Quem me conhece há pouco tempo não sabe muito bem com quem está lidando. Sou uma mistura assim meio surtada, meio que escolhida “divinamente” a dedo para determinadas situações. Sim, sabe aquelas histórias que quando alguém te conta você não acredita nem no mindinho que possa ter sido verdade? Pois bem… se eu contar uma dessas um dia, vocês façam-me o favor de acreditar.
Porque quando eu nasci, Deus olhou pra mim e disse “desce e arrasa” pensou “esta vai ser a minha cobaia. É com ela que eu vou testar o artíficio do até-onde-o-ser-humano-perde-a-pose”. Sim, porque com o tempo vocês vão entender que existem coisas que só acontecem comigo.
Saturday Night Live
Há alguns anos, minha tia havia ganhado alguns ingressos para o show do João Kleber. Era um sábado morto, daqueles que acabariam em “Zorra Total”, por isso resolvi colocar minhas mandíbulas para funcionarem um pouquinho (se é que é possível gargalhar no show do João Kleber, mas enfim…) Fomos em patotinha: primo, amiga (e namorada do primo), irmã, prima, mamãe, titia e eu. Sentamos num lugar razoavelmente bom, nem muito na frente, nem muito atrás. Até que chegou a hora do quadro “Namoro ou amizade”, em que a criatura imitava o Sílvio Santos.
Convenhamos: obviamente ele precisava de uma cobaia para fazer parte do quadro… Andou pelo teatro, passeando pelas cadeiras… Quando passou pelas filas por perto, eu já estava com a terrível sensação de “vai sobrar para mim”. Eis que ele veio na minha fila. Falou com a minha mãe, com a minha tia, me pulou, falou com a minha irmã, com a prima, a amiga e o primo. Notem bem: me pulou. Gente, é fato. Quando você está numa situação dessa e o cara te pula, pode ter certeza de que você está ferrado! Não adianta nem querer escorregar cadeira abaixo, ele já estava de olho em você desde a encarnação passada. É como uma flecha em neon piscando na sua cabeça: “me pegue, me pegue”… Conclusão: eu estava mesmo ferrada…
Pronto, esse seria o meu momento, meus quinze minutos de fama…. João Kleber me puxou pela mão e, com aquele terrível jeitinho de “Ahai-hihi”, me levou até o palco. Juro que não sei explicar para vocês o que passava pela minha cabeça naquele momento em que 400 pessoas sabiam o meu nome e observavam detalhadamente cada milímetro do meu corpinho subindo as escadinhas.
Por sorte, de cima do palco eu não via ninguém, tamanha era a luz na minha cara. Mas, alguém aí lembrou que esse quadro é feito com um casal?? Ããã? Ããã??? Pois bem… E que num show de humorista o meu par não seria nenhum Rodrigo Santoro?
Bom, a pior escolha da vida do João Kleber foi ter chamado meu primo para coagir nesta cena. Não, ele não foi meu par, ele foi simplesmente o cara que ESCOLHEU meu par… E como todo primo-irmão, escolheu o primeiro baianinho desdentado sentado no teatro. João Kleber, ainda com seu “ahai-hihi”, perguntou o nome do infeliz. Agora sentem – o nome do cara era Divino… Meia hora de risadas e piadinhas do tipo “caiu do céu só para você…”
E então o ser Divino subiu ao palco e sentou ao meu lado. Banguela, ele tentava conversar comigo enquanto aquela música ridícula rolava… E o que aquele homem falava, meu Deus!? Eu não entendia absolutamente nenhuma palavra cuspida entre seus dentes! Eu continuei com meus inseparáveis a-hãs, melhor saída nessas horas… Nunca imaginei estar num palco, sendo xavecada por um baianinho-banguela chamado Divino e com 400 pessoas rindo da minha cara. Mas, Deus é pai e mãe, e o quadro acabou em “amizade”. E , como se não bastasse todo o mico, na saída do teatro eu ainda tive que distribuir sorrisinhos para as crianças que me chamavam de “Milena do Divino”… Ninguém, absolutamente ninguém merece…
* Publicada no Saco de Pipoca em 29 de Abril de 2002.