Vou bombar isso aqui hoje…
Bom, tentei ficar mulata e só me rendeu muito calor, alguns litros de suor perdidos e uma leve dor de cabeça. A melanina do meu corpinho olhou pra mim e disse “não me pegue não, não, não, me deixa à vontade”, deitada numa rede em alguma das minhas células e dizendo “meu rei” no final das frases. Preguiçosa essa melanina, não quer saber de trabalhar nem à custo de cenoura.
Voltei da piscina tão branca quanto. Uma leve marquinha de biquini que, segundo minha mãe, só eu vejo.
Óbvio, também não sou retardada e uso protetor 45 no rosto e 15 no corpo. Nada menos disso. Poderia até ser uma pessoa normal e, mesmo se fosse, continuaria com meus numerozinhos. Meu pai morreu de melanoma e, se é pra me dar ao luxo do bronzeado, que seja saudável.
Já disse que queria ser mulata né.
Sempre gostei de ser assim: branquinha, bochechas vermelhas, sardas, cabelo castanho-acobreado com um leve ar de camponesa holandesa (como diria minha prima) ou um semblante de judia (como diria meu primo). Mas depois que fui morar na Inglaterra e até as velhinhas paravam na rua pra falar mal do governo pra pobre brasileira aqui, decidi ser mais latina. Tá, não que isso se decida, mas…
Eu era loira quando estava lá. Escureci o cabelo. Agora ele cresce naturalmente castanho revelando um avermelhado que eu desconhecia. Não fiquei latina, mas já tô com menos cara de anglo-saxônica.
No verão a melanina deu um oi geral. Fiquei até que moreninha. Mas se o sol for embora, melanina se esconde de um dia para o outro e eu volto à palidez.
Muito injusto tudo isso. Mamis é loira de olhos azuis (já começa a injustiça aí), mas tem muito mais melanina que eu. Vovô era italiano do sul, onde houve uma boa miscigenação com os mouros, durante a invasão. Vovô até que tinha bastante melanina e um leve “quê” de árabe, como todo calabrês.
Eu puxei vovô no cantinho dos olhos. Tenho uma tonalidade escurinha no cantinho dos olhos, quase imperceptível, denominada por mim de “herança moura”. E só. O resto da genética juro que deve ter vindo ou da pequena parte francesa da família da minha avó paterna, ou da parte misteriosa judia (que a gente jura que tem) do lado da minha avó materna.
Minha avó materna foi abandonada pela mãe quando tinha seis anos e, por isso, não sabemos muito da familia da minha bisavó. Mas minha avó era ruiva, branca e sardenta, minha tia e meu tio também são ruivos e sardentos. E todos têm uma carinha de judeu. Bom, também tem a parte da família que veio da Sérvia…. pode ter sido de lá.
Papis era branco de bochechas vermelhas, como eu. Por isso, transfiro a culpa da brancura e da bochecha para o lado francês. Très chic mis amis…
(Pausa para reflexão: gringo também tinha as bochechas mais vermelhas que já vi quando era nenê…. o que será das minhas criaturinhas quando nascerem??)
Resumindo, eu sou uma típica brasileira de origem européia. Tenho ascendência italiana (predominante), grega, austríaca, sérvia, francesa e holandesa. Nada de tupiniquim, nada de escravos africanos. Nada de melanina, nem sobrancelhas grossas, nem bocão. Nada de latina caliente. Humpf. Acho que não quero mais falar sobre isso.
