho de “Ahai-hihi”, me levou até o palco. Juro que não sei explicar para vocês o que passava pela minha cabeça naquele momento em que 400 pessoas sabiam o meu nome e observavam detalhadamente cada milímetro do meu corpinho subindo as escadinhas.
Por sorte, de cima do palco eu não via ninguém, tamanha era a luz na minha cara. Mas, alguém aí lembrou que esse quadro é feito com um casal?? Ããã? Ããã??? Pois bem… E que num show de humorista o meu par não seria nenhum Rodrigo Santoro?
Bom, a pior escolha da vida do João Kleber foi ter chamado meu primo para coagir nesta cena. Não, ele não foi meu par, ele foi simplesmente o cara que ESCOLHEU meu par… E como todo primo-irmão, escolheu o primeiro baianinho desdentado sentado no teatro. João Kleber, ainda com seu “ahai-hihi”, perguntou o nome do infeliz. Agora sentem – o nome do cara era Divino… Meia hora de risadas e piadinhas do tipo “caiu do céu só para você…”
E então o ser Divino subiu ao palco e sentou ao meu lado. Banguela, ele tentava conversar comigo enquanto aquela música ridícula rolava… E o que aquele homem falava, meu Deus!? Eu não entendia absolutamente nenhuma palavra cuspida entre seus dentes! Eu continuei com meus inseparáveis a-hãs, melhor saída nessas horas… Nunca imaginei estar num palco, sendo xavecada por um baianinho-banguela chamado Divino e com 400 pessoas rindo da minha cara. Mas, Deus é pai e mãe, e o quadro acabou em “amizade”. E , como se não bastasse todo o mico, na saída do teatro eu ainda tive que distribuir sorrisinhos para as crianças que me chamavam de “Milena do Divino”… Ninguém, absolutamente ninguém merece…

* Publicada no Saco de Pipoca em 29 de Abril de 2002.

O roubo do bebê

Essa foi postada em 2002, no extinto Saco de Pipoca. Mas como os pedidos pelas “escolhida a dedo” estão chovendo, vou postando aos poucos de novo. Assim elas ficam aqui, arquivadinhas.

O roubo do bebê

Certa vez, quando eu tinha os meus seis anos de idade minha mãe me deu uma boneca, a antiga Bebezinho, que todas as meninas devem se lembrar. Todo mundo ainda dizia que ela se parecia comigo quando eu era neném e eu acreditava, dando mais veracidade às brincadeiras de mamãe e filhinha. Aquela boneca, a Laurinha, era tudo na minha pequena vidinha. Tinha um guarda roupa completo com peças da minha fase de bebê e era trocada frequentemente pela minha empregada Nicinha.
Um dia, na casa da minha avó, o telefone tocou. Era a Nicinha, falando para a minha mãe:
– Dona, roubaram o bebê!!!!!
– Que bebê, Nicinha, tá louca? Não tenho nenhum bebê!
– A Laura, Dona! Levaram a Laura!!!!
Minha mãe não me contou absolutamente nada. Começou a fazer discretas ligações.
O que tinha acontecido era o seguinte: no meu prédio morava uma louca, doida varrida, piradinha na maionese. Seu filho também era totalmente sem parafuso, dormia toda noite no depósito de lixo do prédio (sério, não é brincadeira!!). Nesse dia a Nicinha estava trocando a roupa da Laurinha quando a campanhia tocou. Ela abriu a porta e era a louca. Ao mesmo tempo o interfone tocou. Ela pediu para a mulher louca esperar um pouco e foi atendê-lo. Era o porteiro gritando histericamente para não abrir a porta para a louca! Bom, até aí bule…  quando a Nicinha saiu da cozinha, lá se foi a louca com a Laurinha…
Nesse meio tempo eu não sei o que aconteceu direito. Só sei que, ainda sem saber de nada, cheguei no prédio e me deparei com um caminhão de bombeiros, duas viaturas da polícia, uma ambulância e uma multidão gritando “pula, pula, pula!”. Foi aí que no meio de toda a bagunça surgiu o policial correndo com um “bebê” enrolado no colo. Quando eu vi que era a Laurinha, chorei compulsivamente. A multidão aplaudia o policial enquanto ele entregava o bebê para a minha mãe.
A louca saiu direto para a ambulância e só Deus sabe que fim levou, ela e seu filho sumiram para sempre. Os policiais me contaram que ela estava colocando a Laurinha na banheira e dando mamadeira. Tiveram que arrombar a porta!
E então as viaturas foram embora, os bombeiros, a ambulância, a louca… e eu subi para casa com a incrível sensação de ter participado de um filme. Hoje não tenho mais a Laurinha, tive que tratar o trauma de me livrar dela na terapia e finalmente ceder… Mas até hoje toda a vizinhança se lembra do roubo do bebê. E há quem ainda não acredita em mim quando conto que era apenas a minha boneca!